domingo, 5 de agosto de 2007

Feio, Forte e Formal

Consegui emprestado com uma amiga umas edições da revista Animal. Essa revista de quadrinhos, que saiu no Brasil entre 87 e 91 (acho), simplesmente não tem paralelo na história do mercado editorial brasileiro. Pra começar, tinha distribuição nacional; além disso, era toda em cores, com papel bom e impressão de primeira; mas o mais legal dela é que nessas páginas saíam a nata do quadrinho não-comercial mundial. Passando longe da Marvel, da DC e mesmo da Vertigo, a Animal lançava quadrinhos europeus, latino-americanos e americanos que não se acham facilmente por aí.







Tinha histórias de RanXerox (escritas pelo italiano Liberatore), um andróide nervoso e mal-humorado que espalhava violência gratuita pelas ruas da Roma do futuro, e namorava Lubna, uma junkie de 12 anos. Com imagens bem explícitas de sexo e gore.













Tinha a saga de Peter Pank (do espanhol Max) lutando com seus garotos perdidos e cheiradores de cola contra piratas rockabilly, numa terra do nunca cheia de hippies nojentos.









Tinha as tirinhas de Cowboy Henk (dos belgas não-francófonos Kamagurga e Herr Seele), um cowboy que não usa chapéu, não fuma, não vive no velho oeste, não anda de cavalo e só faz coisas completamente nonsense.












Tinha os casos do detetive particular Johnny Nemo (dos britânicos Milligan & Ewins), um fumante inveterado que usava terno new-wave, moicano e um senso de humor irônico para resolver seus casos, sem a menor delicadeza, em um futuro absurdo. Me parece ser uma grande inspiração para o Spider Jerusalem de Transmetropolitan.









Tinha Patrick Lambert, uma espécie de Corto Maltese mal caráter e praticante de Vudu que tentava golpes milionários em Lagos (essa é dum cara que chama Matthias Schulteiss, alemão).

Tinha umas histórias depravadas do francês Albin Michel. Tinha o Superwest, uma espécie de supermouse que tomou ácido, do italiano Mattioli. Tinha a história da guerra do Paraguai nos traços do brasileiro André Toral. Tinha contos do smiley junkie de Mosquil. Tinha a comédia de sci-fi Burton Y Cib. Tinha a australiana Tank Girl (que eu não gosto muito). Tinha umas histórias dos irmãos Hernandez. E mais um monte de autores e histórias que eu nunca tinha ouvido falar mas que são quase todas muito, muito boas.


Era tipo a Heavy Metal, a Cannibale ou a El Víbora, só que brasileira e barata. E no meio dela ainda vinha um encarte muito foda chamado "Mau - Feio, Sujo e Malvado", que era um fanzine em papel jornal com resenhas de shows underground da época (Pin Ups, Sepultura, Volkana...); contatos para outros fanzines (inclusive o então-nascente Midsummer Madness); quadrinhos de gente como Fábio Zimbres e Newton Foot, Adão Iturrusgarai e MZK; matérias sobre música, eco-terrorismo, besteiras e putaria; anúncios underground que hoje soam nostálgicos (da Cogumelo Records e da Fluminense FM, por exemplo); e uma central verificadora de boatos, de onde eu copiei meu último post ali em baixo.

Ah, eu sei que Anthrax é com H, mas copiei do jeito que tava na revista. Mau tinha cara de fanzine mesmo, era tosca, cheia de erros, de coisas feias e inúteis. E por isso mesmo era muito foda, como a Animal também era.

O triste é que não somente inexiste e inexistirá no futuro próximo qualquer publicação desse nível no Brasil, mas também é super difícil achar cópias da Animal por aí. E esses quadrinhos que eu citei acho que ainda não foram parar na internet. Os torrents, DC++ e emules da vida são muito bons pra música e filmes, mas, no tocante a quadrinhos, e especialmente quadrinhos não-mainstream, ainda deixam muito a desejar. Acho que só fuçando em sebos ou pegando emprestado de alguém aqui ainda tenha. Pena que eu não tenho scanner...

10 comentários:

Locadora do Werneck disse...

Eu devo ter umas 10 edições aqui, mas infelizmente também não tenho scanner... Sem dúvida foi a revista mais foda que já saiu no Brasil!!

Rogério Brittes disse...

ix tá esquisita a formatação ai. acho que o blogger nao foi feito pra enfiar muita iamgem. tive que encher de "enters" pra não ficar tudo um em cima do outro.

Anônimo disse...

Ranxerox e Johnny Nemo eram do caralho. Não lembro de ter lido o Peter Pank... o Caipira tava falando nele outro dia.

Cláudio Silvano disse...

Classe!

Anônimo disse...

disponho de quase todas as edições da revista em comento. Gostaria de passá-las, caso alguém se interesse. Valor: R$ 7,00 cada.
Estou no rogerio_louzada@yahoo.com.br

Anônimo disse...

vocês esqueceram de falar do edmundo o porco,dei muitas riasadas com ele

Anônimo disse...

Tenho todas encadernadas e em excelente estado. Na nossa sociedade moralista de hoje, certamente seria queimada numa fogueira santa qualquer...

Anônimo disse...

Gostaria de saber se alguém tem números para vender.

vitor.bat@gmail.com

Anônimo disse...

eu também

Anônimo disse...

e as grandes aventuras animal? A bionda? ou Os Amputadores de Anabelle? acho q era esse o nome...