terça-feira, 7 de agosto de 2007

Vendido #1

Alguém me disse uma vez que o problema com as mulheres é que além de você não conseguir entendê-las e nem elas se entendem. Porra nenhuma. Esse é o problema de todo mundo, até mesmo dos psicanalistas. Ninguém entende ninguém, do contrário não teriam inventado os fuzis.

Duas semanas desde quando eu tinha pegado minhas coisas. Sair de casa foi o mais difícil, eu tinha me acostumado com tudo. Trinta e dois anos de idade, pouca paciência e menos vontade de viver ainda. Sempre disse que casamento era errado e ainda assim casei. Apaixonado, lógico. Só existem três condições que motivam um casamento: gravidez, interesse financeiro e paixão. Talvez comodidade entrasse nessa lista, mas acho que encosta bastante em interesse financeiro. Que tipo de idiota procura paz tentando viver com um estranho sob o mesmo teto?

Não pensei em nada disso quando disse sim. Só conseguia imaginar uma casona, um golden retriever, ela linda e dois filhos perfeitos. Em cinco anos, tudo virou um montinho de cinzas, devidamente acompanhadas de brigas horríveis.

XnX LXXsX também era apaixonada, mas nunca me deu muito crédito. Muito menos sua família, especialmente seus pais. Me odiavam, eu parecia uma mancha na vida perfeita da filhinha que eles, dois emergentes asquerosos, criaram com tanto carinho. Eu era um vagabundo pra eles todos, até minha mulher. Tudo porque não queria me matar de trabalhar 15 horas por dia, 6 dias por semana pra depois passar um mês esquiando em Bariloche e então recusei o emprego que o sogrão me ofereceu.

Mas ok, ok, ok. Isso não foi o maior dos males. Eu trabalhava, pagava minhas contas, comprei meu carro, móveis, viagens pra lugares que me interessavam e eu podia pagar. Depois de quatro anos juntos, morando num apartamento bacana, Ana decidiu que queria o mesmo estilinho emergente do papai.

Ela era publicitária, ganhava algo decente, podíamos ter feito a vida assim. Mas não, resolveu montar a própria agência usando grana do velho e me intimou a trabalhar com ela. Achava que assim ia ganhar uma fortuna. Nunca devia ter deixado ela me convencer que ia dar certo. Imagine o inferno conjugal elevado à décima potência. Agora embrulhe tudo e enfie no cu. É algo próximo do que acontece quando você trabalha do lado da sua mulher.

Sim, porque na segunda semana o respeito vai embora. Lá pelo segundo mês o sexo se torna um inferno. Ao invés de aproveitar a onda e querer trepar no escritório vocês vão seguir o inverso e trazer todos os problemas do trabalho pra cama.

E sim, no meio de todo esse caos ela ainda vai querer ter filhos. Eu justifico esse tipo de coisa com aquelas teorias de que as pessoas têm instintos de reproduzir quando estão em perigo, durante guerras, por exemplo. Porque cada centímetro da minha vida tinha virado um campo de batalha, e ela era o general nazista. Bela merda isso. Bom jeito de destruir o que cinco anos de convivência tinham erguido.

Então, um dia ela explodiu, falou o que não podia, ou não devia. Eu destrui meio quarto e depois enfiei tudo o que era importante dentro daquela mala ali. Podia ter ficado por lá, podia ter resolvido as coisas. Mas não. Joguei tudo no lixo quando deixei aquele apartamento. Me sinto péssimo, me sinto bem. Vai passar. Tudo passa.

4 comentários:

Rogério Brittes disse...

"Imagine o inferno conjugal elevado à décima potência. Agora embrulhe tudo e enfie no cu."

sshshs. Muito bom!

Anônimo disse...

Tsc, toda essa sutileza poética, né?

Locadora do Werneck disse...

Eu gostei mais da parte dos fuzis.

Estou chocado com a semelhança entre isso que você descreveu e a minha vida real. A profissão, o nome, a duração... sinistro!!!

Anônimo disse...

Então sou um profeta, porque isso está escrito desde o início do ano :)