terça-feira, 10 de junho de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro.

Capítulo 1. Parte 2

Nada pareceu fazer sentido no que aquela moça disse, mas sua história era quase boa o bastante para tirar minha atenção daquelas pernas. Quase. Pedi que explicasse novamente, e dessa vez me esforcei para prestar mais atenção nos detalhes do que dizia do que na maneira sensual com que seus lábios se moviam. Detalhes. Tudo está sempre nos detalhes. Ela disse que aceitava um whiskey e acendeu um cigarro.

Boris é um daqueles caras que não se vê todo dia: sua família veio da Rússia ainda há poucas gerações, e isso por si só já faz dele um sujeito bem peculiar. Careca, branco como a neve, sempre reclamando do frio e com uma cicatriz que vai do queixo ao canto da boca. Além disso, costuma-se dizer que o filho da puta é mau como o capeta, e quando Russos cismam de ser maus, bom, é merda.

Também trabalha sob o título de detetive particular, mas Boris é muito mais que isso, - bom, todos somos, mas nem todos somos assassinos de aluguel - o Russo faz qualquer tipo de trabalho, para qualquer tipo de patrão. Outro dia uma moça muito simpática e sem dinheiro, uma dessas ex-daminhas da alta sociedade, o contratou para pegar seu ex-marido, que andava por aí exibindo sua nova - dezessete anos de idade - esposa pela cidade. Boris fez o serviço. Pegou o sujeito e o deixou, digamos, inutilizado para uma mulher. Só de farra deu também uns tapas na ninfeta que estava com o cara, e ela não tinha ainda dezoito anos de idade. Mas quem levou a pior na história toda foi a ex-mulher. Ninguém nunca mais a viu em público, mas dizem que está completamente desfigurada desde que o maldito cossaco descobriu que não ia receber um centavo pelo trabalho bem feito.

Não estou defendendo o desgraçado, esse tipo de coisa não se faz com uma mulher por nada nesse mundo, mas por outro lado todo mundo deveria saber que você não pode contratar o Boris à menos que tenha muito dinheiro para paga-lo depois.

Foi a lora dizendo esse nome que me chamou atenção. Sabia que era sério, e sabia que era merda. Não que eu tivesse medo do cara, mas é que eu não sou esse tipo de detetive, esse que você contrata pra bater em alguém, e com ele nada se resolve na conversa. Russo quando cisma de ser mau, porra, é merda.

Mas a moça parecia sincera. Não é fácil mentir pra um cara como eu, e ela não estava nem mesmo tentando. Se alguém não a ajudasse, ela ia morrer, e não se pode deixar uma moça daquelas morrer. Não com aquelas pernas, não com aqueles olhos. Não sei se ela já conhecia a minha fama, ou se foi pura concidência, mas se eu tenho um ponto fraco, sem dúvida é esse: as moças.

Se eu quisesse ajudar a moça, ia ter que chegar ao fundo disso tudo. Pra chegar ao fundo disso tudo, tinha que passar pelo Russo, e eu não tenho nem de perto a grana que se gasta para suborna-lo.

Merda, ia ter que brigar com o Boris, e o Boris é mau pra caralho.

2 comentários:

Anônimo disse...

E mais uma vez o Bernardo consegue falar dele mesmo fingindo que está falando de outra pessoa.

Bernardo Coelho disse...

Hum... Só espero que você não esteja se referindo ao Boris.