segunda-feira, 28 de abril de 2008

Minha mulher ta usando cocaina

Olha, eu começo isso daqui pedindo desculpas. Assim, por não me apresentar direito e nem nada. É que um amigo meu me mandou uma mensagem outro dia dizendo que se eu ainda tivesse alguma coisa aqui dentro, pra eu colocar pra fora aqui no blog....

E foi coincidência das grandes porque isso aconteceu justo agora. Sou muito superticioso e resolvi entender que a oportunidade era exatamente o que eu precisava. Porque supertição é isso mesmo: você resolve acreditar em alguma coisa e acredita.

Bem, esse é um post/desabafo na verdade. Aconteceu, e eu preciso conversar com alguém. Estranhamente eu escolhi o método menos reservado possível: a internet.

Foi na semana passada. Eu tinha chegado em casa bem mais cedo, logo depois de passar no médico (tenho uma rinite que simplesmente não me larga). Abri a porta, fui tirando o sapato - um calor do inferno em São Paulo. Minha mulher geralmente chega mais tarde que eu (na verdade ela é minha namorada e mora comigo... nao deixa de ser vida de casado...).

Como eu disse, como ela costuma chegar mais cedo que eu, eu entrei achando que ia ter longas horas de tranquilidade até ela chegar. Não me leve a mal... Eu adoro a menina. É que depois que a gente passa a morar junto, a gente valoriza os momentos "de sozinho".

Eu abro a porta e escuto a música que vem do meu quarto. Estranho... Uma música suave de alguma dessas mulheres que cantam bem e eu não sei o nome. "Dont try to fool me in the rain..." Caminho até o quarto, em silencio. E de uma vez eu vejo a cena: ela dentro do quarto, sentada na escrivaninha e olhando pro teto. Eu digo olá e ela não responde.

Então eu vejo o resto do que eu assumi ser cocaína na sua frente. Acho que eu poderia ter tido um milhão de reações diferentes. Provavelmente a melhor teria sido conversar. Escolhi virar as costas e sair. Ainda de meias sai do meu prédio e caminhei em direção à Paulista.

Sempre fui careta pra essas coisas. Ela também. E aquilo simplesmente não encaixava. Por que? Era pelo barato ou aconteceu alguma coisa? Nunca experimentei a coisa e por isso tenho dificuldade de entender.

"Dont try to fool me no...." Eu sentado perto do masp, de camisa, calça e descalço. E eu só conseguia pensar na música. Passei 2 horas assim. Até cansar e ir pra casa (pra onde mais??). Chego em casa e estava vazia. Meia hora depois (ou mais, ou menos) chega minha mulher.

Ganho um beijo dela e ouço que está cansada. Assistimos metade de um seriado da TV e ela levanta dizendo que vai lavar o rosto e ir dormir. Termino de assistir o tal do seriado e fico zapeando pra achar alguma outra coisa pra assistir. Cinco minuto depois eu levanto, um copo de leite e vou dormir.

E a tal da música ainda na cabeça...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro.

Capítulo 1:

Me lembro daquele dia como se fosse ontem, e acho que vou me lembrar pelo resto dos meus dias. Um cara não esquece uma coisa como aquela.

Já era escuro. O relógio ainda ia lá pelas 18:00, mas o dia em Ribeiro acaba mais cedo do que nas cidades normais. Há quem diga que a culpa seja da expessa camada de fumaça que assombra a cidade, mas eu sei que a verdade é outra. Ratos são animais noturnos, e Ribeiro é uma cidade de ratos. É por isso que escurece tão cedo.

Luz apagada. Não precisei acender. Era de se imaginar que em uma cidade como essa um detetive particular não precisasse se preocupar em conseguir clientes mas, infelizmente, não é verdade. Pelo menos não para mim. No momento a única luz que se via aqui dentro vinha do letreiro de neon da pizzaria ao lado que, segundo sim segundo não, entrava pela janela tingindo de vermelho a parede mofada da sala.

Havia voltado de uma curta caminhada, e ainda sentia no rosto o frio da rua. Costume. Todo dia por volta das cinco horas abandono meu amigo Jack Daniels e saio para dar uma volta com a minha garota, uma bela senhora chamada Desert Eagle .50, que carrego sempre no coldre, fazendo volume perto do peito.

Era um final de tarde comum, de um dia comum. Como em qualquer outro dia da minha vida pensei que deveria me mudar, procurar algum lugar mais ensolarado. Quem estou enganando, eu nunca vou me mudar dessa cidade, e eu nem gosto de sol. Essa cidade deixa a gente ainda mais sozinho e melancólico. Os muros gastos e sem tinta, os prédios baixos, a rua molhada, os poucos postes de luz aqui e acolá com suas luzes tristes e amareladas, a fumaça, a maldita fumaça. A violência do centro, a corrupção dos suburbios, as prostitutas paradas nas portas das igrejas. Em todo lugar do mundo é ao contrário, mas por aqui são as igrejas que se transformam em puteiros, ou naqueles cinemas pornográficos onde os veados vão para transar com desconhecidos. Tudo isso e uma chuva que nunca pára deixam a gente melancólico como o inferno.

Ribeiro é mais uma dessas cidades que não deram certo. Do gigantesco parque industrial só restaram as lembranças, a fumaça, alguns ricaços que fizeram fortuna roubando de suas próprias empresas, o chumbo na água e uma ou outra criança deformada.

O centro antigo já foi um bairro próspero e bonito. Hoje em dia abriga prostitutas, traficantes, cafetões e todo dia de escória que se pode imaginar, alem de um ou outro babaca como eu. A verdade é que eu gosto dessa cidade, e não saberia viver em outro lugar. Não saberia viver em um lugar onde não me obrigam a viver sozinho.

Havia chegado de uma pequena caminhada. Um passeio diário que faço para me lembrar que tipo de cidade é Ribeiro, e estava prestes a dar o dia por encerrado. As luzes estavam apagadas, não via motivo para acendê-las, e o letreiro da pizzaria do lado não parava de piscar. Alguém precisa consertar essa merda.

Já começava a vencer a inércia criada por mais um dia ocioso e me levantar do sofá de couro rasgado, quando um ouvi batidas na porta, que abriu-se logo em seguida, antes mesmo que eu pudesse indagar quem diabos resolvera aparecer. Era uma mulher.

Era alta e loira, e como a maioria das mulheres altas e loiras tinha pernas incríveis. O decote mostrava uma porção considerável dos seios, e o vestido vermelho não escondia muito bem o resto do corpo. O cabelo, tão falso quanto as pérolas em seu pescoço, havia sido pintado ainda há pouco tempo, e não fosse o enorme esforço que fazia para parecer elegante passaria bem por uma menina criada na zona sul. Fumava uma piteira branca, feita de algum material que tenta parecer marfim, e os olhos azuis eram quase bonitos o bastante para tirar a atenção daquelas pernas. Quase. O sapato era preto e alto, e sou suficientemente esperto para perceber que ela não estava acostumada a andar sobre eles. A bolsa, uma falsificação bem feita de alguma marca importante, balançava demais em sua mão sem fazer barulho algum. Estava vazia. A luz vermelha da pizzaria ao lado deixou naquele rosto perfeito uma marca de malícia que não foi embora quando acendi a luz. Ela se sentou, cruzou suas lindas pernas, e começou a falar.

Resposta aberta aos leitores que não tiveram seus e mails respondidos.

Antes de mais nada, obrigado por estarem lendo essas bobagens que a gente escreve. Porra, muito provavelmente, se eu não fosse um dos organizadores dessa joça aqui, nem eu ia perder tanto tempo assim lendo essas coisas. E olha que eu sou o tipo de cara que lê qualquer coisa, sem muito espírito crítico.

Tenho recebido alguns emails recentemente, com algumas perguntas recorrentes, então acho mais fácil responder pra todo mundo, de uma vez só, aqui no blog.

Em primeiro lugar, não, o Corona não acabou, e nem está acabando. Atualmente a maioria dos organizadores anda muito ocupada com as coisas da vida de verdade, e alguns outros de fato encheram o saco do Corona. Particularmente, eu que uso de textos pra aliviar minha insônia, continuo escrevendo algumas coisinhas, mas tenho evitado postar todas elas aqui pra não dar a impressão que o Corona virou um blog do Bernardo. A idéia não é e nunca foi essa, o Corona foi criado por mim e pelo Daniel pra ser uma tentativa de escrever coisas desconexas e aleatórias em conjunto, com os nossos amigos, e assim ele vai continuar.

Infelizmente a gente não tem o interesse em aceitar que desconhecidos escrevam com a gente. A idéia é sim muito boa, e gosto muito de pensar em blogs com muitos autores de muitos lugares diferentes, mas novamente, não foi pra isso que o Corona foi criado. É um depósito de textos de um grupo de amigos, só isso. Os ultimos dois textos que recebi, sinceramente, são melhores do que tudo que eu já li no Corona, mas me desculpem, não serão publicados, pelo motivo que acabei de expor.

Amigos novos serão convidados a escrever, em primeiro lugar pra jogar um pouco de sangue novo nisso aqui, e em segundo pra substituir os que de fato já encheram o saco e largaram essa bobagem desse blog.

Novamente, a maioria dos colaboradores anda completamente sem tempo. Então eu vou começar essa semana a públicar os capítulos de um texto longo com o qual eu ando namorando. Mas isso não quer dizer, de forma alguma, que o Corona irá se tornar um blog meu, ou dirigido por mim, ou nada do gênero. O blog é de todos aqueles que vocês vêem o nominho na seção "colaboradores", e por aqui não existe diretoria, conselho editorial, redator, nem nada do gênero. Todo mundo aqui é anarquista.

Novamente, obrigado por continuarem lendo, e me desculpem por não responder pessoalmente os e mails.

[]s

b.