Do pináculo da mais alta complexidade do universo tudo pode ser visto com clareza. Uma clareza que revelava um futuro permeado por um mau agouro. O bater das asas de uma borboleta não vai causar um furacão, mas até o mais insignificante dos seres vivos consegue desencadear uma tragédia nesse mundo de infinitos blocos em cima de blocos. É o topo, ao menos dessa montanha. Não existe para onde ela possa crescer sem que tudo a sua volta precise desmoronar, pedaço a pedaço.
Eu estava assistindo a mim mesmo, enquanto pensava nisso. Eu pensava, acho. Talvez estivesse recebendo alguma mensagem de uma entidade superior. Ou de Deus. Talvez de ambos, já que Deus é uma entidade superior. Ou deveria ser. Mas alguma coisa que me diz que ele é pior do que eu toda vez que leio a Bíblia. Claro, se existe algo maior que nós, ele provavelmente não pensa como um bando de profetas do deserto em abstinência sexual.
Renata olhou pra mim. O nome dela era uma representação ou um significado? Um signo. Perdida, acho que eu conseguia ouvir o que ela pensava naquele instante. Algo sobre o meu rosto estar derretendo. Parecia tensa. Sorri e tentei dizer algo pra acalmá-la. Mas ela entendeu antes que qualquer coisa saísse da minha boca.
Tudo nunca havia parecido ser tão insignificante. O mundo cabia na minha mão. Mas eu não era maior que nada, eu só compreendia. Tudo? Talvez nada, mas sempre simultaneamente, como se as conexões mais improváveis fizessem sentido. Em ordem alfabética. Um deleite absorto tomava conta.
Naquela hora eu reinventei a mim mesmo. Como uma palavra troca de grafia e significado através do tempo. Havia chegado a minha vez, como se tudo esperasse por aquele momento. Nenhum sábio, filósofo ou cientista sabia o que se passava ali. Minha própria iluminação. Nada mais precisava ser dito. Paz. Nada mais precisava ser feito. Dentro do casulo que havia se formado, os pensamentos só abriam caminhos circulares. Um loop infinito.
Mas Renata não entendeu. Me olhou com preocupação, equivocada sobre a mim. Disse coisas que eu não ouvi, e nem queria. Apontei pra uma pedra. Queria que ela se sentasse. Coisas aconteceram, nenhuma mereceu minha atenção. Nada importava como nada importa.
O Nirvana tem paredes brancas.
6 comentários:
semiótica mística universalista do budismo ocidental. gostei [c=.
Esqueceu de dizer que é quimicamente induzida :)
todo budismo ocidental é (ou deveria ser) quimicamente induzido.
Bom ponto!
na verdade meu comentário original ia ser "dude, are you on crack?", mas imaginei qvc poderia ficar ofendido...
:P
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