sábado, 29 de setembro de 2007
- Tenho. Não agüento mais.
- Mas espera, pensa um pouco no assunto!
- Cansei de esperar. Passei a vida inteira esperando. É como se a minha vida fosse um ônibus e eu estivesse no ponto esperando ela chegar. Só que já está tarde e eu quero ir pra casa. Eu vou pegar um taxi.
- Eu não sei se é uma boa idéia.
- Eu estou com o saco cheio das suas malditas boas idéias. Tudo que você faz é planejar, estudar, analisar. Olha pra sua bunda. Ela é mole e grande, porque você nunca sai do lugar, está sempre em alguma cadeira: no escritório, na escola, no carro, no bar. Você fica me prendendo aqui com suas idéias.
- Não precisa falar assim.
- Não. Desculpa. Não preciso mesmo. Eu não preciso de nada. Eu só preciso sair daqui. Eu preciso sair daqui.
- Me manda um scrap?
- Vai tomar no cu.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Recortes no papel furado
falando em mentiras, são falsos os hai kais abaixo.
fuga
um momento certo
um amor que da pavor
vou chegar mais perto
morte
um homem azul
um rosto no corpo morto
(o que diabos rima com azul?)
uma folha aberta
assassinato no segundo ato
acaba minha festa
não é preciso que se entenda. poemas não são precisos. não se entende o poema, só se entende o poeta, e eu não sou poeta. sou sujo, escuro, frio e cheio de segredos que me sangram a pele. sou poema.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
e toda vez que eu acendo o cigarro meu ônibus passa
então ele diz pra mim. ele disse: 'você nunca está indo rápido a lugar algum.' e eu acho que ele só falou isso porque queria ter a última palavra e sabe, eu não achei que isso foi muito educado.
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
terça-feira, 18 de setembro de 2007
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Antes Gandhi que Datena
Traficante Carioca Malzão 1 - Aê maluco, tô querendo tocar o terror nesse feriado aê, vai tar chegando uma caralhada de gringo aê cheão da grana e vou robar geral. Vai ser seqüestro relâmpago, assalto a mão armada e furto de bolsa de geral.
Traficante Carioca Malzão 2 - Podes crê cumpadi, o bicho vai pegar mermo por aê, se alguém reagir vai ser pipoco no meio da testa e não vai sobrar testemunha pra contar a história. Eu mato mermo é de geral, sô sinistro! Quem sabe até a gente revive a moda do arrastão?
TCM1 - É isso aí. Vou vender muito tóchico também, maconha e brizola pra acabar com a família brasileira e pra todo mundo ficar doidão mermo. Aloprar geral.
TCM2 - Porra maluco isso é claro né caralho. É a venda do tóchico que nos dá mais grana pra gente comprar arma, dominar os morrão tudo e fazer poder paralelo. Aí quando sobe a pulícia a gente tem mais arsenal que eles, AR15, granada, bazuca e o teba. É guerra civil comendo solto na favela. Nem caverão me segura, maluco!
Traficante Carioca Malzão 3 - [deitado] Caraca eu to meio com mor preguição aí de tocar o terror nesse fim de semana hein? Tô achando que eu vou só fica em casa dando um dois e aplicando uns golpe aí, falso seqüestro, essas porra tudo aí, pra extorquir dinheiro da burguesia apavorada com a situação tensa que a gente criou.
TCM2 - Mas tu é vagabundo mermo hein cumpadi? Nem pra roubar de verdade tu rouba, aí. Tem que ter violência de verdade mermo, ficar nervosão e tocar o terror de geral. Num tem esse negócio de pegar leve não, porra. Tu nem aproveita que é menor e que não vai em cana pô! Num aproveita que nossas leis brasileiras permitem que criminosos perigosos escapem impunes simplesmente por serem menores de idade!
Traficante Carioca Malzão 4 - [entrando no barraco, com uma edição de O Globo nas mãos] Caraca maluco, tô bolado! Boladão mermo aê, olha aê que parada sinistra!
TCM1 - Porra, deixa eu ver essa parada aí, porra! [pega o jornal]
TCM3 - Lê aí pra mim que eu sou analfabeto, na verdade a falta de escolaridade me ajudou a ficar assim revoltado como eu sou.
TCM2 - É, eu também sou analfa.
TCM1 - [após ler demoradamente e balbuciando baixinho a reportagem] Porra maluco, que parada sistra, fiquei boladão também aíó!
TCM2&3 - [em coro] Conta aí porra!
TCM4 - É que tão organizando uma manifestação aí em Botafogo pela paz, contra a violência no Rio de Janeiro. Tão dizendo aí que o caos urbano no Rio atingiu níveis insuportáveis, que é hora de dar um basta nesta onda de violência e abraçar a causa da paz.
TCM1 - Porra é mermo, tão falando que vai dar quase umas 300 pessoas lá da zona sul pedindo paz na nossa cidade.
TCM2 - Porra maluco, tô bolado.
TCM1 - Caraca, tô achando que não vou mais tocar o terror nesse feriado não aí.
TCM2 - Pois é né? O pessoal do Leblon tá pedindo paz né? Estão cansados de tanta violência.
TCM4 - Coé, foi isso que eu vim mostar pra tu aí. O povo tá pedindo paz!
TCM2 - Sinistro mermo, o bicho tá pegando, tá todo mundo pedindo paz.
TCM3 - E será que a galera vai parar de comprar pó aqui na boca?
TCM4 - Porra, com certeza, eles estão querendo paz de verdade aí galera.
TCM1 - Pô, vou ficar na encolha então, sem violência nesse feriado.
TCM2 - É, eu também.
TCM3 - Sinistro aê, nem falso seqüestro vai rolar.
TCM4 - Tô ligado, agora é paz!
todos [em coro] - Agora é paz!
Queimado
"Sinto informar, mas o exame confirmou que o senhor tem um câncer de pulmão."
Tudo devia ter parado na hora em que o doutor Menezes me disse isso, mas não parou. Eu já sabia de tudo. Tinha uns meses que eu já tava fraco, sem conseguir comer direito. Até respirar era difícil. A velha me olhava de longe, brincava que a idade tinha chegado, me falava pra ir na farmácia comprar viagra. Mas acho que até ela sabia. Quando um homem vai morrer ele vê o fim toda hora em que olha pra um espelho. Quando pode olhar nos próprios olhos. E no espelho eu encontrava minha cara magra com os olhos já saltando um pouco pra fora. Tudo acaba, não é?
"Eu sei doutor. Quanto tempo de vida eu ainda tenho?"
Ele me olha ressabiado. Acho que é o primeiro paciente que não fica chocado quando recebe uma notícia tão ruim como essa. Vai ver que até os que chegam aqui já tão doentes como eu ainda tenham um cadinho de esperança.
"Com quimioterapia e radioterapia nós podemos..."
"Mas eu não vou ficar curado, né? Quer dizer, vou viver ligado em um monte de máquina de hospital."
Ele sabe disso. Os médicos tinham que aprender que não existe vida dentro de hospital. É que nem cemitério, só que com a gente preso no leito, vendo tudo. Cemitério é lugar de tristeza, hospital é lugar de medo. E morrer com medo é muito ruim.
"Sim, mas o senhor tem que considerar..."
Ele fala um monte de coisa, mas nem escuto. Fico pensando em assuntos mais importantes: minha velha, meus filhos, os netinhos pequenos. Em como nunca mais vou pescar, dançar, nem beber com os amigos. É ruim, mas acho que vivi bem, não preciso me arrepender de nada.
"Doutor, eu não vou querer tratamento. O que é que o senhor pode me dar pra eu tomar em casa? É lá, do lado da minha família que eu quero morrer."
Saio de lá com uma receita nas mãos. É difícil respirar, mas é como se eu tivesse uns instantes a mais cada vez que o meio peito fica cheio. Na farmácia, compro tudinho que me foi prescrito. Me olham com cara de pena. A medicação vai me tirar o sono ou o apetite? Talvez, se eu não sentir dor já está ótimo.
Ando mais um pouco e sento na praça. O mesmo banco de todo dia à tarde, pra discutir futebol e política. Mas não tem ninguém lá ainda, é menos de meio-dia e fico acompanhado dos ônibus, azuis e vermelhos, que passam pra lá e pra cá. Dos moleques de rua correndo, com a mãozinha fechada pra cheirar cola. Da polícia achando que manda em tudo. Dos ambulantes que ganham a vida pra gritar.
Fica mais fácil respirar e eu abro o maço e puxo um cigarro. Nada combina mais com esse mundo.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
entendi tudo agora
- já não estou tão certo. mas você tem razão, não cometamos a antiga tolice de potenciar o futuro, já bastante futuro estragado para sempre trago acumulado na cidade e fora da cidade e em cada poro. sabe, você me dá uma espécie de felicidade funcional, de razoável humanidade cotidiana, e é muito, e eu o devo só a você que é como um cavalinho cheiroso. mas há momentos em que me sinto o único, em que os tabus da raça me mostram as pinças; então penso que estou procedendo mal, que te coisifico, se você me permite o termo, que abuso de tua alegria, ponho-te aqui e te afasto, te cubro e te descubro, te levo comigo para depois te deixar cair quando é hora de ficar triste ou ficar sozinho. e você em compensação nunca fez de mim um objeto, a menos que no fundo tenha pena de mim e me conserve como uma boa ação cotidiana, teu mérito de bandeirante ou algo assim no gênero.
-mas não tenho pena de você, meu filho. uma COISA não pode ter pena de um HOMEM.
[peguei na cesta indie.]
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Going Out With Heavy Trash - Heavy Trash
Heavy Trash, pra quem não sabe, é a nova banda do Jon Spencer (aquele do Blues Explosion). Então, obviamente, recomendo para todos os fãs de sua antiga banda. Aquele vocal singular, aquelas guitarras maravilhosamente bem feitas e completamente malucas, o peso e a agressividade continuam lá. O que mudou de verdade foi uma puxada Rockabilly muito maior e mais perceptível, em especial no primeiro disco. Já nesse segundo os caras estão um pouco menos agarrado naquela idéia tradicional de Rockabilly, e um pouco mais malucões e criativos. É bem perceptível também a influencia do Folk tradicional americano e, é claro, do R&B. E o legal é que os caras conseguiram misturar esse tanto de coisa de um jeito maluco, muito peculiar, e fazer com isso um disco muito bom.
http://216.69.135.140/MP3Players/HeavyTrash/HeavyTrashWimpy.html
Banda: Heavy Trash
Disco: Going Out With Heavy Trash
Ano: 2007
Yep Yop Records
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Música Nova Para as Crianças #2
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
pobre só voa quando explode o barraco.
edit: uns links que tem a ver com o assunto:
"andou de moto"; "apartidarismo" e, pra quem não conhece, o genial Hariovaldo News.
domingo, 2 de setembro de 2007
Música Nova Para as Crianças #1
Uma série que pretendo fazer em 10 números, com discos que descobri zanzando por aí e psicopatando o Last.fm dos outros. Alguns deles estão à venda por módicos dez dólares, outros você não acha mais. Não importa, ninguém vai reclamar deles aqui quando as mesmas músicas estão mais do que disponíveis pelo BitTorrent e Soulseek.
Fato é, a maioria dos jornalistas que escreve sobre música também lê o Pitchfork, e escolhe o que está bombando na gringolândia pra reafirmar que é "genial". Mas independente disso, só mesmo comendo muito esterco pra dizer que qualquer coisa gravada pelo Be Your Own Pet é mais necessária que o último do Bob Dylan. Então é hora de recomendar coisas bacanas, que não estão na Ilustrada e provavelmente nunca vão tocar no Leeds Festival - bem, eu espero que toquem já que o dinheiro garante que vão continuar fazendo boa música.