domingo, 15 de junho de 2008

Todo mundo morre cedo em Ribeiro

Capítulo 1. Parte 3.

De tudo que dava muito dinheiro nessa cidade só o que sobrou foi o Carnaval. Ninguém sabe bem ao certo como foi que isso aconteceu, mas há pelo menos cinquenta anos atrás as pessoas do país inteiro começaram a achar que deviam vir para as festas e feiras locais, e desde então elas nunca mais pararam. A cidade quase dobra de tamanho na época, é um saco. Quando tudo mais por aqui começou a desmoronar, ao contrário do que se imaginava, a coisa ficou ainda maior, e à medida que a cidade se arruinava foi só aumentando. Adolescentes procurando por drogas baratas, famílias levando crianças aos circos, daminhas procurando por novos maridos, velhos buscando prostituição infantil, traficantes contando com a incopetência da polícia e ricaços procurando por esposas bonitas. A grana não para de entrar, e é muita grana nisso tudo. Donos de hoteis, prostitutas, velhas donas de pensões, farmácias, traficantes, restaurantes, taxistas, políciais e juizes corruptos, a prefeitura, o prefeito e basicamente todo mundo que tem alguma coisa pra vender só ganham dinheiro de verdade nesses cinco dias do ano. E é tudo isso controlado pelo sindicato dos palhaços.

Quem manda na cidade é o sindicato, e quem manda no sindicato é o Emboabinha. O palhaço Emboabinha é um sujeito de quase dois metros de altura, nariz redondo e vermelho, cabelo laranja e um sorriso sustentado por maquiagem no rosto. Maquiagem e cocaína, claro. O girassol espetado no casaco, os sapatos enormes e a calça número 84 atachada em um suspensório são seu uniforme, e seus dezoito capangas nunca o perdem de vista. É facil seguir um homem assim, e eles o seguem por toda parte em um único fusca verde limão. Ninguém sabe direito quantos anos ele tem, muito menos de onde veio. "Emboaba" provavelmente não é seu nome de batismo, e fica bem difícil investigar um cara que não tem nome nem rosto. Além disso ele tem olhos e ouvidos pela cidade inteira, e quando alguém procura saber qualquer coisa sobre ele seus dedos entram em ação. Alcaçam toda a extensão da cidade, dos mais ricos aos mais pobres, dos políticos aos marginais, e seja entregando um bolo de notas verdinhas, seja puxando o gatilho de um 38, fazem qualquer curioso deixar de lado o pecado que matou o gato. Gatos morrem rápido em Ribeiro.

O Boris, como quase todo mundo nesse maldito lugar, costuma trabalhar para o Emboabinha. Existem dois tipos de capangas: os maus e os maus pra caralho. Quando você quer um trabalho sujo bem feito, você contrata os do segundo tipo, e entre os maus pra caralho, o Boris é o que há de melhor.

Quando você cresce em uma cidade como Ribeiro vê muitas coisas que te assustam. Por aqui os pacifistas são violentos e os psicopatas são sempre absolutamente brutais, e se você não é um dos poucos que nasce com grana, é o seu medo que te deixa vivo. É ele que te deixa longe de encrencas, e é ele que te diz que o sujeito parado na esquina está arrumadinho demais pra ser um policial de verdade. O uniforme está muito bem engomado, e os sapatos dele valem mais do que um mês de soldo da polícia, e mesmo com as propinas um tira tem coisas mais importantes pra fazer com a pouca grana que ganha do que comprar calçados italianos. Detalhes, está tudo nos detalhes. Assim que a moça sai pela porta do prédio, levando com ela suas lindas pernas para dentro de um taxi, ele entra. Por sorte uma coisa que aprendi nesse ramo é que sempre se deve olhar pela janela quando sai um cliente, especialmente quando esse cliente é uma lora com um traseiro tão bonito. Por um momento fico feliz, achando que tirei a sorte grande, pois esse idiota vai entrar aqui sem suspeitar que o estou esperando, e talvez ele me poupe uma grande quantidade de trabalho.

Mal dou tempo do cara sair do elevador e deixo ele sentir na nuca o cano da minha Eagle. Quietinho, babaca, você não é da polícia, e é bom começar a pensar em um bom motivo pra que eu não espalhe seus miolos aqui mesmo nesse chão imundo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto longo, cansativo, e que não envolve o leitor...é melhor vc parar de escrever e ir ler um bom livro...

~tam disse...

Não concordo.
Eu seria a primeira a comprar um livro seu.
;D