quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Terrível Mundo dos Canais Baixos

Na minha casa não tem TV a cabo. Pra começar porque sou pão-duro e acho que tem coisa mais interessante pra gastar meu (pouco) dinheiro. Depois porque sou preguiçoso demais pra fazer um gato. Até sei como faz, mas não tomo iniciativa e ainda fico pensando que se eu tiver canais minimamente interessantes, como a Fox ou o Telecine, talvez eu perca ainda mais tempo fazendo nada do que já perco na internet &c.

Mas o fato é que, não tendo TV a cabo, eu sou obrigado a ver pelo menos um pouquinho de TV aberta por dia. Pois depois de ler 6, 7 horas direto, sempre preciso de uns minutinhos sendo um espectador passivo, sem ter que entender nada, pensar em nada, nem dar input maior do que trocar um canal. Deve ser isso que chamam de "couch potatoing".

Chego finalmente ao assunto que quero tratar: o desafio que é ver TV aberta. Cada dia me surpreendo mais com a baixa qualidade das produções. É um esquema meio surreal: os apresentadores são antipáticos e pouco interessantes, os temas são mal escolhidos, os textos são péssimos e normalmente mal-informados, e ainda por cima, quando não é na Globo, cenário, vinheta, figurino e tudo mais são um nojo.

Acaba que eu divido a programação nas seguintes categorias:


a) Programa bom de ver

Não significa que ele seja bom de verdade. Quase nunca o é, mas ao menos ele cumpre o que se propõe. Nesta categoria estão incluídos basicamente noticiários e programas de esporte.

Obviamente o texto e a narração dos programas de futebol são irritantes pra diabo, especialmente as metáforas poéticas da "escola Tino Marcos de jornalismo esportivo" e a voz de gralha do Galvão, mas você vê ali os resultados, as transferências, os jogos, e tal (ainda tem o fato de que a atenção é sempre maior aos times de SP, mas deixa isso pra lá).

Obviamente o posicionamento político dos jornais é sempre tosco, mas ao menos você fica sabendo do que está acontecendo no mundo (ainda que depois precise buscar um ponto de vista mais interessante em outro lugar depois).

Em suma, são programas que você assiste pelo que são, e fica relativamente satisfeito. Também nessa categoria estão os raríssimos clipes da MTV, alguns de culinária e uns poucos documentário da TVE.


b) Programa que é ruim, mas é bom

A maior parte da programação. Isso porque eu tenho um senso de humor ácido, como todos sabem. Ver esse tipo de programa é uma espécie de metadiversão. Porque na verdade você não está realmente se divertindo com o tema do programa, mas com a maneira tosca e idiota que ele é feito.

Acho que o exemplo supremo seria Malhação, nos tempos áureos de Cabeção, Myuki e cia., mas ultimamente a novelinha caiu pra categoria (c), infelizmente (ver abaixo).

Mas não faltam representantes de ruindade boa na TV aberta brasileira. Quem é do Rio já deve ter visto o programa do Wagner Montes (sim, o marido da Sônia Lima, ex-jurado do programa de calouros). É desses programas policiais direitosos, tipo Datena, Ratinho, só que com a diferença que não dá pra entender picas do que o Wagner fala, pois a pronuncia dele é péssima, e ele às vezes parece dar em cima das repórteres dele. Hilário.

Tem também os Leão Lobos, Ana Hickmans, e todos os outros de fofoca e bobeira pra donas-de-casa, que te fazem pensar sobre a maneira bizarra que o sistema de celebridades se implantou no Brasil (depois eu escrevo um post só sobre isso). Sempre geram piadinhas e comentários sobre o novo penteado da Britney, o cachorro da Suzana Vieira, ou qualquer coisa importantíssima do tipo.

Mas meus favoritos mesmo são os game-shows, especialmente o do Gilberto Barros (A Grande Chance). É maravilhoso! Você responde as perguntas, se sente mais inteligente que as pessoas que participam, zoa as dancinhas das figurantes, os erros de pronuncia do apresentador, e ainda fica imaginando que, se fosse lá, poderia ganhar um automóvel zerinho (fonfon)!


c) Programa que é tão ruim que nem chega a ser bom, nem por piada

Já tentou er Raul Gil? Luciano Huck? Simplesmente não desce pela goela, não dá. Nem pra achar eles ridículos, pra se sentir melhor que eles. Nada. Pelo contrário, dá uma certa angústia de assistir, às vezes tonteiras, e uma sensação de que há algo de muito errado com o mundo.

Pra mim novela entra nessa categoria (mas entendo que pra muita gente esteja na (b), ou até mesmo na (a).

A MTV como um todo, infelizmente, também me parece ser um grande (c). Antigamente você via uns clipes, coisas assim, uns programas sobre música que poderiam ser interessantes. Mas hoje em dia você tem um monte de Namoro na TV, Ana Maria Braga e outros programas genéricos, só que com uma "linguagem jovem" o que significa simplesmente vinhetas com animação muito colorida, umas gírias paulistas desprezíveis do tipo "na faixa" e "tudo sussa", e apresentadores nojentamente modernosos, do tipo que você cuspiria se encontrasse na rua. Mesmo os raros programas sobre música estão piores do que nunca, com poucas informações e textos mal escritos, do tipo engraçadinhos-sem-graça - e o pior: lidos em uma retórica "tenho piercing, fiz publicidade na FAAP e adoro CSS". Além disso pega cheia de chuvisco aqui.


s) Sílvio Santos

Merece uma categoria toda sua. Simplesmente porque o Senor Abravanel consegue unir as categorias (a), (b) e (c) em um mesmo bloco. Seu padrão de qualidade tosco, porém testado e aprovado é algo que todo mundo conhece. Cenários ruins, músicas ruins, conceitos roubados de programas gringos e os mesmos trejeitos de sempre, que todo mundo acha que sabe imitar.

E o melhor é: ele sabe de tudo isso e usa tudo isso de uma maneira muito estranha. É como se fosse uma metametadiversão, nesse caso, pois o "seu" Sílvio joga com sua imagem, apelando tanto pra quem gosta dela quanto pra quem se diverte zoando ela, de maneira ciente e aberta, como se falasse "pode zoar, desde que continue assistindo e comentando". E dá certo, você acaba se cativando pelo cara, mesmo que seja se cativando por odiar ele, ou por zoar ele. E o Roque, e o Lombardi, e o Jassa, e o Pedro de Lara, e tudo mais que o circula.

No fim das contas isso me faz pensar que, com tudo isso, acho que eu não estou mal perdendo meu tempo com Silvios, Wagners, Gilbertos e etc, ao invés de Houses, Mythbusters, e não sei mais o que. Pois o que eu quero MESMO ver eu posso baixar na internet ou ver no youtube, e o resto é só pra passar o tempo mesmo. Então, que diferença faz uma diversão boba na Fox ou uma diversão boba num plano de abstração mais alto, como no SBT? Acho que vou continuar sem gato mesmo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom texto! MTV Brasil acabou há tempos mesmo, chegou no nível da gringa, mas parece ter sido uma opção financeiramente saudável pra eles. Só uso TV à cabo pra canais de notícias, sou viciado neles. Séries que eu via eu tô baixando, na verdade se o universal colocasse as séries com comercial pra baixar eu baixaria. Os caras estão é perdendo em competir com a internet.