Uma das coisas que vêm me martelando é o quanto eu me exponho blogando e como isso poderia ser bom ou ruim. Meu blog é pouco lido, isso não é uma questão de estar colocando minhas idéias na mesa pra milhares ou muitas milhares de pessoas lerem. Fora ocasionais visitas do Google, acho que tenho uns 2o ou 30 leitores - sendo otimista.
O problema real é outro. Como eu já disse antes, o Savoir-Faire é misteriosamente bem classificado no Google. Digitar meu nome e apertar o botão "Estou com sorte" traz qualquer um diretamente pra cá. Um eventual professor, colega de trabalho, amigo, empregador ou namorada sempre vai ter acesso a tudo o que foi escrito aqui. Basicamente, eu uso esse espaço pra discorrer sobre algumas coisas que eu penso, exercitar uma veia literária porca e, muito de vez em quando, fazer comentários pessoais - e mesmo assim procuro não me expôr tanto.
A diferença entre escrever sobre o que se pensa e escrever o que se pensa é enorme. Desde quando comecei a escrever blogar, em 2002, vi muitos blogs conseguir audiência promovendo um strip-tease da vida pessoal dos autores. Estes praticamente publicavam os próprios diários para todo mundo ler - e não era raro ver posts sendo deletados por conta disso ou os autores fazendo meta-análises como essa e se arrependendo de terem escrito algumas coisas. Hoje, com a introdução do microblogging, é possível enviar mensagens via celular e falar sobre o que estiver fazendo a qualquer hora. Ok, mas quem se interessa por isso? Quem vai ler esse tipo de coisa?
Quando os blogs viraram febre muita gente se perguntava sobre isso também. Ninguém achava que seria útil ler sobre o que outros pensavam ou mesmo acompanhar um "querido diário" eletrônico. Essa previsão de pouco interesse nos blogs se mostrou equivocada e em pouco tempo eles se tornaram a mais difundida forma de publicação pessoal na internet - seu formato foi incorporado a muitos sites.
O que estava por trás disso era uma idéia de publicação rápida e acessível. Enquanto num website você tinha que elaborar o texto e depois se desdobrar na frente de um editor de html, no blog a ferramenta de edição de texto já era incorporada e facilitava muito a vida de quem não queria gastar tempo editando páginas e fazendo uploads. Assim, os blogs foram os grandes responsáveis por democratizar a publicação na internet.
Apesar de seu uso por profissionais e a instituição dos pro-bloggers ter dado um ar de seriedade aos blogs como ferramentas de circulação de informações, eu penso que existe um pontecial nos blogs pessoais que parece pouco explorado. O que vejo hoje é a possibilidade deles como reforço de redes sociais já existentes ou criação de novas redes. Pessoas que se conhecem (de perto ou virtualmente) e se interessam mutuamente pelo pelo conteúdo que produzem, fabricando um novo espaço para o debate do que quer que seja.
Essas redes, de alcance limitado mas potencialmente amplo, não têm porque ganhar uma grande audiência. Seu objetivo primário seria a troca de idéias pura e simplesmente. Como inteligências coletivas, de indivíduos autônomos, elas são fluídas e seus membros podem pertencer simultaneamente a várias delas. Seu poder de intercomunicação perpassa a simples publicação e leitura, inserindo a figura do comentário, da repetição, do questionamento de um leitor em seu próprio espaço - outro blog.
Assim é possível ter um outro modo de articulação e diálogo entre pessoas que se encontram todos os dias ou que não se conhecem - mas possuem quaisquer interesses em comum. Sem se expor, ainda que em níveis mínimos, tudo isso seria impossível. Mais do que conseguir uma simples audiência, os blogs são uma possibilidade de encontrar colaboradores, parceiros, amigos, de construir idéias em conjunto.
Então, com a cabeça menos pesada, mantenho o Savoir-Faire até quando puder.
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