quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Dois irmãos - Parte I

Sempre me intrigou a enorme quantidade de estabelecimentos comerciais com o nome "Dois Irmãos". Padaria Dois Irmãos, Mercado Dois Irmãos, Oficina Dois Irmãos, Botequim Dois Irmãos, Borracharia Dois Irmãos, Clínica Dois Irmãos, qualquer coisa Dois Irmãos. Pensava eu que existiam duas possíveis explicações: Ou o pequeno empresário no Brasil não tem muita criatividade, ou existe por aí uma dupla de irmãos extremamente bem sucedida.

Qual não foi o meu espanto ao descobrir que ambas as explicações estavam erradas. Um breve, porem esclarecedor estudo histórico, revelou que o império Dois Irmãos é muito mais antigo e prolífero do que imaginava, e tem suas raizes na Áustria, e na figura do grande Arqueduque Francisco Ferdinando seu fundador.

Ferdinando era filho da nobreza, isso todos podem imaginar, o que muita gente não sabe é que nasceu de um parto extremamente conturbado, que custou a vida de sua mãe e de seus dois irmãos que nasciam naquele mesmo dia. Um dos raros casos de trigêmeos univitelinos, o arqueduque aprendera logo em seu primeiro dia o valor da vida, ao mesmo tempo descobria a necessidade de saber lidar com a morte.

Filho de tragédia tão grande, seu pai o criava com muito esmero e dedicação, muitas vezes com cuidados exagerados. Quem adentrava o castelo dos Ferdinando encontrava logo uma criança de aparelho nos dentes, botas ortopédicas, pescoceira corretiva e geralmente besuntada de protetor solar a base de óleo de ríncino (seu pai acreditava que o sol havia sido o responsável pela morte de seu avô, o Arqueduque e general de brigadas Genival Gerioswaldo Ferdinando. Os médicos ainda hoje se perguntam se foi, de fato, algum tipo de cancer de pele ainda não descoberto à época o responsável pela morte).

Constantemente cercado por médicos, e por um insuportável odor de óleo de ríncino, o arqueduque teve uma infancia solitária, pois as outras crianças nunca o deixavam participar das brincadeiras e cunhavam-lhe toda sorte de apelidos degradantes, como Francisco Fedorento ou Quatro Olhos Ferdinando. Sua infancia desgostosa empurrou-lhe aos braços da única mulher que nunca reclama: a ciência.

Estudioso implacável, Chico Fê (como era conhecido nos bares próximos ao porto da cidade onde morava) demonstrava particular interesse pelo estudo da botânica, da antropologia, da engenharia mecânica e da matemática, o que desagradava muito seu pai, que vivia reclamando ser o único nobre da Áustria que não tinha um filho médico ou advogado.

Mas Francisco não deixou-se abater. Ainda aos 17 anos foi responsável pela invenção de um instrumento que viria revolucionar a carpintaria moderna: o serrote. Com a patente de tal invenção, nosso heroi tornara-se rico em pouco tempo, e aos 19 anos já havia em muito superado a riqueza de seus pais.

Mas Chico era um espírito inquieto. O fogo que ardia em sua alma não permitiu que ele ficasse parado. Rumou no ano de 1904 para a Birmânia, onde combateu uma infestação de macacos mordedores e fundou a primeira colônia de nudismo masculino que se tem registro. Nos anos que se seguiram viajou pelo mundo. Impulsionado por sua curiosidade antropológica e por sua vontade de conhecer lugares diferentes, não existe um só país em toda a Ásia ou África que o Arqueduque não tenha visitado.

De retorno à Austria, Francisco Ferdinando percebera que hora de fazer mais. Impressionado com o recente avanço da industria automobilistica, Chiquito (como era conhecido nos restaurantes de Viena) decidira abrir sua própria montadora de Automóveis.


(continua na parte II)

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Arquiduque! Era realmente um homem genial.