terça-feira, 31 de julho de 2007

Killer Cars

Outro dia conheci um cara que tentou se suicidar batendo a moto, mas não quebrou nenhum osso com isso. Um tempo depois, quando já não queria morrer, sofreu um acidente na ponte Rio-Niterói e ficou três meses em coma. Ele disse que a última coisa que lembra é se levantar do asfalto e ver um farol de carro vindo na direção dele. Após anos, a noiva dele (que trabalhava no interior e pegava a estrada toda semana) bateu o carro e morreu. Ele disse que essa foi a pior coisa que já aconteceu na vida dele.

Esse cara não é a única pessoa que eu conheço que perdeu alguém em acidente de carro, e acho que todo mundo já teve um amigo ou conhecido morreu assim. Quem lembra do único filho da professora da UFMG que morreu indo de ônibus pra Venezuela? Era condução do D.C.E.

Em um dos finais-de-semana dessas férias de julho morreram 94 pessoas de acidente de carro só em Minas Gerais... Se somarmos o Brasil inteiro é fácil ver que isto ultrapassa de longe as 199 que morreram no acidente do avião da TAM. Só que "O Brasil" não ficou emocionado com essas pessoas que morreram de carro, nem indignado com um possível "apagão rodoviário" (urgh!). Por que será?

Acho que acidentes de avião soam muito horríveis porque morre muita gente de uma vez - e mais que isso, porque há uma sensação de que não se pode fazer nada. Há a impressão de que acidentes de carro poderíam ser evitados pela vítima, já que se devem muitas vezes a imprudências, cansaso etc. Avião não: quem morreu, fora o piloto, e normalmente ele incluído, não pôde nunca fazer nada, a não ser sentar e morrer carbonizado na posição de impacto.

Mas muita gente morre de acidente de carro no Brasil, muita gente mesmo, e não adianta falar que são só as condições das estradas, os caminhoneiros que dirigem com sono, ou o uso do álcool antes de dirigir. Não vem que não tem, automóveis matam e matam muito. Quando não é por acidente, é pela contribuição que eles fazem ao efeito estufa graças ao CO2 que lançam na atmosfera, ou graças ao stress que causam nas grandes cidades esses engarrafamentos longos e insuportáveis que ter deixam 15 minutos preso entre a quadra e outra.

O que me assusta é que nunca vi ninguém simplesmente sugerir que se abdique dos carros, em prol de outros meios de transporte. Esta não é uma questão que parece incomodar as pessoas. E olha que vivemos num mundo onde a vida longa e saudável é uma obrigação: ninguém pode mais fumar, comer alimentos gordurosos, sujar a cidade, emitir poluentes, entrar em brigas, usar drogas pesadas nem fazer nada que possa diminuir a extensão de nossa vida ou da vida do planeta.

O carro é o meio de transporte mais burro que já inventaram: ele polui, é perigoso, caro pra caralho (pro estado e pro dono) e o pior de tudo é que ele depende de um idiota atrás do volante que faz o que quiser com ele. Alguém já imaginou uma cidade sem carros, só metrôs, alguns trens de superfícies, funiculares (em cidades com terreno acidentado), biciletas e segways para distancias curtas e ocasionalmente uns ônibus? Imagina como seria mais bonita, limpa, calma. Óbvio que isto necessitaria de um investimento inicial gigante, mas a longo prazo estradas são mais caras, pois exigem mais manutenção, reparos, além dos gastos com seguros etc. Que deixassem os carros só para situaões offroad, onde não há trilhos. Nossa vida seria completamente diferente, tanto que mal é possível fazer uma imagem mental. Mas desconfio que seria melhor. Não ia ter crise do petróleo, por exemplo. Provavelmente não ia ter intervenção americana no Oriente Médio. Não ia ter de derramamentos de óleo, explosão de plataformas petrolíferas e similares. Não ia ter a musiquinha irritante da propaganda da PetroBras. Ou ia ter menos, pois o petróleo teria menor procura e, logo, menor preço.

Claro que isto nunca vai acontecer. Claro que é uma merda morar em BH sem carro, não dá pra ir no Santa Tereza a não ser de taxi; Baile da Saudade então fica fora de cogitação pra quem mora na zona centro-sul. Aqui no Rio nem tanto, o metrô funciona muito bem e tem muito ônibus de madrugada pra onde eu moro (Lapa-Tijuca deve ter uns 5 diferentes, sempre cheios até 3 da manhã), os taxis são mais baratos também. De vez em quando faz falta um carro pra ir pra uma praia mais legal, tipo Itacoatiara ou Recreio, que exigem mais de 2 horas de ônibus. Pegar estrada com os amigos também é muito legal as vezes. Mas eu abriria mão fácil dessas coisas em prol de um mundo sem carros. Fácil.

A não ser que fossem carros voadores. Aliás, o ano 2000 está chegando: voltaram a produzir o DeLorean, só que ainda é o do De Volta Para o Futuro I, o que não voa. Damn.

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma vez, quando era moleque, eu cogitei durante uma aula de inglês o quanto seria melhor o mundo se as pessoas andassem de bicicleta. Obviamente fui ridicularizado pelos cabeça-pequena de interior que estudavam comigo. "Como assim cara, você vai chegar numa festa de bicicleta?" O carro era a extensão do pênis deles e ainda deve ser. Num mundo sem carro teriam que inventar outro produto que fizesse esse papel fetichista. E Belo Horizonte, em termos de transporte coletivo, é simplesmente a capital mais errada do Brasil...

Locadora do Werneck disse...

E agora tem 1 bilhão e 200 milhões de chineses louquinhos pra comprar um carro bem fumacento! Durma-se com um barulho desses!