sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

tropeçando na web

Lembra 1996, quando uma das coisas mais legais pra se fazer na internet era ficar - como se dizia na época - surfando na web? Você entrava na página de dicas do Yahoo e ia descobrindo os sites da NASA, do Louvre, ou pelo Cadê descobria a página brasileira de uma banda que você gostava ou um cemitério virtual de personagens de RPG... E aí pelos links destas páginas (todo site na época tinha uma parte de links aleatórios) você ia pra outros cantos ainda mais obscuros da internet. Foi assim que eu descobri o Pokey the Penguin, só pra citar algo da época que ainda gosto até hoje.

Pois bem, descobri recentemente uma ferramenta que me trouxe de volta esse tipo de prazer. Chama-se StumbleUpon. Acho que muita gente aqui já deve conhecer, mas como nunca vi ninguém comentando, deixa eu explicar: trata-se de uma extensão do Firefox (tem tb pro IE, se vc for louco o suficiente...) que te indica sites aleatórios. Você marca lá os temas que te interessam e aperta clica em "Stumble!". A partir daí ele vai te mostrando sites, fotos, videos, blogs, flashs e você vai afirmando se gosta deles ou não. Rapidinho ele "aprende" seu gosto e vai te mandando só sites legais.

Em uma semana de uso, já vi uns 20 "tropeços" bem bacanas. Alguns deles:

Guia simples para escrever seu nome em élfico

Mistura do flicker com o google earth

Dicionário visual da lingua inglesa

Fotolog com os grafites mais legais que eu já vi na vida

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

porque não existe comunicação

- não restou uma só palavra dos amantes do templo, nem uma confidência, nem uma imagem, não é?
- ela não falava a língua dos romanos. ele não falava a língua de samaria. foi desse inferno de silêncio que veio o desejo. foi imperioso. inapelável.

e depois se extinguiu.

- dizia-se que se tratava de um amor bestial, cruel.
- acredito que sim, que se tratava de algo assim, um amor bestial, cruel. acredito que se tratava do amor, propriamente falando.

m. duras

Druken style and drug adicted melodrama.

É meloso quando se quer, e dramático.

São todas as [des]aventuras amorosas que se vão, e a ferrugem das ruas é o que deixa o amarelo nos dentes.

Eu queria deixar que o sentimento escrevesse por si só. Falasse sem intermédios da minha consciência, do meu bom ou mau senso literário e, principalmente, sem nenhuma interferência da minha noção do ridículo. Queria poder escrever como se ninguém fosse ler, nem eu mesmo. Especialmente eu mesmo. Queria não ler o que escrevo para que meu envergonhado e iludido desejo de parecer interessante e inteligente não censurasse meus risos nem segurasse meu choro.

Escreveria então sobre as coisas que realmente precisam ser ditas, e que cada dia que passa fica mais difícil dizer. Sobre como eu não acredito em uma só palavra do que me dizem, e que eu sei que nada vai ficar bem no final. Sobre como eu ando fingindo que não amo as pessoas que amo e que gosto de pessoas que não gosto. Eu contaria a saudade sofrida que sinto das pessoas que me fazem falta e mandaria embora para sempre as pessoas que me irritam. Eu faria entender como eu sinto saudade de gente que vejo todos os dias e como me irritam pessoas que eu nunca conheci. Eu desejaria a morte de muitas pessoas, a destruição de muitos livros, a invasão de muitas privacidades, a queda de muitos aviões, o pesadelo de muitos sonhos, a queima de muitas cidades e o fim de muitos amores.

Eu rechearia meu conto-poema de coisas sórdidas que não ouso dizer e de muitas coisas felizes que evito falar. Faria dramas sentimentais, apontaria vários dedos nas caras e diria: a culpa é sua, sintam-se culpados, sintam-se nojentos, sintam-se horríveis. Vocês são horríveis e sabem que são. Pedem desculpas por coisas que ainda não fizeram para depois dizerem que não queriam ter feito.

Eu não respeitaria a dor de ninguém. Não me importaria se faz parte da sua natureza ser escroto e não entenderia nunca os erros que as pessoas cometem.

Eu diria que quero um filho nascido no dia quinze de fevereiro e uma filha nascida no dia dezoito de abril, e eu não explicaria por que. Eu diria que odeio crianças e que elas deveriam todas morrer sufocadas com suas vozes insuportáveis.

Eu seria capaz de descrever com precisão tudo aquilo que se passa dentro de mim, e como um artesão tecer a mais delicada e intricada teia de pensamentos e sentimentos que fluiriam como água, e vocês beberiam dessa água. Cairiam de vez todas as mentiras que ando vivendo, mortes que ando pensando, ilusões que ando alimentando, frustrações que ando sofrendo e bobagens que ando escrevendo. Todos veriam que eu sou absolutamente incapaz de não amar e o ódio profundo que isso me traz.

Mas eu não sei fazer isso.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Vagas para estagiários.

nessa hora eu queria estrar fazendo graduação em animação, ou algo assim.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Rock n Roll Suicide

Tocava alguma coisa ruim. Uma dessas bases eletrônicas ridículas com uma mulher desafinada cantando por cima. Acho que foi o cheiro de cigarro que me jogou nessa viagem amarga e desesperada. Talvez tenha sido o tédio.

Sabe, você vê aquelas pessoas felizes dançando como idiotas e se esfregando como animais no cio, e ainda assim não consegue pensar em nada bonito, sexy ou interessante. É só escuro. Acho que o melhor lugar para se matar fantasmas do passado é uma boate cheia de gente.

Fantasmas de um passado distante e os tormentos das escolhas infelizes de um passado recente. Você vê aquelas pessoas com quem costumava se divertir. Aquela menina que até pouco tempo atrás seria a mãe dos seus filhos, a mulher com quem você jurava que queria passar o resto dos seus dias, e ainda assim não pensa em nenhuma das coisas que deveria estar pensando. Você vê que na verdade a fumaça do cigarro é a coisa mais interessante à sua volta, e se pergunta se você estava bêbado quando pensou que aquilo ali, aquelas pessoas e aquele lugar poderiam trazer qualquer tipo de satisfação ou prazer. Amizade, felicidade, conforto, amor e paixão são coisas tão distantes que você se pergunta se de fato existem. Você quer que um raio lhe parta ao meio. Você quer ser burro, fútil, ignorante e vulgar como as outras pessoas. Você quer fingir como elas que tudo está bem, que a noite é sua amiga e que ainda existe alguma possibilidade. Esperança, é isso que você quer.

É aí que você percebe que o problema não é o lugar. Se fosse, já teria ido embora. O problema é o amontoado de cicatrizes que você colheu nas batalhas que lutou. Você chama essas cicatrizes de experiência, sabedoria, ou sabe-se lá o que, mas no fundo sabe que são apenas cicatrizes. Você vê que as suas cicatrizes o transformaram em uma pessoa cínica, amarga e descrente. Você entende que não venceu as batalhas, que morreu em alguma delas e que tudo agora não passa de uma ilusão que você não é idiota o bastante para sustentar por muito tempo. Queria ser, mas não é.

“If you are so cleaver, why are you on your own tonight?
And if you are so terribly good looking, why will you sleep alone tonight?”

Você sente inveja de todas as pessoas que morreram antes de você. É por que hoje é uma noite como todas as outras, é por isso que você está sozinho. E você chora.

Você reza para um Deus que você não acredita que exista. Você quer que ele te faça dormir para nunca mais acordar. Espera que o sono tenha com você a gentileza e a doçura que a vida não teve. Quer que o sonho te leve para longe, para a felicidade que deixou para trás. Para as montanhas de açúcar que escalava quando era criança, para o colo que ofereciam quando você chorava, para o céu que nunca mais foi tão azul, e para o mar que te dava medo quando a água chegava no pescoço. Você nunca mais viu o mar. Talvez seja isso. Isso e a fumaça do cigarro.

Você se lembra daquela vez que seu avô te ajudou a subir o telhado e, lá de cima, você viu um sapo parado no quintal. Você lembra de ter jogado uma pedra no sapo, e daquela ter sido sua primeira experiência com a morte. Você não sabe por que é que ainda se lembra daquilo, e muito menos por que é que se lembrou justamente agora. Você sabe que fazia calor, seu avô usava óculos e o quintal não tinha aquela grama verdinha e bem cuidada dos quintais que aparecem em filmes. Era terra, com alguns pedacinhos de grama espalhados aqui e acolá, como os quintais de verdade costumam ser. Você lembra do nó na garganta que te deu compreender a diferença entre uma coisa viva e uma coisa morta, e o peso da consciência de que aquilo que você fez nunca mais poderia ser desfeito. Nunca pode. lembra de ter jogado uma pedra no sapo, e daquela ter sido a primeira experirazer qualquer tipo de satis

Por um momento as luzes te chamam a atenção. Você pensa que elas são suficientemente feias para que pessoas de mau gosto se divirtam com elas. Você lembra que um dia já gostou daquele lugar, mas não sabe bem ao certo por que. Talvez seja por que na época você ainda gostava de alguma coisa.

Toca alguma coisa quase razoável agora, e você sorri. Um desses rockinhos de boate que as pessoas preguiçosas demais para escutar rock de verdade gostam de ouvir. É ruim, mas não te ofende.

Você já está do lado de fora. O cheiro frio da madrugada se mistura com alguma coisa amarga na sua garganta.

Você lembra de ter ido ao parque quando era pequeno. As árvores, os patos, os brinquedos e toda aquela alegria ingênua e infantil. As gotas de água fria que pingavam no seu rosto quando alguém passava remando um daqueles barquinhos de madeira por perto.

É uma lembrança feliz. Nada mais triste que uma lembrança feliz em uma noite miserável. Uma vida miserável.

E é então que você vai. Sua vida não passa diante dos seus olhos, e você não se sente mais feliz do que antes. Você não pensa em ninguém que queria ter visto pela ultima vez e nem se arrepende antes do fim. Não pensa na família e nem se nos dias em que foi feliz. Não sente cheiro de flores e não vê arco-íris nenhum. Não é quente nem confortável. É só escuro.

Que fique bem claro que você não sou eu. É o meu eu lírico.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Poema em Linhas Tortas

(apud Fernando "Haroldão" Pessoa)

Nunca encontro ninguém que tenha feito uma cagada.
Todo mundo que eu conheço é sempre o fodão em tudo.

E eu, que sendo alto, sou baixo, e tantas vezes nojento, tantas vezes escroto,
irresponsavelmente relapso, indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho publicamente enfiado os pés nas jacas da sociedade,
Que tenho sido um babaca, mesquinho, infantil e ridículo,
Que tenho sofrido calado
e quando não estou calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às pessoas mais deprimentes,
Eu, que tenho sido assediado pelos homens e mulheres do limbo,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, bebendo dinheiro até não sobrar nada,
Eu, que, pressentindo a briga, me escondo atrás do bar com o copo na mão
como num filme do Oscarito;
Eu, que tenho ignorado as pequenas coisas da vida,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca desmaiou sobre o próprio vômito.
Nunca foi expulso, nunca foi demitido, chutado, chifrado, roubado, enganado.
Nunca cagou sangue, nunca desmaiou, ou caiu, se cortou, se rasgou, se fudeu.
Nunca foi senão príncipe - e nunca gauche - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não! São todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que já foi escroto?

Estou farto de fotologgers!
Posando e sorrindo para a posteridade virtual.
Fazendo o V com os dedinhos que aprenderam com a Giselle.

Onde é que há gente normal nesse mundo?
Quer dizer então que só eu sou errado sobre a Terra?

Orgulho não é veneno, e é gostoso de engolir.
O importante é que emoções eu bebi.