quarta-feira, 25 de junho de 2008

Era pra ser um anagrama

Olha sereno,
Eu sei que o ponto é sem nó, mas o ponto é que esse nó não desata.
Sereno, eu entendo que a chuva é fina e a fineza é de graça, mas é sem graça e, sabemos, é só.

E se o sereno esfria e se a chuva aperta, de perto fica ainda mais certo.
Seja sereno, calmo, porque se se percebe a respiração, passa.

O mundo é gazeta, é gazela e é tombola. Na tombola ele gira, de noite e de dia. E se de dia e noite é tombola, a respiração faz girar. Primeiro forte, depois calmo, sereno.

Olha sereno, não se apresse. Saiba que o certo nem de perto é seguro, não tem precisão. Eu sei do apelo e do seu apreço

E eles verão, de certo, que a Graça é delicada, é fina e que o entendimento é sereno.
Eu sei é que no final das contas o ponto se trata de nós. O ponto dos nós. O nó dos pontos. Que não desata.
Sereno, olha!

domingo, 15 de junho de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro

Capítulo 1. Parte 3.

De tudo que dava muito dinheiro nessa cidade só o que sobrou foi o Carnaval. Ninguém sabe bem ao certo como foi que isso aconteceu, mas há pelo menos cinquenta anos atrás as pessoas do país inteiro começaram a achar que deviam vir para as festas e feiras locais, e desde então elas nunca mais pararam. A cidade quase dobra de tamanho na época, é um saco. Quando tudo mais por aqui começou a desmoronar, ao contrário do que se imaginava, a coisa ficou ainda maior, e à medida que a cidade se arruinava foi só aumentando. Adolescentes procurando por drogas baratas, famílias levando crianças aos circos, daminhas procurando por novos maridos, velhos buscando prostituição infantil, traficantes contando com a incopetência da polícia e ricaços procurando por esposas bonitas. A grana não para de entrar, e é muita grana nisso tudo. Donos de hoteis, prostitutas, velhas donas de pensões, farmácias, traficantes, restaurantes, taxistas, políciais e juizes corruptos, a prefeitura, o prefeito e basicamente todo mundo que tem alguma coisa pra vender só ganham dinheiro de verdade nesses cinco dias do ano. E é tudo isso controlado pelo sindicato dos palhaços.

Quem manda na cidade é o sindicato, e quem manda no sindicato é o Emboabinha. O palhaço Emboabinha é um sujeito de quase dois metros de altura, nariz redondo e vermelho, cabelo laranja e um sorriso sustentado por maquiagem no rosto. Maquiagem e cocaína, claro. O girassol espetado no casaco, os sapatos enormes e a calça número 84 atachada em um suspensório são seu uniforme, e seus dezoito capangas nunca o perdem de vista. É facil seguir um homem assim, e eles o seguem por toda parte em um único fusca verde limão. Ninguém sabe direito quantos anos ele tem, muito menos de onde veio. "Emboaba" provavelmente não é seu nome de batismo, e fica bem difícil investigar um cara que não tem nome nem rosto. Além disso ele tem olhos e ouvidos pela cidade inteira, e quando alguém procura saber qualquer coisa sobre ele seus dedos entram em ação. Alcaçam toda a extensão da cidade, dos mais ricos aos mais pobres, dos políticos aos marginais, e seja entregando um bolo de notas verdinhas, seja puxando o gatilho de um 38, fazem qualquer curioso deixar de lado o pecado que matou o gato. Gatos morrem rápido em Ribeiro.

O Boris, como quase todo mundo nesse maldito lugar, costuma trabalhar para o Emboabinha. Existem dois tipos de capangas: os maus e os maus pra caralho. Quando você quer um trabalho sujo bem feito, você contrata os do segundo tipo, e entre os maus pra caralho, o Boris é o que há de melhor.

Quando você cresce em uma cidade como Ribeiro vê muitas coisas que te assustam. Por aqui os pacifistas são violentos e os psicopatas são sempre absolutamente brutais, e se você não é um dos poucos que nasce com grana, é o seu medo que te deixa vivo. É ele que te deixa longe de encrencas, e é ele que te diz que o sujeito parado na esquina está arrumadinho demais pra ser um policial de verdade. O uniforme está muito bem engomado, e os sapatos dele valem mais do que um mês de soldo da polícia, e mesmo com as propinas um tira tem coisas mais importantes pra fazer com a pouca grana que ganha do que comprar calçados italianos. Detalhes, está tudo nos detalhes. Assim que a moça sai pela porta do prédio, levando com ela suas lindas pernas para dentro de um taxi, ele entra. Por sorte uma coisa que aprendi nesse ramo é que sempre se deve olhar pela janela quando sai um cliente, especialmente quando esse cliente é uma lora com um traseiro tão bonito. Por um momento fico feliz, achando que tirei a sorte grande, pois esse idiota vai entrar aqui sem suspeitar que o estou esperando, e talvez ele me poupe uma grande quantidade de trabalho.

Mal dou tempo do cara sair do elevador e deixo ele sentir na nuca o cano da minha Eagle. Quietinho, babaca, você não é da polícia, e é bom começar a pensar em um bom motivo pra que eu não espalhe seus miolos aqui mesmo nesse chão imundo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro.

Capítulo 1. Parte 2

Nada pareceu fazer sentido no que aquela moça disse, mas sua história era quase boa o bastante para tirar minha atenção daquelas pernas. Quase. Pedi que explicasse novamente, e dessa vez me esforcei para prestar mais atenção nos detalhes do que dizia do que na maneira sensual com que seus lábios se moviam. Detalhes. Tudo está sempre nos detalhes. Ela disse que aceitava um whiskey e acendeu um cigarro.

Boris é um daqueles caras que não se vê todo dia: sua família veio da Rússia ainda há poucas gerações, e isso por si só já faz dele um sujeito bem peculiar. Careca, branco como a neve, sempre reclamando do frio e com uma cicatriz que vai do queixo ao canto da boca. Além disso, costuma-se dizer que o filho da puta é mau como o capeta, e quando Russos cismam de ser maus, bom, é merda.

Também trabalha sob o título de detetive particular, mas Boris é muito mais que isso, - bom, todos somos, mas nem todos somos assassinos de aluguel - o Russo faz qualquer tipo de trabalho, para qualquer tipo de patrão. Outro dia uma moça muito simpática e sem dinheiro, uma dessas ex-daminhas da alta sociedade, o contratou para pegar seu ex-marido, que andava por aí exibindo sua nova - dezessete anos de idade - esposa pela cidade. Boris fez o serviço. Pegou o sujeito e o deixou, digamos, inutilizado para uma mulher. Só de farra deu também uns tapas na ninfeta que estava com o cara, e ela não tinha ainda dezoito anos de idade. Mas quem levou a pior na história toda foi a ex-mulher. Ninguém nunca mais a viu em público, mas dizem que está completamente desfigurada desde que o maldito cossaco descobriu que não ia receber um centavo pelo trabalho bem feito.

Não estou defendendo o desgraçado, esse tipo de coisa não se faz com uma mulher por nada nesse mundo, mas por outro lado todo mundo deveria saber que você não pode contratar o Boris à menos que tenha muito dinheiro para paga-lo depois.

Foi a lora dizendo esse nome que me chamou atenção. Sabia que era sério, e sabia que era merda. Não que eu tivesse medo do cara, mas é que eu não sou esse tipo de detetive, esse que você contrata pra bater em alguém, e com ele nada se resolve na conversa. Russo quando cisma de ser mau, porra, é merda.

Mas a moça parecia sincera. Não é fácil mentir pra um cara como eu, e ela não estava nem mesmo tentando. Se alguém não a ajudasse, ela ia morrer, e não se pode deixar uma moça daquelas morrer. Não com aquelas pernas, não com aqueles olhos. Não sei se ela já conhecia a minha fama, ou se foi pura concidência, mas se eu tenho um ponto fraco, sem dúvida é esse: as moças.

Se eu quisesse ajudar a moça, ia ter que chegar ao fundo disso tudo. Pra chegar ao fundo disso tudo, tinha que passar pelo Russo, e eu não tenho nem de perto a grana que se gasta para suborna-lo.

Merda, ia ter que brigar com o Boris, e o Boris é mau pra caralho.

domingo, 8 de junho de 2008

Highlander, O Guerreiro Imortal (review)


Outro dia me falaram que a melhor forma de fazer o blog "bombar" é fazer uma análise de algum cd ou filme que está "bombando" nesse momento.
Como todos queremos o "bombamento" cada dia mais intenso aqui neste espaço, não me ausentarei de usar essa formidavel fórmula de sucesso.
O filme da vez é o grandioso Highlander, recem lançado, logo ali, em 1986. Confesso que vi o filme ontem, 3 da manhã, morrendo de sono, portanto, só assisti a primeira meia hora de filme e super desatento.
O filme começa (musica do queen) com o critofer lambert num estádio assistindo uma luta livre daquelas estilo super cats (coisa de gringo...). Vendo a pancadaria, ele começa a se lembrar da época que ele era um guerreiro escoces numa guerra dos macloud contra um outro clã que não me lembro o nome (Mais musica do queen).
Aparentemente entediado com a luta, ele resolve descer para a garagem e encontra um camarada de terno e gravata segurando uma espada na mão. Depois eu viria a descobrir que a espada era de toledo e que valia uns 1 milhão de dolares.
Bom, ele saca a sua propria espada (sim, ele carregava uma espada quando ia assistir supercats) e a pancadaria começa.
Naturalmente, cristofer ganha e corta a cabeça do rapaz. Raios e vidros quebrando, ele agora é dono dos poderes do cara que ele acabou de matar.
Com toda a destruição (tinha uns 20 carros destruidos só no processo de download dos poderes do outro cara), cristofer decide jogar fora a espada e sair com o carro em disparada.
Ele não vai longe. Mal cristofer sai da garagem, ele é cercado por umas 4 viaturas e vários policiais apontando armas pra ele. Ele dá um soco num policial, mas acaba se rendendo.
Na delegacia, depois de uma conversa de 15 minutos os caras vão e liberam ele.
Aí é brincadeira. O sujeito é flagrado saindo fugido da cena de um homicídio bizarro em que a vítima teve sua cabeça cortada, agride um policial e ainda é solto depois de 15 minutos de conversa?? E o melhor é tinha uma mulherzinha na equipe da polícia que era da parte de "forensics" - do tipo CSI.
Imaginemos a análise Grisson dela pro chefe de polícia:
Bom, a vítima aparentemente teve sua cabeça cortada, o que liberou uma grande descarga elétrica, numa velocidade de 14.4 kbytes por segundo (po, 1986) e portanto eu concluo que o assassino é o único suspeito: o carinha que vcs flagraram tentando fugir da cena do crime!
Bom, a partir desse momento a minha memoria já nao é tao precisa assim. Lembro de alguns flashes com o sean conery, mas nada demais... Pois é, o sean connery está nesse filme.
Pra finalizar com chave de ouro, abuso e uso do direito de usar os tags mais populares pra esse post! Agora sim vamos bombar!!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Ócio.

Hoje foi um dia mais ou menos vazio no trabalho. Nenhum cliente novo, poucos prazos vencendo e apenas uma reunião ao longo do dia. São dias como esse que me fazem continuar por aqui.

Aproveitei as horas vagas para fazer uma das coisas que faço melhor: pensar sobre assuntos absolutamente aleatórios, e enquanto fazia isso me dediquei à pensar sobre uma coisa que disse uma amiga, ainda esse sábado. Ela é uma mocinha muito bonita - pelo menos eu acho -, que disse que prefere namorar com homens "não bonitos".

Acho que na hora eu fiz algum comentário brincalhão, mas foi só agora que me ocorreu que isso é a base da organização social em todo o mundo nos dias de hoje.

Explico.

Existem dois tipos de homens: os superficiais e os muito superficiais. É claro que nem todo homem pode ser um superficial bem sucedido, por que afinal de contas não existem mulheres bonitas para todos - digo, bonitas de verdade, sem essa bobagem de beleza interior - e assim alguns são obrigados a se contentar com meninas divertidas, inteligentes e bem humoradas. Mas eu me recuso, se me virem com uma menina legal podem separar que é briga! Desgraçado daquele que, depois de muita derrota, entrega os pontos e não se preocupa mais com nada. São esses que se casam com as "feias chatas".

Um outro assunto que também me passou pela mente foi o quão difícil deve ser a vida de um anão. Aqui mesmo, no prédio onde eu trabalho, um anão que desejasse chegar ao décimo oitavo andar teria que usar as escadas, ou no mínimo esperar que alguém alto o suficiente para alcançar o ultimo botão do elevador aparecesse.

- Bom dia.
- Ahn?
- Oi, aqui embaixo...
- Oh, bom dia... Me desculpe, não havia visto o senhor aí.
- Tudo bem. Será que o senhor podia fazer a gentileza de me acompanhar ao elevador? É que preciso ir ao décimo oitavo, e ando com uma lordose que doi muito quando subo escadas...

Seria uma situação bem desagradável. Isso sem falar nas óbvias limitações profissionais.

- Mas pai, eu tenho certeza que nasci pra jogar basquete.
- Não meu filho, você vai ter que fazer medicina!

E ainda mais importante, pior que viver em uma sociedade onde os elevadores não são preparados para você, os hoteis te deixam com frio (já repararam que as cobertas sempre ficam nas prateleiras mais altas do armário?) e o mundo dos esportes te rejeita, muito pior que tudo isso, é viver em uma sociedade superficial. Mulheres bonitas, em geral, gostam de homens altos. Talvez seja algum instinto ancestral, talvez seja essa idéia boba de que casais devem ter altura compatível ou talvez seja apenas o medo de ouvir a frase "parabéns, você é a mais nova mamãe de um menino saudável de 12 cm", mas em geral costumo ver a maioria das mulheres bonitas com homens altos.

Vou perguntar para a minha amiga se ela já namorou um anão.