quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Rock

Tell me baby: can you do the twist?

Tédio. Denso como pedra e escuro como o frio.

We´re gonna rock this town, rock it inside out!

Depressivamente agitado.

Twist and shout.

Sem twist, e o grito é pura falta do que fazer.

...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

I Wanna do Real Bad Things To You.

Mesas de sinuca, cerveja quente e barata. Motoqueiros mal encarados apostando dinheiro em um jogo de dardos, garçonetes peitudas de mini saia. Muita fumaça, brigas e red-necks comendo o prato do dia.

É em um bar assim, beira de estrada americana, que imagino Jace Everett tocando na jukebox.



Country, blues, folk e rock, influenciado por músicas da época em que ainda existia lugar pra masculinidade no mundo. Finíssimo, descendente direto de caras como Waylon Jennings e Willie Nelson. E essa música tem a melhor cantada da história: "I wanna do real bad things to you."

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Ciência do homem

Uma coisa que muito me irrita na vida é a adoração que pessoas tem por certas idéias, títulos ou conceitos. Atualmente tem me irritado muito, cada vez mais, o apego patético que os colegas de academia sentem pela palavra "ciência".

Todo mundo quer ser cientista. Eu até entendo como isso começou, afinal de contas, quando inventaram as "ciências humanas", se chamar de cientista era o gás da Coca Cola, por que todo mundo achava ciência uma coisa legal pra caramba, e pra ganhar respeito na acadêmia todo mundo tinha que fingir que se utililizava do "método científico" (seja lá que método é esse). Ai ficou métodologia pra ca, cientificismo pra lá, e assim foi indo. 

Mas hoje em dia ninguém mais acha graça em cientista, daí me causa uma preguiça bovina essa mania que recorre nas universidades do mundo inteiro de classificar uma idéia como melhor ou pior de acordo com o "grau de cientificismo dela" (que por si só já é um conceito bizarro).

Longe de mim propor o abandono ao método, qualquer que seja. Longe de mim querer invalidar qualquer forma de construção de qualquer tipo de conhecimento, só o que acho denso e até mesmo pueril, é essa idéia provinciana de que se alguma idéia foi gerada fora dos "moldes científicos" ela é menos aceitável na academia.

Discutindo recentemente, com um pessoal da antroplogia (que sinceramente tem sido o melhor pessoal pra se discutir), uma senhora muito respeitada, em meio ao seu discurso, disse alguma coisa do tipo "eu até achei as idéias do texto muito interessantes, parece pertinente, mas não foi demonstrado nenhum rigor científico da produção do texto, então não trouxe aqui para o debate" Sendo até meio chato, e um pouco agressivo (que novidade, né?), levantei a mão e perguntei: "e daí?"  Sem dar tempo pra resposta, comecei a explicar que o conhecimento moderno não é formado apenas de conclusões extraídas de processos científicos, e que afirmar uma bobagem desse tamanho é a mesma coisa que afirmar que a obra do Shakespeare exerce influência menor no pensamendo humano do que a obra de Newton, por exemplo.

Se a ciência não da conta das questões humanas, não são as questões que devem ser reformuladas, mas o método é que deve ser modificado. É burro tentar tratar de questões conteporâneas com métodos ultrapassadas. 

Se o método científico funciona, use-o, se não quiser usa-lo, use outro! Use o que achar melhor. Se as idéias forem boas, se o texto for pertinente, pouco importa como foi feito. E se algum cientista quiser usar o método deles pra provar que o conteúdo do texto não pode ser considerado correto, ótimo. Só o que não da mais é ver esse tanto de pretenso intelectual, filhos da excrecência arcaica do pensamento moderno, tirar o mérito de obras simplesmente por não apresentarem um método com o qual seus cérebros limitados dão conta de aprender.

Não faz a menor diferença a maneira que um texto foi construido se ele de fato influencia a organização social. O ambiente acadêmico já é suficientemente denso e limitado para que se limite mais ainda. Qualquer filósofo conteporâneo, minimanente lúcido, já entendeu que não são nem mais as respostas que estão mudando, mas são as próprias perguntas que não fazem mais sentido. Em uma época onde o conhecimento depende muito mais da relação entre os conceitos criados pela linguagem, é patético usar como argumento o jargão: "ah, mas isso não é científico."

Se se pode dizer que o papel da universidade é a criação de um conhecimento, dentro de um determinado universo ontológico, é ridículo acreditar que o mesmo método usado pela filosofia política há 200 anos atrás ainda deve ser o único a ser aceito hoje.

É por causa dessa e outras pataquadas que o estudante universitário ainda está se perguntando "qual o argumento de validade da norma" ou "quais as condições idéias de discurso".

Se vocês pararem de tomar rivotril e abrirem os olhos vão ver que não são só as respostas que mudaram, mas as perguntas também.

Então, por favor, PAREM DE ENCHER O MEU SACO falando de método científico, e PAREM DE BRINCAR DE INTELECTUAL. Parem de repetir o que escutam dos seus orientadores, por que eles, por sua vez, tem o costume de repetir o que ouviram de seus orientadores. 

Duzentos anos depois, só o que vocês estão fazendo é confirmar o que sinto há um tempo: acadêmico serve mesmo é pra beber cerveja em boteco.

E vai ser uma puta cerveja chata dos infernos se alguém começar a falar de filosofia. 

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Mixtape: Nos Tempos da Malandragem.

Admito que terminei meio nas coxas, afinal de contas malandro não gosta de trabalhar.

Mixtape de músicas dos malandros de outrora. Gente que veio ao mundo a passeio mas deu muitro trabalho antes de ir embora!


Nos tempos da Malandragem (31min-27seg):


Taí, pra quem quiser ouvir. Só clicar na imagem, ou clicar aqui!

sábado, 1 de novembro de 2008

Música e Letra.

O corona foi acusado, com real justeza, de ter aos poucos se tornado um blog inativo. Acusado por este que ora escreve (ora ou hora?), diga-se de passagem, e que engole avinagrado uma parcela de culpa de tal inatividade. Parcela completa, digamos, vez que é atualmente o único autor listado ali à direita, e talvez o grande culpado da diáspora dos segunda-ferisitas que o acompanhavam. Assim sendo cai como chuva em seus ombros a responsabilidade de, se possível, reativa-lo e, sendo possível, colocar de vez a pedra que marca o fim de uma publicação virtual.

A segunda opção é sem dúvida apetitosamente mais fácil, mas o autor já confidenciou que sente um estranho apego emocional a esse espaço virtual, e como uma mãe que ainda luta pelo filho morto, fecha os olhos à dura realidade da impossibilidade de sobrevivência.

E não só por ele. Na verdade, dos textos que aqui ainda vivem, os dele são os que menos o importam. São os textos dos demais autores - alguns deles geniais, outros apenas mediocres, e alguns ainda baixo da média - que o fazem continuar tentando dar sopros e socos de vida ao blog.
Em primeiro lugar por que para que um texto seja apagado é de bom tom que o seu próprio autor aperte o botão da ultima facada, e em segundo lugar por que os textos, assim como todo o corona, trazem memórias que seu derradeiro autor quer preservar. Memórias de uma bela fase na vida de jovens adultos, amigos entre si, escrevendo sobre seus livros, discos, suas dores e dessabores. Entre amigos. Bons e saudosos amigos. Não ousa, o autor, matar essas lembranças.

Sim, esse ultimo é um motivo egoista.

E é por isso que vai haver mais uma (ou várias) ultima tentativa.

O que o derradeiro autor escreva sobre música com cada vez mais frequência, vez que isso resume 90% da matéria que sua análise consciência percebem como alimento, mas não quer o auto transormar o Corona em um blog de resenha de discos. Eis o que fará, então:

Dia sim dia não, começando amanhã, postará um conto inspirado em uma de suas 20 bandas DE ROCK prediletas. Mais que inspirado, o texto e a banda deverão fazer sentido entre si, e o texto será escrito durante a audição de um dos discos da banda.

Mas não será um texto sobre o disco, uma crítica ou uma resenha. Serão contos fictícios nos quais os discos nem serão mencionados. A idéia é transpor aos textos a "zeitgeist" das bandas selecionadas. Ao final dos textos, serão disponibilizado os discos ouvidos pelo autor durante o processo de crianção do conto.

Conhecendo o autor como todos conhecemos, vamos fazer de vez a lista pela qual deverá se debruçar, pois sabemos que caso contrário era mudaria cada vez que acordasse e mais umas duas vezes antes de dormir.

Sendo assim, aí vai, serão apenas bandas de Rock dessa vez. E talvez não sejam as melhores, mas são suas preferidas, e o motivo disso só poderemos entender uma vez começado os textos, que seguirão da ordem, mas serão absolutamente pessoais, e talvez farão sentido para muito poucos.

1- Sonic Youth



2- Pixies
2- Velvet Underground
2- Nirvana

3- David Bowie

4- Beatles
4- Minuteman
4- The Stooges
4- Kinks
4-Clash
4- The Sonics

5- My Bloody Valentine
5- James Chance and The Contortions

6- The Jesus and Mary Chain
6- Ramones

7- Detroit Cobras
7- Beat Happening
7- The Bellrays
8- Rage Against The Machine
8- Portishead

Amanhã o esforço começa!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Top 10 motivos da insônia.

Achei que talvez fosse interessante enumerar os motivos da minha insônia, as razões pelas quais hoje em dia não consigo mais dormir como uma pessoa normal. Preste atenção no verbo "achei", pois não é estilo literário, é que eu realmente parei de achar que isso seria interessante há mais ou menos quarenta e cinco minutos atrás, e só vou fazê-lo por que nesses quarenta e cinco minutos eu fiz tudo de minimamente interessante que restava para fazer nessa noite sem sono.

Fora de ordem:

1- Eu tinha muito medo de fantasmas quando era pequeno, e costumava ficar "vigiando" a porta do quarto. Achava que caso algum fantasma entrasse por ela eu poderia gritar pelo meu pai antes que ele conseguisse puxar o meu pé (o fantasma, não o meu pai).

2- Nunca entrou nenhum fantasma no meu quarto quando eu era pequeno. As expectativas foram só aumentando.

3- ICQ. Não existia internet a cabo na época. Quem tem entre 18 e 33 anos definitivamente sabe o que isso quer dizer.

4- Fluoxetina. Novamente, quem tem entre 18 e 33 anos também sabe muito bem o que isso quer dizer.

5- Eu tenho entre 18 e 33 anos. Pra falar a verdade, eu tenho a medida quase exata entre 18 e 33 anos.

6- Nicotina.

7- Uma incrível facilidade para desistir das coisas. Desisto de dormir quando parece difícil, do mesmo jeito que desisti de ser astronauta, jogador de futebol, piloto de Formula 1. Desisto todos os dias dos planos que faço nas noites que não durmo, como começar um regime ou parar de fumar. Nesse caso eu não sei dizer bem o que veio antes. Eu gostaria de sabe se todo insône é um desistente nato, e se ele tem insônia por que desiste de dormir ou se, na verdade, ele tem o costume de desistir das coisas por que passa o dia inteiro muito cansado.

8- Uma estranha fixação por tetos. Eu realmente gosto de ficar olhando pro teto, especialmente o do meu quarto e das minhas antigas salas de aula.

9- Acho cool ter insônia. Nos filmes e livros que eu costumo ler as pessoas legais sempre tem o costume de ter insônia. É recorrente também, entre pessoas de 18 a 33 anos, conversas sobre medicamentos e terapias contra insônia e depressão. Tenho até uns amigos que morrem de inveja, por que dormem muito bem, estão sempre felizes e descansados, mas durante a noite ficam de fora do assunto.

10- Eu ainda morro de medo de fantasmas. Só não fico mais olhando pra porta por que eu sei que se gritar ninguém chega em tempo. Hoje em dia prefiro olhar para o teto e fingir que não tenho medo de nada.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Vive La Fetê - Belo Horizonte/Brasil 2008

Não tinha altas expectativas, mas ainda assim foi decepcionante. Logo de cara, nos primeiros dez minutos de show, queimaram as três melhores músicas: Vivê La Fetê, Hot Shot (que na minha opinião é a única música REALMENTE boa da banda) e La Verite. (se não me engano foram as três primeiras músicas do show). E a banda não é suficientemente consistente pra segurar um show de uma hora e meia. É o tipo de banda que a gente fica esperando passar aquele longo e maçante intervalo entre um hit e outro, e como não tinha mais hit pra tocar, nem fazia sentido continuar naquele ambiente ruim que foi a Roxy hoje. Exageradamente cheio, e 99% do público eram pessoas estranhas e bem penteadas, que pareciam nunca nem ter ouvido falar na banda.
 
A mocinha tem uma boa presença de palco, o resto da banda também. Disso eu tenho que admitir que gostei. Seria um bom show se tivessem tomado cuidado com o set list. A vocalista é uma senhora de quase quarenta anos lindíssima e super animada, e com uma voz deliciosa mesmo durante o show, mas acho que foi tão mal pensado e arquitetado o set list que isso não foi o bastante pra convencer.  


Não chegou a ser horrível, mas de zero a dez, dou nota quatro. E isso por que estou numa semana de bom humor e sendo bonzinho com a banda.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Descendents - Milo Goes To College

Milo Goes To College é o pirmeiro álbum da banda punk californiana Descendents, lançado um ano após o FAT EP. Se o tal EP era uma disparada de 6 músicas em 6 minutos, Milo Goes To College já apresenta algumas das características que fariam da banda uma das mais respeitadas na cena punk da costa oeste americana: músicas um tanto mais melódicas, letras rebeldes com uma proposital inocência juvenil (caso de "Parents" e "Suburban Home"), e ao mesmo tempo pavimentando o caminho para que nerds de futuras gerações (alguém pensou em Weezer?) tivessem o seu espaço garantido no rock (vide as letras de "I'm Not A Loser" e "Hope").





Em resumo, é uma das bandas mais legais de todos os tempos, e aqui vai a música que eu mais gosto deste álbum:


Hope - Descendents

Texto de autoria do ex-Corona Tulio Borges, retirado na integra do ultimo News Letter Mary in Hell.


O site Pirate Bay oferece o download do disco na integra, via torrent. Clique na imagem da capa para fazer o download


quarta-feira, 25 de junho de 2008

Era pra ser um anagrama

Olha sereno,
Eu sei que o ponto é sem nó, mas o ponto é que esse nó não desata.
Sereno, eu entendo que a chuva é fina e a fineza é de graça, mas é sem graça e, sabemos, é só.

E se o sereno esfria e se a chuva aperta, de perto fica ainda mais certo.
Seja sereno, calmo, porque se se percebe a respiração, passa.

O mundo é gazeta, é gazela e é tombola. Na tombola ele gira, de noite e de dia. E se de dia e noite é tombola, a respiração faz girar. Primeiro forte, depois calmo, sereno.

Olha sereno, não se apresse. Saiba que o certo nem de perto é seguro, não tem precisão. Eu sei do apelo e do seu apreço

E eles verão, de certo, que a Graça é delicada, é fina e que o entendimento é sereno.
Eu sei é que no final das contas o ponto se trata de nós. O ponto dos nós. O nó dos pontos. Que não desata.
Sereno, olha!

domingo, 15 de junho de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro

Capítulo 1. Parte 3.

De tudo que dava muito dinheiro nessa cidade só o que sobrou foi o Carnaval. Ninguém sabe bem ao certo como foi que isso aconteceu, mas há pelo menos cinquenta anos atrás as pessoas do país inteiro começaram a achar que deviam vir para as festas e feiras locais, e desde então elas nunca mais pararam. A cidade quase dobra de tamanho na época, é um saco. Quando tudo mais por aqui começou a desmoronar, ao contrário do que se imaginava, a coisa ficou ainda maior, e à medida que a cidade se arruinava foi só aumentando. Adolescentes procurando por drogas baratas, famílias levando crianças aos circos, daminhas procurando por novos maridos, velhos buscando prostituição infantil, traficantes contando com a incopetência da polícia e ricaços procurando por esposas bonitas. A grana não para de entrar, e é muita grana nisso tudo. Donos de hoteis, prostitutas, velhas donas de pensões, farmácias, traficantes, restaurantes, taxistas, políciais e juizes corruptos, a prefeitura, o prefeito e basicamente todo mundo que tem alguma coisa pra vender só ganham dinheiro de verdade nesses cinco dias do ano. E é tudo isso controlado pelo sindicato dos palhaços.

Quem manda na cidade é o sindicato, e quem manda no sindicato é o Emboabinha. O palhaço Emboabinha é um sujeito de quase dois metros de altura, nariz redondo e vermelho, cabelo laranja e um sorriso sustentado por maquiagem no rosto. Maquiagem e cocaína, claro. O girassol espetado no casaco, os sapatos enormes e a calça número 84 atachada em um suspensório são seu uniforme, e seus dezoito capangas nunca o perdem de vista. É facil seguir um homem assim, e eles o seguem por toda parte em um único fusca verde limão. Ninguém sabe direito quantos anos ele tem, muito menos de onde veio. "Emboaba" provavelmente não é seu nome de batismo, e fica bem difícil investigar um cara que não tem nome nem rosto. Além disso ele tem olhos e ouvidos pela cidade inteira, e quando alguém procura saber qualquer coisa sobre ele seus dedos entram em ação. Alcaçam toda a extensão da cidade, dos mais ricos aos mais pobres, dos políticos aos marginais, e seja entregando um bolo de notas verdinhas, seja puxando o gatilho de um 38, fazem qualquer curioso deixar de lado o pecado que matou o gato. Gatos morrem rápido em Ribeiro.

O Boris, como quase todo mundo nesse maldito lugar, costuma trabalhar para o Emboabinha. Existem dois tipos de capangas: os maus e os maus pra caralho. Quando você quer um trabalho sujo bem feito, você contrata os do segundo tipo, e entre os maus pra caralho, o Boris é o que há de melhor.

Quando você cresce em uma cidade como Ribeiro vê muitas coisas que te assustam. Por aqui os pacifistas são violentos e os psicopatas são sempre absolutamente brutais, e se você não é um dos poucos que nasce com grana, é o seu medo que te deixa vivo. É ele que te deixa longe de encrencas, e é ele que te diz que o sujeito parado na esquina está arrumadinho demais pra ser um policial de verdade. O uniforme está muito bem engomado, e os sapatos dele valem mais do que um mês de soldo da polícia, e mesmo com as propinas um tira tem coisas mais importantes pra fazer com a pouca grana que ganha do que comprar calçados italianos. Detalhes, está tudo nos detalhes. Assim que a moça sai pela porta do prédio, levando com ela suas lindas pernas para dentro de um taxi, ele entra. Por sorte uma coisa que aprendi nesse ramo é que sempre se deve olhar pela janela quando sai um cliente, especialmente quando esse cliente é uma lora com um traseiro tão bonito. Por um momento fico feliz, achando que tirei a sorte grande, pois esse idiota vai entrar aqui sem suspeitar que o estou esperando, e talvez ele me poupe uma grande quantidade de trabalho.

Mal dou tempo do cara sair do elevador e deixo ele sentir na nuca o cano da minha Eagle. Quietinho, babaca, você não é da polícia, e é bom começar a pensar em um bom motivo pra que eu não espalhe seus miolos aqui mesmo nesse chão imundo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro.

Capítulo 1. Parte 2

Nada pareceu fazer sentido no que aquela moça disse, mas sua história era quase boa o bastante para tirar minha atenção daquelas pernas. Quase. Pedi que explicasse novamente, e dessa vez me esforcei para prestar mais atenção nos detalhes do que dizia do que na maneira sensual com que seus lábios se moviam. Detalhes. Tudo está sempre nos detalhes. Ela disse que aceitava um whiskey e acendeu um cigarro.

Boris é um daqueles caras que não se vê todo dia: sua família veio da Rússia ainda há poucas gerações, e isso por si só já faz dele um sujeito bem peculiar. Careca, branco como a neve, sempre reclamando do frio e com uma cicatriz que vai do queixo ao canto da boca. Além disso, costuma-se dizer que o filho da puta é mau como o capeta, e quando Russos cismam de ser maus, bom, é merda.

Também trabalha sob o título de detetive particular, mas Boris é muito mais que isso, - bom, todos somos, mas nem todos somos assassinos de aluguel - o Russo faz qualquer tipo de trabalho, para qualquer tipo de patrão. Outro dia uma moça muito simpática e sem dinheiro, uma dessas ex-daminhas da alta sociedade, o contratou para pegar seu ex-marido, que andava por aí exibindo sua nova - dezessete anos de idade - esposa pela cidade. Boris fez o serviço. Pegou o sujeito e o deixou, digamos, inutilizado para uma mulher. Só de farra deu também uns tapas na ninfeta que estava com o cara, e ela não tinha ainda dezoito anos de idade. Mas quem levou a pior na história toda foi a ex-mulher. Ninguém nunca mais a viu em público, mas dizem que está completamente desfigurada desde que o maldito cossaco descobriu que não ia receber um centavo pelo trabalho bem feito.

Não estou defendendo o desgraçado, esse tipo de coisa não se faz com uma mulher por nada nesse mundo, mas por outro lado todo mundo deveria saber que você não pode contratar o Boris à menos que tenha muito dinheiro para paga-lo depois.

Foi a lora dizendo esse nome que me chamou atenção. Sabia que era sério, e sabia que era merda. Não que eu tivesse medo do cara, mas é que eu não sou esse tipo de detetive, esse que você contrata pra bater em alguém, e com ele nada se resolve na conversa. Russo quando cisma de ser mau, porra, é merda.

Mas a moça parecia sincera. Não é fácil mentir pra um cara como eu, e ela não estava nem mesmo tentando. Se alguém não a ajudasse, ela ia morrer, e não se pode deixar uma moça daquelas morrer. Não com aquelas pernas, não com aqueles olhos. Não sei se ela já conhecia a minha fama, ou se foi pura concidência, mas se eu tenho um ponto fraco, sem dúvida é esse: as moças.

Se eu quisesse ajudar a moça, ia ter que chegar ao fundo disso tudo. Pra chegar ao fundo disso tudo, tinha que passar pelo Russo, e eu não tenho nem de perto a grana que se gasta para suborna-lo.

Merda, ia ter que brigar com o Boris, e o Boris é mau pra caralho.

domingo, 8 de junho de 2008

Highlander, O Guerreiro Imortal (review)


Outro dia me falaram que a melhor forma de fazer o blog "bombar" é fazer uma análise de algum cd ou filme que está "bombando" nesse momento.
Como todos queremos o "bombamento" cada dia mais intenso aqui neste espaço, não me ausentarei de usar essa formidavel fórmula de sucesso.
O filme da vez é o grandioso Highlander, recem lançado, logo ali, em 1986. Confesso que vi o filme ontem, 3 da manhã, morrendo de sono, portanto, só assisti a primeira meia hora de filme e super desatento.
O filme começa (musica do queen) com o critofer lambert num estádio assistindo uma luta livre daquelas estilo super cats (coisa de gringo...). Vendo a pancadaria, ele começa a se lembrar da época que ele era um guerreiro escoces numa guerra dos macloud contra um outro clã que não me lembro o nome (Mais musica do queen).
Aparentemente entediado com a luta, ele resolve descer para a garagem e encontra um camarada de terno e gravata segurando uma espada na mão. Depois eu viria a descobrir que a espada era de toledo e que valia uns 1 milhão de dolares.
Bom, ele saca a sua propria espada (sim, ele carregava uma espada quando ia assistir supercats) e a pancadaria começa.
Naturalmente, cristofer ganha e corta a cabeça do rapaz. Raios e vidros quebrando, ele agora é dono dos poderes do cara que ele acabou de matar.
Com toda a destruição (tinha uns 20 carros destruidos só no processo de download dos poderes do outro cara), cristofer decide jogar fora a espada e sair com o carro em disparada.
Ele não vai longe. Mal cristofer sai da garagem, ele é cercado por umas 4 viaturas e vários policiais apontando armas pra ele. Ele dá um soco num policial, mas acaba se rendendo.
Na delegacia, depois de uma conversa de 15 minutos os caras vão e liberam ele.
Aí é brincadeira. O sujeito é flagrado saindo fugido da cena de um homicídio bizarro em que a vítima teve sua cabeça cortada, agride um policial e ainda é solto depois de 15 minutos de conversa?? E o melhor é tinha uma mulherzinha na equipe da polícia que era da parte de "forensics" - do tipo CSI.
Imaginemos a análise Grisson dela pro chefe de polícia:
Bom, a vítima aparentemente teve sua cabeça cortada, o que liberou uma grande descarga elétrica, numa velocidade de 14.4 kbytes por segundo (po, 1986) e portanto eu concluo que o assassino é o único suspeito: o carinha que vcs flagraram tentando fugir da cena do crime!
Bom, a partir desse momento a minha memoria já nao é tao precisa assim. Lembro de alguns flashes com o sean conery, mas nada demais... Pois é, o sean connery está nesse filme.
Pra finalizar com chave de ouro, abuso e uso do direito de usar os tags mais populares pra esse post! Agora sim vamos bombar!!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Ócio.

Hoje foi um dia mais ou menos vazio no trabalho. Nenhum cliente novo, poucos prazos vencendo e apenas uma reunião ao longo do dia. São dias como esse que me fazem continuar por aqui.

Aproveitei as horas vagas para fazer uma das coisas que faço melhor: pensar sobre assuntos absolutamente aleatórios, e enquanto fazia isso me dediquei à pensar sobre uma coisa que disse uma amiga, ainda esse sábado. Ela é uma mocinha muito bonita - pelo menos eu acho -, que disse que prefere namorar com homens "não bonitos".

Acho que na hora eu fiz algum comentário brincalhão, mas foi só agora que me ocorreu que isso é a base da organização social em todo o mundo nos dias de hoje.

Explico.

Existem dois tipos de homens: os superficiais e os muito superficiais. É claro que nem todo homem pode ser um superficial bem sucedido, por que afinal de contas não existem mulheres bonitas para todos - digo, bonitas de verdade, sem essa bobagem de beleza interior - e assim alguns são obrigados a se contentar com meninas divertidas, inteligentes e bem humoradas. Mas eu me recuso, se me virem com uma menina legal podem separar que é briga! Desgraçado daquele que, depois de muita derrota, entrega os pontos e não se preocupa mais com nada. São esses que se casam com as "feias chatas".

Um outro assunto que também me passou pela mente foi o quão difícil deve ser a vida de um anão. Aqui mesmo, no prédio onde eu trabalho, um anão que desejasse chegar ao décimo oitavo andar teria que usar as escadas, ou no mínimo esperar que alguém alto o suficiente para alcançar o ultimo botão do elevador aparecesse.

- Bom dia.
- Ahn?
- Oi, aqui embaixo...
- Oh, bom dia... Me desculpe, não havia visto o senhor aí.
- Tudo bem. Será que o senhor podia fazer a gentileza de me acompanhar ao elevador? É que preciso ir ao décimo oitavo, e ando com uma lordose que doi muito quando subo escadas...

Seria uma situação bem desagradável. Isso sem falar nas óbvias limitações profissionais.

- Mas pai, eu tenho certeza que nasci pra jogar basquete.
- Não meu filho, você vai ter que fazer medicina!

E ainda mais importante, pior que viver em uma sociedade onde os elevadores não são preparados para você, os hoteis te deixam com frio (já repararam que as cobertas sempre ficam nas prateleiras mais altas do armário?) e o mundo dos esportes te rejeita, muito pior que tudo isso, é viver em uma sociedade superficial. Mulheres bonitas, em geral, gostam de homens altos. Talvez seja algum instinto ancestral, talvez seja essa idéia boba de que casais devem ter altura compatível ou talvez seja apenas o medo de ouvir a frase "parabéns, você é a mais nova mamãe de um menino saudável de 12 cm", mas em geral costumo ver a maioria das mulheres bonitas com homens altos.

Vou perguntar para a minha amiga se ela já namorou um anão.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Weezer

O mais legal do Weezer, na minha opinião, é que os integrantes nunca pareceram muito preocupados em ser legais. Os caras são geeks, e eles gostam disso. A banda surgiu de um bando de nerds que resolveu montar uma banda simples e direta, colocando nas músicas todo aquele enorme leque de influências que têm, justamente por que são nerds e geeks da música (em especial o "lider" da banda, Rivers Cuomo). Salvo as devidas proporções, me lembra a galera do Minuteman, só que ao contrário: enquanto Minuteman foi uma banda que nunca fez esforço nenhum para parecer com tudo que fazia sucesso na época, Weezer é uma banda que parece não fazer nenhum tipo de esforço para parecer diferente.

É uma banda bem californiana. Os caras vão e voltam, arrumam outras bandas, entram pra faculdade, saem da faculdade, desmontam a banda, montam de novo, fazem discos diferentes, experimentam coisas novas e fazem tudo de um jeito que parece realmente muito pouco profissional. E isso é muito legal! Combina muito bem com a simplicidade e a despretenciosidade dos discos da banda.

Até mesmo o criticado Pinkertown, que na eu na verdade acho um disco muito bom, não é tão pretensioso ou tão indie quanto costumam acusa-lo de ser.



Esse disco novo, "The Red Album", é muito legal, e o clipe novo é mais legal ainda. Não vou fazer nenhuma crítica aqui, escutem vocês mesmos. Quem quiser baixar o disco é só clicar aqui ou na foto do disco, e quem quiser ver o clipe, assista aqui.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Arte se faz com sangue, suor e vontade!

Então, nem quero falar demais. Prefiro que vocês mesmos assistam o filme e tirem suas próprias conclusões.

Uma galera aqui de BH, que eu nem conheço direito, resolveu botar a mão na massa e montar uma "produtora" de filmes, entitulada "30 contos filmes". Eu, de fato, conheço quase ninguém da galera, com exceção do "Leo Pyrata", que já é brother há muito tempo, e de uma das atrizes, a Mimi, que virou amiga agora há pouco.

Sem grana, sem apoio de ninguém, essa galera resolveu filmar. Os filmes são absurdamente espontâneos. O Leo me contou que no primeiro deles, do nascimento da idéia ao término da filmagem não se passaram nem 24 horas. E ficou um filme BEM legal.

Daí agora eles lançaram outro, chamado Herança, que eu honestamente achei legal DE VERDADE. Os caras melhoraram pra cacete, o filme ficou muito mais legal, técnica bem mais apurada, bem dirigido, bem montado e bem filmado (óbvio que não se pode desconsiderar a enorme limitação financeira. Os caras tinham uma ou duas câmeras de mini-dv pra filmar e é isso aí).

Enfim, eu só queria apresentar pra vocês esse filme novo da galera, a parabeniza-los pelo mesmo. Se algum dos organizadores ler isso aqui, sinta-se mais que a vontade pra me xingar caso tenha falado alguma bobagem.

Assim o Corona muito orgulhosamente apresenta:

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Minha mulher ta usando cocaina

Olha, eu começo isso daqui pedindo desculpas. Assim, por não me apresentar direito e nem nada. É que um amigo meu me mandou uma mensagem outro dia dizendo que se eu ainda tivesse alguma coisa aqui dentro, pra eu colocar pra fora aqui no blog....

E foi coincidência das grandes porque isso aconteceu justo agora. Sou muito superticioso e resolvi entender que a oportunidade era exatamente o que eu precisava. Porque supertição é isso mesmo: você resolve acreditar em alguma coisa e acredita.

Bem, esse é um post/desabafo na verdade. Aconteceu, e eu preciso conversar com alguém. Estranhamente eu escolhi o método menos reservado possível: a internet.

Foi na semana passada. Eu tinha chegado em casa bem mais cedo, logo depois de passar no médico (tenho uma rinite que simplesmente não me larga). Abri a porta, fui tirando o sapato - um calor do inferno em São Paulo. Minha mulher geralmente chega mais tarde que eu (na verdade ela é minha namorada e mora comigo... nao deixa de ser vida de casado...).

Como eu disse, como ela costuma chegar mais cedo que eu, eu entrei achando que ia ter longas horas de tranquilidade até ela chegar. Não me leve a mal... Eu adoro a menina. É que depois que a gente passa a morar junto, a gente valoriza os momentos "de sozinho".

Eu abro a porta e escuto a música que vem do meu quarto. Estranho... Uma música suave de alguma dessas mulheres que cantam bem e eu não sei o nome. "Dont try to fool me in the rain..." Caminho até o quarto, em silencio. E de uma vez eu vejo a cena: ela dentro do quarto, sentada na escrivaninha e olhando pro teto. Eu digo olá e ela não responde.

Então eu vejo o resto do que eu assumi ser cocaína na sua frente. Acho que eu poderia ter tido um milhão de reações diferentes. Provavelmente a melhor teria sido conversar. Escolhi virar as costas e sair. Ainda de meias sai do meu prédio e caminhei em direção à Paulista.

Sempre fui careta pra essas coisas. Ela também. E aquilo simplesmente não encaixava. Por que? Era pelo barato ou aconteceu alguma coisa? Nunca experimentei a coisa e por isso tenho dificuldade de entender.

"Dont try to fool me no...." Eu sentado perto do masp, de camisa, calça e descalço. E eu só conseguia pensar na música. Passei 2 horas assim. Até cansar e ir pra casa (pra onde mais??). Chego em casa e estava vazia. Meia hora depois (ou mais, ou menos) chega minha mulher.

Ganho um beijo dela e ouço que está cansada. Assistimos metade de um seriado da TV e ela levanta dizendo que vai lavar o rosto e ir dormir. Termino de assistir o tal do seriado e fico zapeando pra achar alguma outra coisa pra assistir. Cinco minuto depois eu levanto, um copo de leite e vou dormir.

E a tal da música ainda na cabeça...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro.

Capítulo 1:

Me lembro daquele dia como se fosse ontem, e acho que vou me lembrar pelo resto dos meus dias. Um cara não esquece uma coisa como aquela.

Já era escuro. O relógio ainda ia lá pelas 18:00, mas o dia em Ribeiro acaba mais cedo do que nas cidades normais. Há quem diga que a culpa seja da expessa camada de fumaça que assombra a cidade, mas eu sei que a verdade é outra. Ratos são animais noturnos, e Ribeiro é uma cidade de ratos. É por isso que escurece tão cedo.

Luz apagada. Não precisei acender. Era de se imaginar que em uma cidade como essa um detetive particular não precisasse se preocupar em conseguir clientes mas, infelizmente, não é verdade. Pelo menos não para mim. No momento a única luz que se via aqui dentro vinha do letreiro de neon da pizzaria ao lado que, segundo sim segundo não, entrava pela janela tingindo de vermelho a parede mofada da sala.

Havia voltado de uma curta caminhada, e ainda sentia no rosto o frio da rua. Costume. Todo dia por volta das cinco horas abandono meu amigo Jack Daniels e saio para dar uma volta com a minha garota, uma bela senhora chamada Desert Eagle .50, que carrego sempre no coldre, fazendo volume perto do peito.

Era um final de tarde comum, de um dia comum. Como em qualquer outro dia da minha vida pensei que deveria me mudar, procurar algum lugar mais ensolarado. Quem estou enganando, eu nunca vou me mudar dessa cidade, e eu nem gosto de sol. Essa cidade deixa a gente ainda mais sozinho e melancólico. Os muros gastos e sem tinta, os prédios baixos, a rua molhada, os poucos postes de luz aqui e acolá com suas luzes tristes e amareladas, a fumaça, a maldita fumaça. A violência do centro, a corrupção dos suburbios, as prostitutas paradas nas portas das igrejas. Em todo lugar do mundo é ao contrário, mas por aqui são as igrejas que se transformam em puteiros, ou naqueles cinemas pornográficos onde os veados vão para transar com desconhecidos. Tudo isso e uma chuva que nunca pára deixam a gente melancólico como o inferno.

Ribeiro é mais uma dessas cidades que não deram certo. Do gigantesco parque industrial só restaram as lembranças, a fumaça, alguns ricaços que fizeram fortuna roubando de suas próprias empresas, o chumbo na água e uma ou outra criança deformada.

O centro antigo já foi um bairro próspero e bonito. Hoje em dia abriga prostitutas, traficantes, cafetões e todo dia de escória que se pode imaginar, alem de um ou outro babaca como eu. A verdade é que eu gosto dessa cidade, e não saberia viver em outro lugar. Não saberia viver em um lugar onde não me obrigam a viver sozinho.

Havia chegado de uma pequena caminhada. Um passeio diário que faço para me lembrar que tipo de cidade é Ribeiro, e estava prestes a dar o dia por encerrado. As luzes estavam apagadas, não via motivo para acendê-las, e o letreiro da pizzaria do lado não parava de piscar. Alguém precisa consertar essa merda.

Já começava a vencer a inércia criada por mais um dia ocioso e me levantar do sofá de couro rasgado, quando um ouvi batidas na porta, que abriu-se logo em seguida, antes mesmo que eu pudesse indagar quem diabos resolvera aparecer. Era uma mulher.

Era alta e loira, e como a maioria das mulheres altas e loiras tinha pernas incríveis. O decote mostrava uma porção considerável dos seios, e o vestido vermelho não escondia muito bem o resto do corpo. O cabelo, tão falso quanto as pérolas em seu pescoço, havia sido pintado ainda há pouco tempo, e não fosse o enorme esforço que fazia para parecer elegante passaria bem por uma menina criada na zona sul. Fumava uma piteira branca, feita de algum material que tenta parecer marfim, e os olhos azuis eram quase bonitos o bastante para tirar a atenção daquelas pernas. Quase. O sapato era preto e alto, e sou suficientemente esperto para perceber que ela não estava acostumada a andar sobre eles. A bolsa, uma falsificação bem feita de alguma marca importante, balançava demais em sua mão sem fazer barulho algum. Estava vazia. A luz vermelha da pizzaria ao lado deixou naquele rosto perfeito uma marca de malícia que não foi embora quando acendi a luz. Ela se sentou, cruzou suas lindas pernas, e começou a falar.

Resposta aberta aos leitores que não tiveram seus e mails respondidos.

Antes de mais nada, obrigado por estarem lendo essas bobagens que a gente escreve. Porra, muito provavelmente, se eu não fosse um dos organizadores dessa joça aqui, nem eu ia perder tanto tempo assim lendo essas coisas. E olha que eu sou o tipo de cara que lê qualquer coisa, sem muito espírito crítico.

Tenho recebido alguns emails recentemente, com algumas perguntas recorrentes, então acho mais fácil responder pra todo mundo, de uma vez só, aqui no blog.

Em primeiro lugar, não, o Corona não acabou, e nem está acabando. Atualmente a maioria dos organizadores anda muito ocupada com as coisas da vida de verdade, e alguns outros de fato encheram o saco do Corona. Particularmente, eu que uso de textos pra aliviar minha insônia, continuo escrevendo algumas coisinhas, mas tenho evitado postar todas elas aqui pra não dar a impressão que o Corona virou um blog do Bernardo. A idéia não é e nunca foi essa, o Corona foi criado por mim e pelo Daniel pra ser uma tentativa de escrever coisas desconexas e aleatórias em conjunto, com os nossos amigos, e assim ele vai continuar.

Infelizmente a gente não tem o interesse em aceitar que desconhecidos escrevam com a gente. A idéia é sim muito boa, e gosto muito de pensar em blogs com muitos autores de muitos lugares diferentes, mas novamente, não foi pra isso que o Corona foi criado. É um depósito de textos de um grupo de amigos, só isso. Os ultimos dois textos que recebi, sinceramente, são melhores do que tudo que eu já li no Corona, mas me desculpem, não serão publicados, pelo motivo que acabei de expor.

Amigos novos serão convidados a escrever, em primeiro lugar pra jogar um pouco de sangue novo nisso aqui, e em segundo pra substituir os que de fato já encheram o saco e largaram essa bobagem desse blog.

Novamente, a maioria dos colaboradores anda completamente sem tempo. Então eu vou começar essa semana a públicar os capítulos de um texto longo com o qual eu ando namorando. Mas isso não quer dizer, de forma alguma, que o Corona irá se tornar um blog meu, ou dirigido por mim, ou nada do gênero. O blog é de todos aqueles que vocês vêem o nominho na seção "colaboradores", e por aqui não existe diretoria, conselho editorial, redator, nem nada do gênero. Todo mundo aqui é anarquista.

Novamente, obrigado por continuarem lendo, e me desculpem por não responder pessoalmente os e mails.

[]s

b.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Olhos acesos de uma mente que dorme

Ou "Confissões de um eterno insone."

"Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir. "

O segredo de tudo é ter precisamente a quantidade de tempo necessária. Nem mais, nem menos. Acredite, leitor, tempo demais é problema na certa.

Quem não dorme tem sempre tempo demais, e na opinião desse autor que detém considerável experiência no assunto, esse é o maior problema da insônia.

Quem não dorme tem tempo de pensar em todas as mazelas da vida, tempo de calcular com tremenda exatidão todas as conseqüências futuras dos maus atos do presente, tempo de avaliar com presteza o tamanho dos buracos que cava, tempo de descolorir e enxergar em preto e branco aquele filme que costumamos chamar de "vida".

À meia noite a casa dorme. Dormem também os amigos e toda possibilidade de convívio social. Os programadores de rádio e televisão não se importam com com os insones, não praticam a gentileza de agradar-lhes com boas opções de entretenimento.

Os livros, passadas algumas horas, tornam-se sempre chatos e enjoativos, assim como os discos, pois numa certa hora qualquer barulho irrita profundamente. Em um determinado momento tudo o que temos somos nós mesmos, e isso geralmente não é bom. Confinados entre as paredes de um quarto, o próprio ar que respiramos parece cada vez mais denso, e é exatamente nessa hora que os fantasmas do passado vêm cobrar dívidas antigas, muitas vezes esquecidas.

Acredito, inclusive, que se gostássemos de nossas próprias companias não teríamos insônia.

"Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!"

Nas primeiras vinte e quatro horas é um pouco mais fácil. O cansaço, o desânimo e o desespero ainda são razoavelmente suportáveis. Depois é que começa a ficar um tanto quanto perigoso.

A luz se transforma em um milhão de pequenas agulhas, e parece que não furam apenas os olhos. Furam também os ouvidos, as bocas, as mãos, as pernas e os braços. As cores dão lugar às sombras e pouco a pouco as formas se tornam todas borradas.

Não se sabe bem ao certo quando é que a lucidez vai embora. É comum dizer que quem está ficando louco não percebe o que está acontecendo, ao contrário, muitas vezes parece que nunca estivemos tão lúcidos, e que tudo agora faz muito mais sentido do que fazia antes. Engano, sempre. Nunca se pensa direito quando não se consegue dormir.

Os olhos estão abertos mas não estamos acordados. Misture o terror do pesadelo com a frieza da realidade e verá o que digo. O ar parece querer engolir aquele que o respira, como se quisesse se vingar por todo o tempo que nos utilizamos dele sem dar-lhe o devido valor.

Todo insone tem mania de dar ânimo ao inanimado. Tem mania também de começar centenas de textos sem nunca acaba-los.

"A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exatamente. Mas não durmo."

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Arthur

Ou "O Eterno Eufemismo do Livre Sonhador".


Seu eu lírico tem nome? O meu tem, se chama Arthur. Arthur é uma mistura pretensiosa de um leitor de Schopenhauer com um personagem qualquer de um filme noir.

Provavelmente não trabalha. Passa a manhã inteira dormindo e almoça sozinho em um restaurante com pano de mesa xadrez. De tarde vai ao cinema assistir alguma coisa em preto e branco, depois vai para casa e fica lendo livros aleatoriamente selecionados até que fique tarde o bastante para andar pela rua sem ser incomodado pelo barulho dos carros e das pessoas que moram na cidade em que vive. As noites nessa cidade são sempre muito frias e um pouco molhadas, a iluminação também não é das melhores, apenas umas lâmpadas amarelas aqui e acolá. É claro que os muros das casas e dos prédios são um pouco descascados, deixando a mostra alguns tijolos. Existem alguns bares onde Arthur as vezes pára para beber. A cidade escura, fria e molhada se chama Ribeiro.

Ribeiro é a capital de algum grande estado, e possui alguns milhões de habitantes. Nenhum deles parece despertar qualquer tipo de interesse em Arthur, que fala muito pouco, mas fuma compulsivamente. Certa vez resolveu tomar nota de tudo que falasse ao longo de um dia comum, e não foi muito. “O de sempre, por favor”, “uma entrada para o filme das três”, “dois maços, por favor” e “mais uma dose” foram as únicas coisas que anotou em seu caderno. Pensou que se essas fossem as únicas coisas que soubesse dizer, sua vida não seria muito diferente, e chegou a acreditar que talvez fosse, de fato, tudo que soubesse falar.

As paredes do quarto de Arthur são brancas, e decoradas com estantes de livros. Uma mesa redonda, no centro da sala, guarda sempre os cigarros, as chaves, e os fósforos de Arthur. No chão, um tapete com desenhos sem sentido, e no canto um sofá de couro desbotado.

Arthur escreve poemas que não rimam e contos com personagens que suicidam no final.

Não teve infância, já nasceu com trinta e poucos anos, e desde então nunca fez aniversário. Continua com os mesmos trinta e poucos anos. Se formou, antes de nascer, em alguma universidade que não tem muito a ver com a vida que leva. Administração, ou algo do gênero. Ou talvez Farmácia. Arthur não se lembra exatamente se já teve alguém na sua vida. Mãe, pai, namorada, amigos, mas sabe que já perdeu algumas pessoas, e se lembra de não ter chorado em nenhum dos velórios. Sabe também que ninguém irá ao seu. Ele mesmo não iria se não fosse obviamente obrigado a tanto.

Oh, a liberdade. A insuportável liberdade de Arthur.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Esquizofrenia em quatro atos.

O autor não sabe por onde começar esse texto. Na verdade nunca sabe por onde começar coisa alguma, especialmente aquelas que falam sobre algo realmente importante, e não são simples exercícios literários sobre sentimentos que não sente e verdades em que não acredita.

Ao contrário do que dizem, o pior tipo de angústia não é aquela que chamamos de “existencial”, sem nenhum motivo aparente além da própria dor da existência. O pior tipo de angústia é aquela que vem de uma dúvida muito clara e real que, na maioria das vezes, é criada por acreditarmos em algo que sabemos não ser verdade, ou preferirmos crer que são verdades as mentiras que inventamos.

Nesse ponto qualquer eventual leitor já deve ter percebido que o autor de fato não sabia por onde começar esse texto, e talvez nunca mesmo devesse ter começado a escrevê-lo. Estejam advertidos, portanto, que ele ainda não sabe exatamente como começa-lo. Então sintam-se livres para pularem um ou dois parágrafos, e esperemos que no ponto em que retomarem o texto, caso decidam faze-lo, ele já tenha se decidido a cerca de como começa-lo, e tenha uma idéia mais precisa do que é a que ele se destina.

Aos leitores de mais afinco (ou ainda, mais tempo livre), decididos a continuar lendo na integra esse texto, o narrador promete ser o mais breve possível, apesar de que já agora devem considerá-lo um escritor muito prolixo. Além de muito pouco talentoso, vez que já em meados do quarto parágrafo o texto ainda nem mesmo começou. Mais uma falha óbvia que devemos apontar é a constante repetição – a palavra “texto”, por exemplo, já foi utilizada sete vezes até agora – mas é que nem sempre podem se encontrar sinônimos, e a repetição as vezes se faz necessária. Palavras, como pessoas, vez em quando são ímpares e não aceitam qualquer tipo de substituição. Devem ter percebido também, caso tenham prestado atenção ao primeiro e ao segundo parágrafo, que o texto é absolutamente pessoal, e provavelmente discorrerá sobre algum sentimento que o autor pretende sentir no momento.

Acredito ainda que o texto não proporcione prazer estético de nenhuma sorte ao mais exigente dos leitores. Ora, se nem mesmo quando se preocupa em escrever de maneira bonita e agradável, com tiradas sagazes e frases inteligentes, o autor consegue redigir algo decente, o que dirão desse texto que escreve simplesmente como desabafo, que nada mais pretende além de causar conforto em uma hora de muitos segredos angustiantes?

O pior tipo de angústia é não ser correspondido. Desculpem a mudança tão brusca, mas é que há dois parágrafos atrás foi prometido que agora já teria tido início o texto propriamente dito, portanto, deixemos de lado as elucubrações em que nos perdemos nos parágrafos anteriores, e vamos direto ao ponto em que precisamos chegar. Repito, então, o pior tipo de angústia é não ser correspondido. A vida se faz de projeções, de um eterno criar e atender expectativas. Quando as expectativas que criamos não são atendidas, corremos em inventar desculpas para amenizar nossa frustração, e é daí que nasce a maldita dúvida. Somos idiotas o bastante para querer acreditar nas mentiras que criamos, mas não o bastante para ignorar completamente a verdade.

O tipo de mentira mais comum nesses casos, ironicamente, é o que diz exatamente o contrário. Diz que somos paranóicos, e que as verdades que nos saltam aos olhos são frutos dessa imaginação distorcida que possuímos, enquanto na verdade sabemos que fruto da imaginação é a esperança que insistimos em manter viva a todo custo. Aí reside a fonte de todo o mal. Nesse ponto deixamos de saber exatamente se estamos inventando as verdades ou se elas sempre estiveram ali, mas as mentiras que criamos nos impediram de percebê-las.

Vocês, leitores, devem estar se perguntando por que diabos estão conseguindo entender esse texto. Ora, ele simplesmente não faz sentido algum, e ainda assim vocês o entendem. Ele não se explica, não tem começo, e ele nem mesmo sintetiza muito bem o seu próprio motivo. Mas a resposta para essa pergunta é muito simples: Não existem leitores. Existe apenas um leitor. Esse texto está sendo redigido para uma única pessoa, então talvez seja hora de começar a trata-lo por “você”, e deixar de lado a pretensa impessoalidade da palavra leitores. Você, leitor, é o tema desse texto.

É claro que você é suficientemente esperto para saber que escritores nem sempre dizem a verdade sobre aquilo que sentem, mas dessa vez você sabe que é diferente, que existe alguma verdade naquilo que lê. Vamos então abandonar outra terminologia impessoal: a partir de agora os termos “autor”, “escritor” e “narrador” serão substituídos pelo pronome “eu”, pronome esse que estará se referindo a mim mesmo, este que por hora toma vosso tempo. Assim sendo resolvemos, em parte, o problema da repetição, vez que os termos “autor’ e “leitor” também já foram exaustivamente utilizados.

Você e eu temos diferentes expectativas. Você quer demais, e eu tenho quase nada. Você é a parte do poema que olha para as estrelas enquanto eu sou a que se esfrega na lama. Aquela lama suja e molhada, que fica bem no fundo do poço. Você é alegre, forte e divertido, entende de música e fala de cinema, é cheio de amigos, tem um bom emprego, uma casa bonita, um carro e um cachorro. As pessoas gostam de você e algumas delas te admiram. Eu, por outro lado, sou o cara que fica sozinho de madrugada, que olha para o teto do quarto por horas, que vê o sol nascer na janela implorando para Deus fazê-lo dormir.

Você é insistente. Acha que o telefone não toca por que estão todos ocupados. Eu já desisti, sei que a verdade é muito mais dura que isso. O telefone não toca por que não querem falar comigo, e estou completamente sozinho.

O seu único problema sou eu. Você, infelizmente, não vive sem mim. Você nunca entendeu por que é que toda sua vida o único poema que conseguiu decorar foi

“Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”

Eu, por outro lado, sempre soube.

Dou-lhe a chance, portanto, de dizer adeus. Aproveite para se despedir daqueles que chama de amigo. Diga à tua mãe que tentou. Planeje sua ultima festa, beba seu ultimo copo, fume seu ultimo trago. Olhe outra vez a paisagem da janela, admire o barulho dos carros.

Sinta saudade das pessoas que perdeu, e mais ainda, daquelas que nunca teve. Pense nos lugares que não viu e de tudo aquilo que não conseguiu. Ande, dance sozinho no seu quarto e assista novamente aos filmes que te agradam.

Escute uma ultima vez a voz de quem ama, por que depois partiremos.

Aconselho, se quiser, que seja discreto. A única coisa que sempre tivemos em comum é o gosto pela discrição. Apesar de nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, criados pelo mesmo mundo, recebidos pelos mesmos amigos, somos por demais diferentes, e não podemos mais viver de tal forma. Suas ânsias e desejos são grandes demais para o meu peito. Ele é pequeno, e está recheado pelas dores que colecionamos ao longo dos anos.

E mais ainda, as e-x-p-e-c-t-a-t-i-v-a-s. Nunca estaremos à altura das expectativas que criamos para nós dois, e muito menos das que criaram para você. Você sempre encorajou em todos as malditas expectativas, mesmo quando eu sabia que nunca poderíamos cumpri-las. Talvez seu papel fosse esse, fazer-me sofrer ainda mais.

Lembra quando éramos crianças? Você era engraçado, esperto e alegre. Você corria mais rápido que todos os nossos amigos, e era campeão de natação. Tinham certeza que seriamos um adulto feliz e realizado. Culpa sua.

Mas não mais. Estou cansado demais para carregar-nos nas costas. Você, ironicamente, não tem pernas. Estou cansado, sozinho e morrendo de medo. Não sou forte e corajoso como você e estou de saco cheio dessa sua vontade de parecer sempre invencível. Você é patético, e todos sabem disso. Você consumiu toda a força dos meus braços com suas inúteis tentativas de seguir vivendo. Você testou os limites da minha paciência com seus infinitos jogos de retórica. Você me escondeu, quando o que eu mais queria era que me vissem.

Então, leitor, diga adeus. Vou levá-lo comigo pela ultima vez, e dessa vez não vamos voltar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Recuse imitações

domingo, 27 de janeiro de 2008

A infinita solidão de uma vela apagada.


Ou o escuro desespero de uma alma desperta.

É tão escuro que você às vezes se perde. É denso, muito denso. A angustia das coisas incompletas toma conta do peito, deixando espaço nenhum para o ar, e a garganta arranha como se houvesse engolido um pedaço do deserto. A coleção de livros na parede, caoticamente organizada, já não trás mais o interesse que deveria trazer, e você não sabe bem o que fazer com eles. Seus discos também não trazem mais nenhum conforto ou alegria.

Resolve conta-los. Se forem pares - você pensa - tudo ficará bem. Se forem ímpares você vai se sentar e chorar. São pares, e você resolve contar de novo.

Você pensa que deveria acender a luz, ler um livro, ouvir um disco, mas não é nada disso que você quer fazer. Não quer ouvir dramas fictícios de sofredores que não existem. Eisenstein. Você vê o nome na capa de um livro e pensa que queria chamar-se Eisenstein. Queria chamar-se qualquer coisa que não fosse seu nome, queria viver uma vida que não fosse a sua.

Não. Sua vida não deixa. Como um monstro dantesco devora uma a uma todas as sua esperanças, e arranca a dentadas os pensamentos felizes. Você espera. Talvez quando terminar de ser digerido uma certa resignação confortável tome conta de você, e um sono profundo te faça ir para longe desse lugar denso e escuro. Mas infelizmente você insiste e persiste, e por tempo demais sufoca a voz que te diz para desistir.

Você era a criança que roubava o sutiã das meninas na aula de natação, para depois joga-los na piscina e ficar rindo sozinho. Pulava o muro da construção só para fugir dos porteiros, e mentia para sua mãe dizendo que havia se machucado andando de bicicleta. Essa criança não se contenta com pouco. Não quer sucumbir e entender que nada vai ficar bem. Não aquela criança que ria das moças de sutiã molhado.

De olhos fechados você se sente melhor. Fica pensando se está vendo as costas das pálpebras ou se simplesmente não está vendo nada. Tenta se lembrar das aulas de biologia onde ensinavam coisas sobre os olhos, e se lembra que achou que os poetas e os biólogos falam mais sobre eles do que há neles para se falar. Sua alma não tem janelas, só paredes sufocantes e um vazio que da medo.

Talvez se você ficar assim, de olhos fechados, alguém venha te acordar com um beijo dizendo que vai ficar tudo bem, e que esse cheiro bom que está vindo da cozinha é o café da manhã. Então vocês se sentarão à mesa, comerão frutas e beberão café fresco, e a manhã vai passar rapidamente enquanto vocês conversam sorrindo sobre as mais deliciosas amenidades, e sobre como serão felizes para sempre.

No almoço decidirão o nome do filho que um dia vão ter. Vai ser algo simples, como Pedro ou João. Você vai pensar que nunca tinha reparado que essas paredes brancas são bonitas e calmas. Vão rir do cachorro que sempre se esconde debaixo do sofá, assistir um desenho qualquer na TV e confessar que estão apaixonados um pelo outro.

A tarde, quando as nuvens deixarem o sol se abrir e o calor apertar, vocês irão para a piscina, e a água vai refletir toda a felicidade dos sonhos realizados, e você vai contar sobre aquela vez em que jogou o sutiã das meninas na água, só para vê-las indo embora com a camisa molhada na altura dos peitos, e como nesse mesmo dia você se cortou ao pular o muro de uma construção, e teve que mentir para sua mãe para que ela não descobrisse.

A noite será agradável. Discutirão sobre um livro que está na sua prateleira, ouvindo o seu disco preferido, e decidirão que devem pedir comida pelo telefone. Vão ver o sol que ficou guardado no rosto um do outro, e vão rir mesmo sabendo que isso não tem graça nenhuma. Vão comer e ter sono. Se abraçar e dormir

Mas você abre os olhos, e alguém não virá. Talvez se você tivesse ficado de olhos fechados. Com eles abertos alguém nunca vem. Você está sozinho, já faz tempo que está sozinho, e amanhã vai ser um dia como outro qualquer.

A culpa é dos discos. Eles são pares, e não te dão desculpa para chorar.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Conversa ao telefone.

- Alô?
- Meu filho - voz grave e profunda do outro lado da linha - sou eu!
- Pai? O senhor está rouco?
- Não, sou eu, O Todo Poderoso!
- Erm... Hum... Bom dia, senhor Poderoso (achei que devia trata-lo pelo sobrenome)
- Preciso lhe fazer uma pergunta, meu filho.
- Engraçado, pensei que se o senhor existisse teria todas as respostas.
- Deixa de ser engraçadinho.
- Ok, ok... Pode perguntar.
- O que é que tem na Obra hoje?
- Ih, nem sei... Da uma olhada no site.
- Hum... E qual o endereço?
- Anota aí: é dabliu dabliu dabliu ponto aobra ponto com.
- Certo, certo...
- Mas e aí, como vão as coisas?
- Tudo certo.
- Então ta. Um abraço.
- Bernardo?
- Sim?
- Pra todos os efeitos, caso te perguntem, eu não existo, ok?
- Bom, se você insiste.
- Boa noite.
- Boa noite.

E essa foi uma das dez ligações de longa distância mais bizarras que eu já recebi.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Aleluia

Existem ainda algumas pessoas largadas no canto direito da sua cabeça, mas aos poucos elas também se apagam e vão para aquele lugar que se reserva às coisas em que não se quer pensar.

Aleluia.

As luzes deixam a noite com uma cor estranha, um amarelo pálido e opaco, e aqueles bichinhos que no verão se aglomeram em volta dos postes criam sombras que dançam incessantemente no chão molhado de chuva. Quando se está triste é bom ver que as coisas são tão molhadas quanto os olhos.

Aleluia.

Existe um ponto de onde não se pode voltar. Nunca. Não é um estado de espírito, é uma coisa quase física que obriga o ser humano a continuar tentando, e tanto já se perdeu quando se alcança esse ponto que não faz mais muito sentido parar agora. É o herói que entra no labirinto para salvar a donzela, e mesmo depois da certeza de estar completamente perdido sabe que não adianta voltar, e segue em frente ao encontro de um minotauro qualquer que irá devorá-lo. Não anda de cabeça erguida e peito estufado, segue olhando para baixo e com medo das sombras, pensando a todo instante que deixou para trás qualquer vestígio de esperança.

Aleluia.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

uma lista de listas

Tinha um bom tempo que eu não fazia lista de melhores discos do ano, principalmente porque tinha muito tempo que eu não ouvia suficientes discos lançados há menos de um ano para completar dez que eu gostasse. Mas eu nunca parei de fazer listas. De fato, esse é um vício que eu tenho, há muito, muito tempo. E não me venha com essa de que peguei a mania depois de "Alta Fidelidade" porque eu já fazia esse tipo de coisa pelo menos desde os oito, nove anos.

Lá pra 91, 92, quando começou a passar MTV em Porto Alegre, eu comecei a acompanhar muito o Disk e o Top 20 Brasil... Logo pensei que seria mais legal se eu fizesse minhas próprias paradas de sucesso, já que os dos outros sempre tinham umas porcarias no meio. Lembro de fazer um prístino Top 30 Clipes numa máquina de escrever da minha mãe, basicamente preenchido por Red Hot Chili Peppers, Nirvana e Pearl Jam. Depois isso virou um hábito e eu fui fazendo a coisa sistematicamente. Acho que entre 94 e 97, mais ou menos eu fiz um Top 20 a cada dia (sim, eu tinha muito tempo livre) e depois no fim do mês eu calculava os pontos e via quem foi melhor nos últimos 30 dias. Depois eu fazia isso no ano e formava um Top 200 que eu comparava com o do meu primo que também fazia o mesmo. Isso preenchia cadernos e mais cadernos, que infelizmente eu joguei fora quando fiz uns 15 anos, morrendo de vergonha que aquilo pudesse queimar meu filme. Adolescente é muito idiota mesmo, seria tão legal ter essas coisas até hoje...

Mas bem, eu parei de gostar tanto assim de clipes, mas não de listas, e fui fazendo de outras coisas. Claro que não dá mais pra fazer a coisa diária como antigamente, mas o hábito se mantém ativo. Tenho uma pasta no meu PC chamada "listas" onde há uma relação de todos os livros de literatura que eu já li na minha vida (fora os infantis, que são meio difíceis de contabilizar); há paradas de discos, livros, músicas e quadrinhos favoritos em diferentes épocas; e uns dois anos atrás eu e o Theo resolvemos fazer uma lista com os 10 melhores filmes de cada ano (no meu, é só a partir de 1956 que juntam 10 ou mais a cada ano, mas eu estou trabalhando pra mudar isso). Fora os regulamentares bancos de dados com meus livros, xeroxes, CDs, vinis, DivXs, que são menos pra divertir e mais pra organizar minhas coleções. E as malditas listas do tipo "tenho que...": filmes que tenho que ver, livros que tenho que ler... Essas que sempre aumentam, aumentam, listas infinitas, que me dão um pouco de angústia, um sentimento de que estou sempre um passo atrás do que deveria estar... Mas dão muito prazer quando apago uma linha, após baixar mais uma pérola no KG ou achar uma raridade num sebo.

Como amostra, segue minha lista de filmes de 1979, um bom ano:

1 – "Apocalypse Now", Francis Ford Coppola, EUA

2 – "L'Hypothèse du Tableau Volé (A Hipótese do Quadro Roubado)", Raoul Ruiz, Fra

3 – "Die Dritte Generation (A Terceira Geração)", R. W. Fassbinder, Ale

4 - "Die Blechtrommel (O Tambor)", Volker Schlöndorff, Ale

5 – "Stalker", Andrei Tarkovsky, Rus

6 – "Alien", Riddley Scott, EUA

7 – "Fukushû suruwa wareniari (Minha Vingança)", Shohei Imamura, Jap

8 – "Life of Brian (A Vida de Brian)", Terry Jones, UK

9 – "Zombi 2", Lucio Fulci, Ita

10 – "Manhattan", Woody Allen, EUA

Hors-concours:

"Warriors", Walter Hill, EUA

sábado, 12 de janeiro de 2008

Melhores de 2007

Esse negócio de fazer lista é muito viciante. Cada novo disco que escutava me levava para uns outros 5 e assim por diante. Poderia ficar o ano inteiro ouvindo discos de 2007 possivelmente bons e isso seria um saco, já que a esmagadora maioria não corresponderia a essa expectativa. Então fiz um recorte razoável de uns 70 discos para ouvir (alguns só até a metade, é vero) pra que assim eu pudesse voltar a viver algum dia. Não ouvi nada ou quase nada de Rap (só os mais clichês), jazz, pop descarado, folk, indie-pop e fofuras em geral. Não quer dizer que não ouvi e não gostei: só não ouvi e ponto. Ouvi atentamente esses lances supermodernos de dubstep e techno minimal mas, apesar de perceber que há até uma galerinha criativa nesses lances, eu não consigo ouvir um disco inteiro. E eu sei que aqui ninguém liga pra isso.

Como me senti meio imbecil fazendo uma lista destas, adotei o estilo engraçadinho-pop-superficial-por-demais-assertivo das críticas musicais ruins. Não estou muito afim de pensar, desculpem. E nesse sentido também não coloquei uma ordem nos dez melhores. Acreditem que eu achei estes dez igualmente legais.

Não fiz oficina de blog então não sei colocar as capinhas, foi mal aí.

Hors Concours

Miles Davis - The Complete On The Corner Sessions

Se você nunca ouviu este disco, então baixe e ouça agora a versão simples. Acho que o produtor escolheu as melhores músicas e melhores takes. Mas agora que você ouviu e foi abençoado, irá concordar comigo: não há nada com mais groove, ginga, molejo e malevoLência na história da música ocidental do que On The Corner. Então será necessário ouvir essa caixa de 6 CDs com as gravações do disco pra sentir o DRAMA em toda a sua completude. Sim, são quase 7 horas de música. Mas nada é menos que muito foda, eu garanto demais. Os melhores músicos da época fumando muita droga pra fazer música pra fumar droga pra fazer música e no meio disso aí saindo uma espécie de funk-jazz que não é bem só isso. E se o fusion matou o jazz então ele morreu feliz só por causa desse disco.

Harmonia - Live 1974

Formado por integrantes do Neu! e do Cluster, o Harmonia foi uma pouco conhecida superbanda vaca-preta (unia o melhor das duas bandas anteriores sem porém superá-las). Este show de 74, só lançado em disco este ano, pode ser considerado como o terceiro grande disco da banda kraut. Recomendado para maconheiros alemães da década de 70 ou para quem já cansou de ouvir os dois primeiros discos e sentiu um gostinho de quero mais.

Os Outros 8

Acid Mothers Temple & the Melting Paraiso U.F.O. - Crystal Rainbow Pyramid Under the Stars
Piração hippie da melhor qualidade. Esta moçadinha esperta tem feito o que há de mais interessante em termos de rock paulera nesses anos 00 e tem pouca gente sabendo. Então ta avisado aí.

Christian Fennesz/Ryiichi Sakamoto – Cendre
O pior disco do Fennesz é melhor que quase tudo lançado esse ano.

Electrelane - No Shouts, No Calls
O Guilty Pleasure da lista. Um disco um tanto desigual, com experimentações bacaninhas, clichês indies e todo aquele jeitinho Stereolab de ser.

The Focus Group - We are all Pan's People
Colagem sonora cubista que te leva para aquele período da manhã em que você acha que está sonhando mas não se importa muito com isso - só quer voltar a dormir.

Grinderman – Grinderman
Pra quem como eu gosta mais da fase Birthday Party do Nick Cave esse disco é o melhor dele. E quem não acha isso deveria achar porque está errado. E se mesmo assim quiser insistir no erro por livre e espontânea vontade, então deve concordar ao menos que é uma das melhores coisas que ele faz em muito tempo, parecendo ou não com o Birthday Party.

LCD Soundsystem - Sound of Silver
Na primeira vez que ouvi não gostei muito e o show não me ajudou a gostar mais. Mas na reouvida esse Sound of Silver bateu legal. O LCD veio pra ficar, falem o que quiser.

Lichens – Omns
Climão bom esse Lichens. Muita gente indo na onda do drone/ambient, mas poucos conseguindo fazer direito sem ser chato, tipo isso aqui.

OM – Pilgrimage
O pior disco do OM é melhor que quase tudo lançado esse ano.

Robert Wyatt – Comicopera
O bom velhinho não tem errado nos últimos anos e com Brian Eno, Phil Manzanera e outros menos cotados como banda de apoio não tinha como sair do script. Comicopera é disco de velho com muito bom gosto e um pouquinho de mudernidade, mas não é tipo MPB não, fiquem tranqüilos. E se você se emocionou e super se identificou com as letras de Wyatt sobre a Guerra das Malvinas, o assassinato das baleias e a queda da bolsa de Tóquio, então vai curtir demais as músicas quase-políticas desse disco aqui. A voz do homem está triste como sempre e dá pra perceber que ele ta falando sério, né brincadeira não. Agora, achei um pouquinho longo demais o disco, e aquela musiquinha em homenagem ao Che Guevara que fecha o disco é palha demais, estamos combinados.


Não achei uns 5 discos que pareciam promissores. Fica pro ano que vem. Gostei também de outros, mas acho que não voltarei a ouvi-los ano que vem. Ou neste ano mesmo... São estes:

Aesop Rock - None Shall Pass
Boris/Michio Kurihara - Rainbow
Dinosaur Jr –Beyond
Kemialliset Ystavat – Alkuharka
Laub – Deinetwegen
Lou Reed/Zeitkratzer - Metal Machine Music Live
Mouthus - Saw a Halo
Panda Bear - Person Pitch
Yellow Swans - At All Ends

Mais uma do homem



É, Poeira... Eu sempre soube que teu problema era puta e pó..

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Música para a cabeça.


Recentemente descobri que uma banda que eu gosto muito, o Chicago Underground Trio, é muito pouco conhecida aqui no Brasil.

Começou em 1998, e então se chamava Chicago Undergrond Orchestra. Rob Mazurek, Jeff Parker, Chris Lopes, Sarah Smith e Chad Taylor faziam parte da banda. Não durou muito, e algum tempo depois dois dos ex-integrantes da "orquestra", Chad Taylor e Rob Mazurek montaram, ainda em 1998, o Chicago Underground Duo. Foi só em 1999, com a entrada de um rapaz chamado Noel Kuppersmith, que a banda de fato se transformou em um trio e adotou o nome atual.

Acho que é muito pouco pra definir o som da banda dizer que eles fazem um jazz conteporâneo e experimental. "Avant Garde Jazz Band", como costumo ler por aí não é nem de perto o bastante pra descrever o que os caras fazem.

Os fundadores e "band leaders", apesar de muito novos, tem um curriculo bem vasto e respeitável, em especial o baterista / percussionista Chad Taylor. Além de ter começado a tocar em clubes de Chicago com 15 anos de idade, ele já tocou ao lado de grandes figuras como Leon Parker e Mark Turner, e fez parte da banda Tortoise.

Na minha opinião a melhor característica do trio é a facilidade com que vão e voltam em sessões de improviso. Chega a ser difícil saber quando é que eles estão tocando pedaços previamente escritos de uma música e quando começam a improvisar.

Também vale ressaltar que nunca ouvi post-rock, jazz e música eletrônica misturados com tanta maestria.

Os discos lançados pela banda são: Possible Cube, de 1999, Flamethrower, de 2000, o Sion de 2004 e o ultimo, de 2007, Chronicle.

Sion foi o disco que me chamou atenção para a banda. Tem um conteudo político muito forte, coisa rara de se ver em bandas de Jazz. O disco é "dedicado" a todos que morreram "nas mãos das guerras imperialistas americanas".



Chronicle, o ultimo disco, é a obra prima dos caras. O disco é maravilhoso do começo ao fim. Foi provavelmente a coisa que mais escutei em 2007, e sinceramente acho que por um bom tempo vai ser top na minha lista de discos de jazz.



Então é isso. Baixem o disco, ouçam a banda. E aviso de antemão que é uma banda a se escutar com a cabeça. Não deve ser difícil demais de achar na internet, mas caso não encontrem, eu tenho os originais, e posso coloca-los na net eu mesmo. É só me pedir.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

isso não é uma lista

eu não faço listas. eu não gosto de listas. os discos dessa coisa aqui que não é uma lista de melhores coisa alguma são só uns discos que eu acho que mereciam entrar em listas alheias dos melhores discos mas não entraram. mas assim, what do i know.

1. scout niblett - this fool can die now



porque a scout niblett é o meu kurt cobain.

2. rhonda harris - tell the world we tried



disco de covers do townes van zandt. avisa o mundo que vocês conseguiram.

3. nina nastasia & jim white - you follow me



vai tocar bateria assim na minha casa, vai?

4. emily jane white - dark undercoat



he said lady where's your dark undercoat? then he rode away and he rode away and he died. said i am not strong, i am not wide and i am not long. creepy folk.

5. islaja - ulual yyy



porque a finlândia é muito mais legal que a suécia.

6. raccoo-oo-oon - behold secret kingdom



hippie caótico.

7. mirah and the spectratone international - share this place: stories and observations



my mother made for me this pair, a perfect womb, a modeled lair, where i will grow and eat my share of pastry rich beyond compare! mirah cantando do ponto de vista de insetos. ok.


8. akron/family - love is simple



akron/family = amor. e o amor é simples.

9.bowerbirds - hymns for a dark horse



depois do drink do verão, eu descobri o disco do verão.

10. no age - weirdo rippers



esse aqui é só porque eu sou jovem!

obs 1. eu não subi nenhum desses discos eu peguei links em blogs alheios e nem sei direito quais foram, todo caso, brigada pessoas que sobem discos! vocês são ótimas. que marc jacobs sempre acompanhe vocês.
obs 2. o ep que eu achei mais incrível foi o do black kids! porque eu sou MUITO jovem!