quinta-feira, 10 de abril de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro.

Capítulo 1:

Me lembro daquele dia como se fosse ontem, e acho que vou me lembrar pelo resto dos meus dias. Um cara não esquece uma coisa como aquela.

Já era escuro. O relógio ainda ia lá pelas 18:00, mas o dia em Ribeiro acaba mais cedo do que nas cidades normais. Há quem diga que a culpa seja da expessa camada de fumaça que assombra a cidade, mas eu sei que a verdade é outra. Ratos são animais noturnos, e Ribeiro é uma cidade de ratos. É por isso que escurece tão cedo.

Luz apagada. Não precisei acender. Era de se imaginar que em uma cidade como essa um detetive particular não precisasse se preocupar em conseguir clientes mas, infelizmente, não é verdade. Pelo menos não para mim. No momento a única luz que se via aqui dentro vinha do letreiro de neon da pizzaria ao lado que, segundo sim segundo não, entrava pela janela tingindo de vermelho a parede mofada da sala.

Havia voltado de uma curta caminhada, e ainda sentia no rosto o frio da rua. Costume. Todo dia por volta das cinco horas abandono meu amigo Jack Daniels e saio para dar uma volta com a minha garota, uma bela senhora chamada Desert Eagle .50, que carrego sempre no coldre, fazendo volume perto do peito.

Era um final de tarde comum, de um dia comum. Como em qualquer outro dia da minha vida pensei que deveria me mudar, procurar algum lugar mais ensolarado. Quem estou enganando, eu nunca vou me mudar dessa cidade, e eu nem gosto de sol. Essa cidade deixa a gente ainda mais sozinho e melancólico. Os muros gastos e sem tinta, os prédios baixos, a rua molhada, os poucos postes de luz aqui e acolá com suas luzes tristes e amareladas, a fumaça, a maldita fumaça. A violência do centro, a corrupção dos suburbios, as prostitutas paradas nas portas das igrejas. Em todo lugar do mundo é ao contrário, mas por aqui são as igrejas que se transformam em puteiros, ou naqueles cinemas pornográficos onde os veados vão para transar com desconhecidos. Tudo isso e uma chuva que nunca pára deixam a gente melancólico como o inferno.

Ribeiro é mais uma dessas cidades que não deram certo. Do gigantesco parque industrial só restaram as lembranças, a fumaça, alguns ricaços que fizeram fortuna roubando de suas próprias empresas, o chumbo na água e uma ou outra criança deformada.

O centro antigo já foi um bairro próspero e bonito. Hoje em dia abriga prostitutas, traficantes, cafetões e todo dia de escória que se pode imaginar, alem de um ou outro babaca como eu. A verdade é que eu gosto dessa cidade, e não saberia viver em outro lugar. Não saberia viver em um lugar onde não me obrigam a viver sozinho.

Havia chegado de uma pequena caminhada. Um passeio diário que faço para me lembrar que tipo de cidade é Ribeiro, e estava prestes a dar o dia por encerrado. As luzes estavam apagadas, não via motivo para acendê-las, e o letreiro da pizzaria do lado não parava de piscar. Alguém precisa consertar essa merda.

Já começava a vencer a inércia criada por mais um dia ocioso e me levantar do sofá de couro rasgado, quando um ouvi batidas na porta, que abriu-se logo em seguida, antes mesmo que eu pudesse indagar quem diabos resolvera aparecer. Era uma mulher.

Era alta e loira, e como a maioria das mulheres altas e loiras tinha pernas incríveis. O decote mostrava uma porção considerável dos seios, e o vestido vermelho não escondia muito bem o resto do corpo. O cabelo, tão falso quanto as pérolas em seu pescoço, havia sido pintado ainda há pouco tempo, e não fosse o enorme esforço que fazia para parecer elegante passaria bem por uma menina criada na zona sul. Fumava uma piteira branca, feita de algum material que tenta parecer marfim, e os olhos azuis eram quase bonitos o bastante para tirar a atenção daquelas pernas. Quase. O sapato era preto e alto, e sou suficientemente esperto para perceber que ela não estava acostumada a andar sobre eles. A bolsa, uma falsificação bem feita de alguma marca importante, balançava demais em sua mão sem fazer barulho algum. Estava vazia. A luz vermelha da pizzaria ao lado deixou naquele rosto perfeito uma marca de malícia que não foi embora quando acendi a luz. Ela se sentou, cruzou suas lindas pernas, e começou a falar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Kra desculpa mas eu tinha acabado de fuma um baseado e não aguentei e comecei a rir muito da sua reação, sem querer zuar.
Mas enfim, pode ter sido cocaina sim, por que depois de um tempo x que você usa começa-se a ficar lento e parado vendo coisas, pelo menos para mim, você podia experimentar com ela, é muito bom kra.