sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

tropeçando na web

Lembra 1996, quando uma das coisas mais legais pra se fazer na internet era ficar - como se dizia na época - surfando na web? Você entrava na página de dicas do Yahoo e ia descobrindo os sites da NASA, do Louvre, ou pelo Cadê descobria a página brasileira de uma banda que você gostava ou um cemitério virtual de personagens de RPG... E aí pelos links destas páginas (todo site na época tinha uma parte de links aleatórios) você ia pra outros cantos ainda mais obscuros da internet. Foi assim que eu descobri o Pokey the Penguin, só pra citar algo da época que ainda gosto até hoje.

Pois bem, descobri recentemente uma ferramenta que me trouxe de volta esse tipo de prazer. Chama-se StumbleUpon. Acho que muita gente aqui já deve conhecer, mas como nunca vi ninguém comentando, deixa eu explicar: trata-se de uma extensão do Firefox (tem tb pro IE, se vc for louco o suficiente...) que te indica sites aleatórios. Você marca lá os temas que te interessam e aperta clica em "Stumble!". A partir daí ele vai te mostrando sites, fotos, videos, blogs, flashs e você vai afirmando se gosta deles ou não. Rapidinho ele "aprende" seu gosto e vai te mandando só sites legais.

Em uma semana de uso, já vi uns 20 "tropeços" bem bacanas. Alguns deles:

Guia simples para escrever seu nome em élfico

Mistura do flicker com o google earth

Dicionário visual da lingua inglesa

Fotolog com os grafites mais legais que eu já vi na vida

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

porque não existe comunicação

- não restou uma só palavra dos amantes do templo, nem uma confidência, nem uma imagem, não é?
- ela não falava a língua dos romanos. ele não falava a língua de samaria. foi desse inferno de silêncio que veio o desejo. foi imperioso. inapelável.

e depois se extinguiu.

- dizia-se que se tratava de um amor bestial, cruel.
- acredito que sim, que se tratava de algo assim, um amor bestial, cruel. acredito que se tratava do amor, propriamente falando.

m. duras

Druken style and drug adicted melodrama.

É meloso quando se quer, e dramático.

São todas as [des]aventuras amorosas que se vão, e a ferrugem das ruas é o que deixa o amarelo nos dentes.

Eu queria deixar que o sentimento escrevesse por si só. Falasse sem intermédios da minha consciência, do meu bom ou mau senso literário e, principalmente, sem nenhuma interferência da minha noção do ridículo. Queria poder escrever como se ninguém fosse ler, nem eu mesmo. Especialmente eu mesmo. Queria não ler o que escrevo para que meu envergonhado e iludido desejo de parecer interessante e inteligente não censurasse meus risos nem segurasse meu choro.

Escreveria então sobre as coisas que realmente precisam ser ditas, e que cada dia que passa fica mais difícil dizer. Sobre como eu não acredito em uma só palavra do que me dizem, e que eu sei que nada vai ficar bem no final. Sobre como eu ando fingindo que não amo as pessoas que amo e que gosto de pessoas que não gosto. Eu contaria a saudade sofrida que sinto das pessoas que me fazem falta e mandaria embora para sempre as pessoas que me irritam. Eu faria entender como eu sinto saudade de gente que vejo todos os dias e como me irritam pessoas que eu nunca conheci. Eu desejaria a morte de muitas pessoas, a destruição de muitos livros, a invasão de muitas privacidades, a queda de muitos aviões, o pesadelo de muitos sonhos, a queima de muitas cidades e o fim de muitos amores.

Eu rechearia meu conto-poema de coisas sórdidas que não ouso dizer e de muitas coisas felizes que evito falar. Faria dramas sentimentais, apontaria vários dedos nas caras e diria: a culpa é sua, sintam-se culpados, sintam-se nojentos, sintam-se horríveis. Vocês são horríveis e sabem que são. Pedem desculpas por coisas que ainda não fizeram para depois dizerem que não queriam ter feito.

Eu não respeitaria a dor de ninguém. Não me importaria se faz parte da sua natureza ser escroto e não entenderia nunca os erros que as pessoas cometem.

Eu diria que quero um filho nascido no dia quinze de fevereiro e uma filha nascida no dia dezoito de abril, e eu não explicaria por que. Eu diria que odeio crianças e que elas deveriam todas morrer sufocadas com suas vozes insuportáveis.

Eu seria capaz de descrever com precisão tudo aquilo que se passa dentro de mim, e como um artesão tecer a mais delicada e intricada teia de pensamentos e sentimentos que fluiriam como água, e vocês beberiam dessa água. Cairiam de vez todas as mentiras que ando vivendo, mortes que ando pensando, ilusões que ando alimentando, frustrações que ando sofrendo e bobagens que ando escrevendo. Todos veriam que eu sou absolutamente incapaz de não amar e o ódio profundo que isso me traz.

Mas eu não sei fazer isso.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Vagas para estagiários.

nessa hora eu queria estrar fazendo graduação em animação, ou algo assim.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Rock n Roll Suicide

Tocava alguma coisa ruim. Uma dessas bases eletrônicas ridículas com uma mulher desafinada cantando por cima. Acho que foi o cheiro de cigarro que me jogou nessa viagem amarga e desesperada. Talvez tenha sido o tédio.

Sabe, você vê aquelas pessoas felizes dançando como idiotas e se esfregando como animais no cio, e ainda assim não consegue pensar em nada bonito, sexy ou interessante. É só escuro. Acho que o melhor lugar para se matar fantasmas do passado é uma boate cheia de gente.

Fantasmas de um passado distante e os tormentos das escolhas infelizes de um passado recente. Você vê aquelas pessoas com quem costumava se divertir. Aquela menina que até pouco tempo atrás seria a mãe dos seus filhos, a mulher com quem você jurava que queria passar o resto dos seus dias, e ainda assim não pensa em nenhuma das coisas que deveria estar pensando. Você vê que na verdade a fumaça do cigarro é a coisa mais interessante à sua volta, e se pergunta se você estava bêbado quando pensou que aquilo ali, aquelas pessoas e aquele lugar poderiam trazer qualquer tipo de satisfação ou prazer. Amizade, felicidade, conforto, amor e paixão são coisas tão distantes que você se pergunta se de fato existem. Você quer que um raio lhe parta ao meio. Você quer ser burro, fútil, ignorante e vulgar como as outras pessoas. Você quer fingir como elas que tudo está bem, que a noite é sua amiga e que ainda existe alguma possibilidade. Esperança, é isso que você quer.

É aí que você percebe que o problema não é o lugar. Se fosse, já teria ido embora. O problema é o amontoado de cicatrizes que você colheu nas batalhas que lutou. Você chama essas cicatrizes de experiência, sabedoria, ou sabe-se lá o que, mas no fundo sabe que são apenas cicatrizes. Você vê que as suas cicatrizes o transformaram em uma pessoa cínica, amarga e descrente. Você entende que não venceu as batalhas, que morreu em alguma delas e que tudo agora não passa de uma ilusão que você não é idiota o bastante para sustentar por muito tempo. Queria ser, mas não é.

“If you are so cleaver, why are you on your own tonight?
And if you are so terribly good looking, why will you sleep alone tonight?”

Você sente inveja de todas as pessoas que morreram antes de você. É por que hoje é uma noite como todas as outras, é por isso que você está sozinho. E você chora.

Você reza para um Deus que você não acredita que exista. Você quer que ele te faça dormir para nunca mais acordar. Espera que o sono tenha com você a gentileza e a doçura que a vida não teve. Quer que o sonho te leve para longe, para a felicidade que deixou para trás. Para as montanhas de açúcar que escalava quando era criança, para o colo que ofereciam quando você chorava, para o céu que nunca mais foi tão azul, e para o mar que te dava medo quando a água chegava no pescoço. Você nunca mais viu o mar. Talvez seja isso. Isso e a fumaça do cigarro.

Você se lembra daquela vez que seu avô te ajudou a subir o telhado e, lá de cima, você viu um sapo parado no quintal. Você lembra de ter jogado uma pedra no sapo, e daquela ter sido sua primeira experiência com a morte. Você não sabe por que é que ainda se lembra daquilo, e muito menos por que é que se lembrou justamente agora. Você sabe que fazia calor, seu avô usava óculos e o quintal não tinha aquela grama verdinha e bem cuidada dos quintais que aparecem em filmes. Era terra, com alguns pedacinhos de grama espalhados aqui e acolá, como os quintais de verdade costumam ser. Você lembra do nó na garganta que te deu compreender a diferença entre uma coisa viva e uma coisa morta, e o peso da consciência de que aquilo que você fez nunca mais poderia ser desfeito. Nunca pode. lembra de ter jogado uma pedra no sapo, e daquela ter sido a primeira experirazer qualquer tipo de satis

Por um momento as luzes te chamam a atenção. Você pensa que elas são suficientemente feias para que pessoas de mau gosto se divirtam com elas. Você lembra que um dia já gostou daquele lugar, mas não sabe bem ao certo por que. Talvez seja por que na época você ainda gostava de alguma coisa.

Toca alguma coisa quase razoável agora, e você sorri. Um desses rockinhos de boate que as pessoas preguiçosas demais para escutar rock de verdade gostam de ouvir. É ruim, mas não te ofende.

Você já está do lado de fora. O cheiro frio da madrugada se mistura com alguma coisa amarga na sua garganta.

Você lembra de ter ido ao parque quando era pequeno. As árvores, os patos, os brinquedos e toda aquela alegria ingênua e infantil. As gotas de água fria que pingavam no seu rosto quando alguém passava remando um daqueles barquinhos de madeira por perto.

É uma lembrança feliz. Nada mais triste que uma lembrança feliz em uma noite miserável. Uma vida miserável.

E é então que você vai. Sua vida não passa diante dos seus olhos, e você não se sente mais feliz do que antes. Você não pensa em ninguém que queria ter visto pela ultima vez e nem se arrepende antes do fim. Não pensa na família e nem se nos dias em que foi feliz. Não sente cheiro de flores e não vê arco-íris nenhum. Não é quente nem confortável. É só escuro.

Que fique bem claro que você não sou eu. É o meu eu lírico.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Poema em Linhas Tortas

(apud Fernando "Haroldão" Pessoa)

Nunca encontro ninguém que tenha feito uma cagada.
Todo mundo que eu conheço é sempre o fodão em tudo.

E eu, que sendo alto, sou baixo, e tantas vezes nojento, tantas vezes escroto,
irresponsavelmente relapso, indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho publicamente enfiado os pés nas jacas da sociedade,
Que tenho sido um babaca, mesquinho, infantil e ridículo,
Que tenho sofrido calado
e quando não estou calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às pessoas mais deprimentes,
Eu, que tenho sido assediado pelos homens e mulheres do limbo,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, bebendo dinheiro até não sobrar nada,
Eu, que, pressentindo a briga, me escondo atrás do bar com o copo na mão
como num filme do Oscarito;
Eu, que tenho ignorado as pequenas coisas da vida,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca desmaiou sobre o próprio vômito.
Nunca foi expulso, nunca foi demitido, chutado, chifrado, roubado, enganado.
Nunca cagou sangue, nunca desmaiou, ou caiu, se cortou, se rasgou, se fudeu.
Nunca foi senão príncipe - e nunca gauche - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não! São todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que já foi escroto?

Estou farto de fotologgers!
Posando e sorrindo para a posteridade virtual.
Fazendo o V com os dedinhos que aprenderam com a Giselle.

Onde é que há gente normal nesse mundo?
Quer dizer então que só eu sou errado sobre a Terra?

Orgulho não é veneno, e é gostoso de engolir.
O importante é que emoções eu bebi.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

you can't get here fast enough YOU CAN'T GET HERE FAST ENOUGH

aí a velhinha no ponto do ônibus me disse

-coração é terra que ninguém vai.

então,

sábado, 24 de novembro de 2007

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Polêmica

O Corona sempre foi um blog preocupado com as questões socais da conteporaneidade.

Muito se diz sobre o assunto. Lemos para todos os lados que o preconceito não é mais o mesmo de antigamente e que as pessoas estão cada vez mais esclarecidas. Se esse esclarecimento que alardeam por aí for o mesmo dos "déspostas esclarecidos", eu até concordo.

O grande problema é que nos pequenos núcleos familiares, nas salas de aula, nos locais de trabalho e até mesmo nas ruas o preconceito é mais dificil de ser combatido.

Entrevistamos recentemente um jóvem adulto, que não quis se identificar:


Corona: Após se assumir, qual você considera o pior tipo de preconceito que sofreu?
Anônimo: O familiar, por que é um preconceito velado. Meus pais não admitem, mas ainda não me aceitam como sou.

C: E como foi o processo , digo, o processo de assumir?
A: Não foi fácil. Existem lojas especializadas, roupas, filmes, revistas, bares e boates para gente como nós, mas ainda não é fácil se assumir como canhoto. Olha essa frase minha, "gente como nós", acho que até mesmo os canhotos se enxergam como pessoas diferentes.

C: Mas você não acredita que, de fato, sejam diferentes?
A: Claro que não. Canhotos tem os mesmos anseios e desejos que as pessoas comuns. E pra falar a verdade, muitas pessoas que você conhece são canhotas, e você nunca vai ficar sabendo (risos). O filho do vizinho, seu chefe e até mesmo a sua filha pode ser canhota!

C: Minha filha tem só 13 anos de idade.
A: Foi só um exemplo.
C: Minha filha não é canhota. Do filho do vizinho eu sempre desconfiei. Mas minha filha não
A: Foi só um exemplo, já disse. Eu não conheço sua filha


"Só que chega uma hora que não dá mais! Você precisa se assumir. Hoje sou muito mais feliz por causa disso."


C: E quando é que você descobriu que era canhoto?
A: Acho que eu sempre soube, mas tentava esconder. Você não imagina o que é para um adolescente. As pessoas te olham esquisito, acho que no fundo elas também sabem que você é canhoto. Só que chega uma hora que não dá mais! Você precisa se assumir. Hoje sou muito mais feliz por causa disso.

C: Você disse que o pior é com os seus pais. Como é que foi, para eles, receber a notícia?
A: Não parece ter sido fácil. Na hora meu pai surtou, gritou alguma coisa do tipo "filho meu não! Filho nenhum meu vai ser canhoto!". Depois ele ficou mais calmo, e veio com aquele papinho de que ele só não quer que eu sofra, que pensa no meu bem, que trabalhou a vida inteira pra que os filhos pudessem ter tudo e blah blah blah. Mas todo mundo sabe que ele morre de vergonha de ter um filho canhoto. Outro dia ele recebeu em casa um casal amigo, o João e o Manuel, amigos da familha por muito tempo. Ele não resistiu, logo antes deles entrarem ele disse: "Vê se não me escreve nada com a mão esquerda enquanto eles estiverem aqui eim? São muito conservadores e podem ficar chocados." Mas eu sei que o conservador é ele.

C: E a sua mãe?
A: Com a minha mãe foi mais fácil. Ela é muito religiosa, muito conservadora, mas desde que conheceu a namorada nova, a Carla, ela anda mais tranquila. Acho que é influência da Carla, que é mais moderninha e aceita os canhotos numa boa. Ela fica com um pouco de medo quando eu saio de noite. (risos). As pessoas acham que os bares de canhoto são uma coisa do outro mundo, como se todo mundo fosse ficar usando a mão esquerda o tempo todo! (mais risos). Não é assim não, são lugares completamente normais, a diferença é que a gente não precisa ficar com medo de fumar com a mão errada.

C: Onde você estuda?
A: Acabei de me formar no Santo Antonio
C: Hum... É o colégio da minha filha.
C: Já disse, eu não conheço sua filha...


"eu acho que a vida que você leva e as coisas que acontecem com você são muito mais importantes. Não acho que ninguém nasce canhoto."


C: Uma pergunta um pouco mais polêmica agora. Você acha que as pessoas nascem canhotas?
A: Olha, eu sinceramente não sei. Talvez o pessoal do projeto genoma saiba responder isso. Outro dia eu li que existem até animais canhotos! (risos)
C: Será que tem algum canhoto no meio do pessoal do projeto genoma?
A: (mais risos) Não sei. Não, tô brincando, eu acho que a vida que você leva e as coisas que acontecem com você são muito mais importantes. Não acho que ninguém nasce canhoto.

C: Por que é então que você falou da minha filha? Ela só tem treze anos, e você diz que nem a conhece...
A: Olha, desaculpa, foi só um exemplo.

"O importante é ser feliz não é?"

C: Mas e agora? Você acha que pode ser uma pessoa feliz e conviver bem com o fato de ser canhoto?
A: Claro. O importante é ser feliz não é? Do jeito que você for. Eu não escondo mais de ninguém, mas também não saio por aí usando relógio na mão direita. Sou uma pessoa feliz.

C: Muito obrigado por essa entrevisa. Acho que as pessoas precisam mesmo falar mais abertamente sobre esse assunto. Vai se publicado em breve, e você pode ver no blog.
A: Por nada, foi um prazer. Abraço pro pessoal do Corona. (se despede e vai embora. senta-se na mesa do lado com uma menina que toma café com a mão esquerda). Uma lorinha muito parecida com a minha filha.

"Sim, vou daqui a pouquinho. Beijo."

C: Alô? Filha, aqui é o papai! Tudo joia? Ta estudando na casa de uma amiga? Sei... E deixa eu te perguntar uma coisa: você conhece um tal de Anônimo? Não? A, por nada não... E aqui, essa sua amiga escreve com que mão eim? Ah, nada não... Sim, vou daqui a pouquinho. Beijo!



Dando os devidos créditos: Essa entrevista nasceu de uma conversa de bar na qual estavam presentes, além de mim, o professor Daniel Poeira, membro do staff desse blog, e uma terceira amiga que prefere continuar não identificada, pois é canhota e teme ser vítima do preconceito. Vamos chama-la, carinhosamente, de "Gabi".

Vendido #2

Olhei pra trás, sentindo a testa franzir involuntariamente. O cigarro, pensei que ele fosse uma boa saída pra aquela situação horrível. Alcancei um Lucky Strike e acendi, reunindo forças pra conseguir falar alguma coisa que não fosse terrivelmente idiota ou ofensiva. Voltar a fumar foi a melhor coisa que eu fiz desde que parei.

XnX LXXsX estava ali, do outro lado da mesa. Lenço amarrado no pescoço, óculos escuros, veneno jorrando pelas presas afora. E pensar que eu tinha compartilhado tanto com aquela mulher. Uma tragada, duas tragadas.

"Cê vai vender o apartamento?" Eu eu ainda não tinha conseguido olhar pra frente e não era covardia. Eu estava sem óculos-escuros, exposto, ela tinha essa vantagem absurda, essa benção de não ter que ser encarada nos olhos.

"Como assim eu vou vender? Ele não é nosso?" Ela soluçou pra falar isso, está frágil. Bom sinal.

"Sim, mas foi em outra situação. A gente tava junto." Olhei pra frente dentro do Armani chiquérrimo dela. Essa conversa era obviamente desnecessária e chata. Depois de um mês sem dizer nem bom dia ou boa sorte um pro outro, tava claro que não tinha mais pendência alguma.

Silêncio estranho. O garçom traz meu café e um cinzeiro. Ela desvia o olhar dessa vez. Fico entre a nicotina e a cafeína esperando alguma coisa acontecer.

"Queria te pedir desculpas." Silêncio. "Desculpa."

"Não tem que pedir desculpa por nada, a culpa não foi só sua. Nada tem obrigação de dar certo." Fico fazendo de sério mas porra, a fragilidade dela me desarmou. Dá pra ver até uma lágrima saindo por debaixo dos óculos escuros.

"É, eu sei disso. Mas não consigo saber o que foi que deu errado..."

"Pois é, os cinco anos foram bons." Se eu tirar os últimos oito meses talvez essa frase seja verdade.

"Mas você me desculpa?"

"Claro." Respondo sem convicção. Agora não preciso mais me submeter a nada pelo bem de ninguém, então foda-se.

Mais silêncio. Dei uma última tragada e apaguei o cigarro. Aposto que o cinzeiro desse lugar custa mais do que um dia de trabalho meu. Talvez trabalhar como garçom aqui pague melhor do que na agência onde eu tô agora.

Ela balança a cabeça rapidamente, de um lado para o outro.

"Não sei o que foi que eu vim fazer aqui..." Pegou a bolsa como se fosse levantar.

"Pára com esse drama porra! Eu nem penso mais no que aconteceu. Cê tem que esquecer também."

"Pra você tudo é simples né?" Pronto, começou a gritar, cutuquei a cobra. "Pra você tudo é assim: facinho, pequenininho."

Abaixei a cabeça puxo outro cigarro do bolso da jaqueta.

"Isso, foge do problema. Cê sempre fez isso mesmo."

Comecei a rir sozinho, o que deixou ela ainda mais alterada.

"Onde é que você pensa que ia estar sem mim. Pra onde você acha que vai? Eu cuidei de você sabia? Eu te apoiei, eu te guiei. Você me deve muito!"

Acendi o outro cigarro. Todo mundo em volta tava olhando, alguns incomodados, outros se divertindo. Eu mesmo não sabia o que sentir.

"XnX, você não tá arrependida de porra nenhuma do que falou ou fez. Se pudesse você ia fazer tudo de novo. E sabe por quê? Porque você é uma frustrada, uma mulher que não consegue se aceitar, que não consegue se contentar com nenhuma felicidade. Se eu fosse um executivo milionário com a cara, sei lá, do Pierce Brosnan você ia me por algum defeito. Cê não quer um homem, cê quer é uma porra de uma justificativa pra ser infeliz."

Ela se mexeu violentamente como se fosse derrubar tudo na mesa mas ficou sem palavras. Acho que não me sentia tão bem desde... nem me lembro quando. Eu percebi que odiava ela ainda mais. Joguei dez reais em cima da mesa, o que era o suficiente pra pagar o café italiano, o serviço do garçom e ainda sobrar um pouco pro gerente dessa merda grã-fina enfiar no rabo. Levantei e saí.

Quando dei meu segundo passo escutei um soluço gigantesco que depois virou a seguinte frase:

"GXbrXXL, eu tô grávida"

Cheque-mate. Alguns argumentos ganham qualquer discussão.

-

Vendido #0

Vendido #1

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Dia Sem Compras


Eu sei que isso é "muito 2001" mas eu ainda acho a idéia muito boa. Dessa vez não vou segurar cartaz em porta de shopping, mas o legal do BND é que dá pra "participar simplesmente por não participar". Cai no sábado, então eu recomendo comprar bastante cerveja na sexta até meia-noite.

Página Oficial / AdBusters

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Gerador Automático de Nicknames para Garotas do Rock

Você já fez sua tatuagem new school de cerejas e dadinhos pegando fogo. Já pintou o cabelo de preto e cortou uma franjinha reta. Comprou um cinto de rebites e um shortinho sexy, provocante. Está tudo certo, você já pode tirar fotos de si mesma, fazndo biquinhos e escolhendo os ângulos mais favoráveis, a fim de publicar no seu site favorito (orkut, fotolog, deviant art, flicker...). Mas falta algo. Falta um nome através do qual as pessoas possam te conhecer, um nickname que expresse toda sua rebeldia, sua ousadia e sua personalidade radical. Eis que surge o Gerador Automático de Nicknames para Garotas do Rock (E Novas Artistas), mais conhecido como GANGReNA.

É muito fácil: você escolhe uma palavra de cada coluna e as combina no formato AB ou BA, conforme seu gosto. Não é necessário que a expressão resultante seja gramaticalmente correta. Nicks do tipo AA são possíveis, mas denotam MEIGUISSE. Nicks do tipo BB, mais arriscados, denotam SANGUE-NOS-ÓI.


COLUNA A

Candy
Cat
Cherry
Cool
Doll
Flower
Girl
Glitter
Gloss
Heart
Kitty
Lady
Little
Lolita
Love
Miss
Moon
Pink
Pop
Princess
Pretty
Queen
Shine
Small
Sweet
*trecho de apelido (Lu, Juju, Mi, Ma, Quel, Cacá, Mari etc.)


COLUNA B

Acid
Bitch
Black
Bomb
Burn
Crazy
Danger
Dark
Devil
Fire
Foxy
Freak
Goth
Gun
Hell
Iron
Kinky
Poison
Psycho
Punk
Riot
Rock
Sexy
Suicide
Toxic
Vicious
Whore

Pequenas adaptações (do tipo Kitty-> Kitten, Rock-->Rocker, Gloss-->Glossy, Girl-->Grrrl, Sexy-->Sexxxy) são permitidas. Se você já colocou som ao menos uma vez na sua vida, não se esqueça de incluir o "DJ" antes do nick. Se seu pai não deixa você beber, acrescente um X antes e um depois do nick. Se você perdeu a noção da realidade, pode digitar o nick alternando maiúsculas e minúsculas.


PS - Na verdade isso é algo que eu havia rascunhado na época do fotolog, mas passeando pelo deviant art outro dia, percebi que ainda faz sentido.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Como ser hippie sem ser hippie



Tem que ver até o final. Pelo menos até aparecer a bola de futebol.

domingo, 11 de novembro de 2007

Redes e Blogs

Repensando algumas coisas nesse fim de semana completamente misantropo. Acabei não saindo pra canto nenhum e fiquei em casa escrevendo e lendo algumas coisas - deu pra produzir uma mixaria, mas o tempo foi bom pra colocar a cabeça em ordem.

Uma das coisas que vêm me martelando é o quanto eu me exponho blogando e como isso poderia ser bom ou ruim. Meu blog é pouco lido, isso não é uma questão de estar colocando minhas idéias na mesa pra milhares ou muitas milhares de pessoas lerem. Fora ocasionais visitas do Google, acho que tenho uns 2o ou 30 leitores - sendo otimista.

O problema real é outro. Como eu já disse antes, o Savoir-Faire é misteriosamente bem classificado no Google. Digitar meu nome e apertar o botão "Estou com sorte" traz qualquer um diretamente pra cá. Um eventual professor, colega de trabalho, amigo, empregador ou namorada sempre vai ter acesso a tudo o que foi escrito aqui. Basicamente, eu uso esse espaço pra discorrer sobre algumas coisas que eu penso, exercitar uma veia literária porca e, muito de vez em quando, fazer comentários pessoais - e mesmo assim procuro não me expôr tanto.

A diferença entre escrever sobre o que se pensa e escrever o que se pensa é enorme. Desde quando comecei a escrever blogar, em 2002, vi muitos blogs conseguir audiência promovendo um strip-tease da vida pessoal dos autores. Estes praticamente publicavam os próprios diários para todo mundo ler - e não era raro ver posts sendo deletados por conta disso ou os autores fazendo meta-análises como essa e se arrependendo de terem escrito algumas coisas. Hoje, com a introdução do microblogging, é possível enviar mensagens via celular e falar sobre o que estiver fazendo a qualquer hora. Ok, mas quem se interessa por isso? Quem vai ler esse tipo de coisa?

Quando os blogs viraram febre muita gente se perguntava sobre isso também. Ninguém achava que seria útil ler sobre o que outros pensavam ou mesmo acompanhar um "querido diário" eletrônico. Essa previsão de pouco interesse nos blogs se mostrou equivocada e em pouco tempo eles se tornaram a mais difundida forma de publicação pessoal na internet - seu formato foi incorporado a muitos sites.

O que estava por trás disso era uma idéia de publicação rápida e acessível. Enquanto num website você tinha que elaborar o texto e depois se desdobrar na frente de um editor de html, no blog a ferramenta de edição de texto já era incorporada e facilitava muito a vida de quem não queria gastar tempo editando páginas e fazendo uploads. Assim, os blogs foram os grandes responsáveis por democratizar a publicação na internet.

Apesar de seu uso por profissionais e a instituição dos pro-bloggers ter dado um ar de seriedade aos blogs como ferramentas de circulação de informações, eu penso que existe um pontecial nos blogs pessoais que parece pouco explorado. O que vejo hoje é a possibilidade deles como reforço de redes sociais já existentes ou criação de novas redes. Pessoas que se conhecem (de perto ou virtualmente) e se interessam mutuamente pelo pelo conteúdo que produzem, fabricando um novo espaço para o debate do que quer que seja.

Essas redes, de alcance limitado mas potencialmente amplo, não têm porque ganhar uma grande audiência. Seu objetivo primário seria a troca de idéias pura e simplesmente. Como inteligências coletivas, de indivíduos autônomos, elas são fluídas e seus membros podem pertencer simultaneamente a várias delas. Seu poder de intercomunicação perpassa a simples publicação e leitura, inserindo a figura do comentário, da repetição, do questionamento de um leitor em seu próprio espaço - outro blog.

Assim é possível ter um outro modo de articulação e diálogo entre pessoas que se encontram todos os dias ou que não se conhecem - mas possuem quaisquer interesses em comum. Sem se expor, ainda que em níveis mínimos, tudo isso seria impossível. Mais do que conseguir uma simples audiência, os blogs são uma possibilidade de encontrar colaboradores, parceiros, amigos, de construir idéias em conjunto.

Então, com a cabeça menos pesada, mantenho o Savoir-Faire até quando puder.

55 melhores clipes de 2007

na minha humilde opinião:

01 - Justice - D.A.N.C.E
http://www.youtube.com/watch?v=fo_QVq2lGMs

02 - Grizzly Bear - Knife
http://www.youtube.com/watch?v=xuYZbYtAl9A

03 - Beirut - Elephant Gun
http://www.youtube.com/watch?v=kjeh6P4sRfw

04 - Noah and the Whale - 5 years time
http://www.youtube.com/watch?v=jRX5kH6IrkY

05 - Liars - Houseclouds
http://youtube.com/watch?v=kzZVvM8Dyzs

06 - Cave Singers - Dancing On Our Graves
http://youtube.com/watch?v=Prcb4bQvK5w

07 - Animal Collective - Fireworks
http://youtube.com/watch?v=W6KPDWNAPBU

08 - Caribou - Melody Day
http://www.youtube.com/watch?v=QklfmJ4vfLs

09 - Vetiver [ft. Adem, Vashti Bunyan, and Juana Molina] - Been So Long
http://www.youtube.com/watch?v=2Ct_4tNF80E

10 - Go Team - Grip Like a Vice
http://www.youtube.com/watch?v=w6KfJcjrSTM

11 - Battles - Atlas
http://www.youtube.com/watch?v=IpGp-22t0lU

12 - Deerhoof - The Perfect Me
http://www.youtube.com/watch?v=1rrnTDDhVnw

13 - of Montreal - Heimdalsgate Like A Promethean Curse
http://www.youtube.com/watch?v=5VeIL7juFE0

14 - Modest Mouse - People As Places As People
http://youtube.com/watch?v=HQJECnOIYSc

15 - Dan Deacon - The Crystal Cat
http://www.youtube.com/watch?v=SG5oyPLLkkM

16 - The Fiery Furnaces - Ex-Guru
http://youtube.com/watch?v=Ox_8-FCejaE

17 - Los Campesinos - You! Me! Dancing!
http://www.youtube.com/watch?v=Nj6SO_yKMe8

18 - The Shins - Australia
http://www.youtube.com/watch?v=OHTSxw6zN1E

19 - The Decemberists - O Valencia [Director's Cut]
http://www.youtube.com/watch?v=6Ad7XFStuB8

20 - Daft Hands - Harder, Better, Faster, Stronger
http://www.youtube.com/watch?v=K2cYWfq--Nw

21 - Kanye West - Can't Tell Me Nothin' w/ Zach Galifianakis
http://www.youtube.com/watch?v=PpwgYsYWwdc

22 - Black Moth Super Rainbow - Sun Lips
http://www.youtube.com/watch?v=MC6aAs4kkbY

23 - Panda Bear - Comfy In Nautica
http://www.youtube.com/watch?v=25_gjUbvqNg

24 - Black Lips - Katrina
http://youtube.com/watch?v=7QxwA4ZCioI

25 - Beach House- 'Master of None'
http://www.youtube.com/watch?v=s2YiUTh9dj4

26 - Tobbaco - Hawker Boat
http://www.youtube.com/watch?v=TCjn-A-Hxfg

27 - A Place to Bury Strangers: "To Fix the Gash in Your Head"
http://www.youtube.com/watch?v=v5VXqHARqFA

28 - Wooden Shjips - Dance, California
http://youtube.com/watch?v=eJMFTVenGJk

29 - The Wrong Trousers - Video Killed the Radio Star
http://www.youtube.com/watch?v=VSUX9byu6NY

30 - Tokyo Police Club - Your English Is Good
http://www.youtube.com/watch?v=1KGCAffvGIw

31 - Queens Of The Stone Age - "Sick Sick Sick"
http://www.youtube.com/watch?v=CcXCaXz0GbU

32 - Fujiya & Miyagi - Ankle Injuries
http://www.youtube.com/watch?v=N5XVeENmLMk

33 - Mavis Staples "Eyes On The Prize"
http://www.youtube.com/watch?v=0ZWdDI_fkns

34 - Peter, Bjorn & John - Objects Of My Affection
http://www.youtube.com/watch?v=ZxVRhcLXftg

35 - Holy Fuck - Milkshake
http://www.youtube.com/watch?v=2c4ZV2oioLE

36 - Los Campesinos!- The International Tweexcore Underground
http://www.youtube.com/watch?v=rHt2CveSXqE

37 - Jens Lekman - Sipping on the Sweet Nectar
http://www.youtube.com/watch?v=v1kIFX7p29I

38 - Shocking Pinks - End of the World
http://youtube.com/watch?v=9CkYzuW3dzE

39 - Kevin Drew (and J Mascis) - Backed Out On The...
http://youtube.com/watch?v=ZW3BN_nwpzc

40 - Menomena - Rotten Hell
http://www.youtube.com/watch?v=t0LIBCw8syA

41 - A Hawk & A Hacksaw with The Hun Hangár Ensemble - Serbian Cocek
http://www.youtube.com/watch?v=_dBD1LttEVk

42 - The National - Mistaken For Strangers
http://www.youtube.com/watch?v=cgRsYkKb1eI

43 - Gui Boratto - Beautiful Life
http://www.youtube.com/watch?v=SuoxwpKnHQk

44 - LCD Soundsystem - "All My Friends"
http://www.youtube.com/watch?v=i2V_ZT-nyOs

45 - The Flaming Lips - She Don't Use Jelly [Live From Oklahoma}
http://www.youtube.com/watch?v=T_qJlxrQp8A

46 - Feist - My Moon My Man
http://www.youtube.com/watch?v=zWrNCCx2p5U

47 - Retrigger - Reckless Driving is Not a Sin
http://youtube.com/watch?v=7glgqfC15yM

48 - Ben Kweller - Penny On The Train Track
http://www.youtube.com/watch?v=nvuRN-mfM4g

49 - Low - Breaker
http://youtube.com/watch?v=zmo7tyrtGW0

50 - Dinosaur Jr.-Been There All The Time
http://www.youtube.com/watch?v=QQnes8cvFkc

51 - St.Vincent - These Days
http://www.youtube.com/watch?v=OjxyNNNiwqc

52 - Chromeo - Fancy Footwork
http://www.youtube.com/watch?v=EMz0mkfPCjY

53 - Parts & Labor - The Gold We're Digging
http://www.youtube.com/watch?v=YwCFP1qyz9k

54 - Múm - They Made Frogs Smoke Til They Exploded
http://www.youtube.com/watch?v=EfetdPWDtko

55 - Aesop Rock - None Shall Pass
http://www.youtube.com/watch?v=l1u43KDiWD0

Ah, esse Deus...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Terrível Mundo dos Canais Baixos

Na minha casa não tem TV a cabo. Pra começar porque sou pão-duro e acho que tem coisa mais interessante pra gastar meu (pouco) dinheiro. Depois porque sou preguiçoso demais pra fazer um gato. Até sei como faz, mas não tomo iniciativa e ainda fico pensando que se eu tiver canais minimamente interessantes, como a Fox ou o Telecine, talvez eu perca ainda mais tempo fazendo nada do que já perco na internet &c.

Mas o fato é que, não tendo TV a cabo, eu sou obrigado a ver pelo menos um pouquinho de TV aberta por dia. Pois depois de ler 6, 7 horas direto, sempre preciso de uns minutinhos sendo um espectador passivo, sem ter que entender nada, pensar em nada, nem dar input maior do que trocar um canal. Deve ser isso que chamam de "couch potatoing".

Chego finalmente ao assunto que quero tratar: o desafio que é ver TV aberta. Cada dia me surpreendo mais com a baixa qualidade das produções. É um esquema meio surreal: os apresentadores são antipáticos e pouco interessantes, os temas são mal escolhidos, os textos são péssimos e normalmente mal-informados, e ainda por cima, quando não é na Globo, cenário, vinheta, figurino e tudo mais são um nojo.

Acaba que eu divido a programação nas seguintes categorias:


a) Programa bom de ver

Não significa que ele seja bom de verdade. Quase nunca o é, mas ao menos ele cumpre o que se propõe. Nesta categoria estão incluídos basicamente noticiários e programas de esporte.

Obviamente o texto e a narração dos programas de futebol são irritantes pra diabo, especialmente as metáforas poéticas da "escola Tino Marcos de jornalismo esportivo" e a voz de gralha do Galvão, mas você vê ali os resultados, as transferências, os jogos, e tal (ainda tem o fato de que a atenção é sempre maior aos times de SP, mas deixa isso pra lá).

Obviamente o posicionamento político dos jornais é sempre tosco, mas ao menos você fica sabendo do que está acontecendo no mundo (ainda que depois precise buscar um ponto de vista mais interessante em outro lugar depois).

Em suma, são programas que você assiste pelo que são, e fica relativamente satisfeito. Também nessa categoria estão os raríssimos clipes da MTV, alguns de culinária e uns poucos documentário da TVE.


b) Programa que é ruim, mas é bom

A maior parte da programação. Isso porque eu tenho um senso de humor ácido, como todos sabem. Ver esse tipo de programa é uma espécie de metadiversão. Porque na verdade você não está realmente se divertindo com o tema do programa, mas com a maneira tosca e idiota que ele é feito.

Acho que o exemplo supremo seria Malhação, nos tempos áureos de Cabeção, Myuki e cia., mas ultimamente a novelinha caiu pra categoria (c), infelizmente (ver abaixo).

Mas não faltam representantes de ruindade boa na TV aberta brasileira. Quem é do Rio já deve ter visto o programa do Wagner Montes (sim, o marido da Sônia Lima, ex-jurado do programa de calouros). É desses programas policiais direitosos, tipo Datena, Ratinho, só que com a diferença que não dá pra entender picas do que o Wagner fala, pois a pronuncia dele é péssima, e ele às vezes parece dar em cima das repórteres dele. Hilário.

Tem também os Leão Lobos, Ana Hickmans, e todos os outros de fofoca e bobeira pra donas-de-casa, que te fazem pensar sobre a maneira bizarra que o sistema de celebridades se implantou no Brasil (depois eu escrevo um post só sobre isso). Sempre geram piadinhas e comentários sobre o novo penteado da Britney, o cachorro da Suzana Vieira, ou qualquer coisa importantíssima do tipo.

Mas meus favoritos mesmo são os game-shows, especialmente o do Gilberto Barros (A Grande Chance). É maravilhoso! Você responde as perguntas, se sente mais inteligente que as pessoas que participam, zoa as dancinhas das figurantes, os erros de pronuncia do apresentador, e ainda fica imaginando que, se fosse lá, poderia ganhar um automóvel zerinho (fonfon)!


c) Programa que é tão ruim que nem chega a ser bom, nem por piada

Já tentou er Raul Gil? Luciano Huck? Simplesmente não desce pela goela, não dá. Nem pra achar eles ridículos, pra se sentir melhor que eles. Nada. Pelo contrário, dá uma certa angústia de assistir, às vezes tonteiras, e uma sensação de que há algo de muito errado com o mundo.

Pra mim novela entra nessa categoria (mas entendo que pra muita gente esteja na (b), ou até mesmo na (a).

A MTV como um todo, infelizmente, também me parece ser um grande (c). Antigamente você via uns clipes, coisas assim, uns programas sobre música que poderiam ser interessantes. Mas hoje em dia você tem um monte de Namoro na TV, Ana Maria Braga e outros programas genéricos, só que com uma "linguagem jovem" o que significa simplesmente vinhetas com animação muito colorida, umas gírias paulistas desprezíveis do tipo "na faixa" e "tudo sussa", e apresentadores nojentamente modernosos, do tipo que você cuspiria se encontrasse na rua. Mesmo os raros programas sobre música estão piores do que nunca, com poucas informações e textos mal escritos, do tipo engraçadinhos-sem-graça - e o pior: lidos em uma retórica "tenho piercing, fiz publicidade na FAAP e adoro CSS". Além disso pega cheia de chuvisco aqui.


s) Sílvio Santos

Merece uma categoria toda sua. Simplesmente porque o Senor Abravanel consegue unir as categorias (a), (b) e (c) em um mesmo bloco. Seu padrão de qualidade tosco, porém testado e aprovado é algo que todo mundo conhece. Cenários ruins, músicas ruins, conceitos roubados de programas gringos e os mesmos trejeitos de sempre, que todo mundo acha que sabe imitar.

E o melhor é: ele sabe de tudo isso e usa tudo isso de uma maneira muito estranha. É como se fosse uma metametadiversão, nesse caso, pois o "seu" Sílvio joga com sua imagem, apelando tanto pra quem gosta dela quanto pra quem se diverte zoando ela, de maneira ciente e aberta, como se falasse "pode zoar, desde que continue assistindo e comentando". E dá certo, você acaba se cativando pelo cara, mesmo que seja se cativando por odiar ele, ou por zoar ele. E o Roque, e o Lombardi, e o Jassa, e o Pedro de Lara, e tudo mais que o circula.

No fim das contas isso me faz pensar que, com tudo isso, acho que eu não estou mal perdendo meu tempo com Silvios, Wagners, Gilbertos e etc, ao invés de Houses, Mythbusters, e não sei mais o que. Pois o que eu quero MESMO ver eu posso baixar na internet ou ver no youtube, e o resto é só pra passar o tempo mesmo. Então, que diferença faz uma diversão boba na Fox ou uma diversão boba num plano de abstração mais alto, como no SBT? Acho que vou continuar sem gato mesmo.

domingo, 4 de novembro de 2007

A pirataria explicada às crianças

A nova pirataria que explodiu tão de repente usando dos novos meios digitais parece ter emburrecido a maioria dos burocratas do entretenimento. Os mais espertos a encaram como um concorrente, outros querem combatê-la através de restrições que prejudicam seu mercado consumidor.

Você aluga três filmes originais em uma locadora, que paga impostos e faz tudo certinho. Na porta da locadora você vê um cartaz gigantesco falando dos males da pirataria. Ok, mas você é um cliente, está lá pra alugar e não pra comprar uma cópia pirata ou algo parecido. Acaba levando três filmes pra casa, ansioso pra ocupar aquela quarta-feira tediosa com alguma coisa. Assim que você insere um deles ao invés de surgirem alguns trailers, mais propagandinha anti-pirataria. Você tem que perder dois minutos da sua vida vendo isso em um filme que foi alugado legitimamente? Nem precisa responder.

Um dos três filmes é realmente bom e merece entrar pra sua coleção, então você decide que vai comprá-lo quando tiver uma chance. Alguns meses mais tarde você depara com o título numa loja de departamentos, a um preço acessível, e leva ele pra casa. Num domingo qualquer você senta com a sua garota pra rever o filme e assim que o DVD começa a rodar o mesmo vídeo anti-pirata, em toda sua majestade, invade a tela. "Porra, eu comprei esse filme!" você diz enquanto pensa que uma cópia pirata custaria uns R$ 20 a menos e não teria esse incômodo. Mas você não comprou pirata porque não se coleciona um DVD com uma capa feia e título escrito errado com caneta de retroprojetor.

Já quem comprou um CD não pode copiar pra deixar no carro, já que ninguém em sã consciência deixa os originais de bobeira, porque uma trava anti-pirataria não deixa. Outro que adquiriu um livro em PDF não pode copiar o texto ou reproduzir o arquivo um número ilimitado de vezes, pelo mesmo motivo. Em todos os casos, a cópia pirata é livre e a original restrita.

Os executivos da indústria do entretenimento andam extremamente neuróticos já que seus produtos podem ser reproduzidos e distribuídos a um custo muito próximo de zero. Eles ainda encaram a pirataria como algo totalmente vil e imoral e por isso têm que lembrar os cidadãos disso o todo tempo, principalmente colocando anúncios e restrições no que é original. O que não parecem não entender é que a pirataria já tomou formas próprias em todas as culturas e países do mundo, e que as pessoas sabem que é errado piratear. Ao invés de investirem tempo e dinheiro em travas e lições de moral que atrapalham e chateiam seus consumidores eles deveriam tentar mudar a forma de vender seus produtos.

Hoje em dia quando vão ao cinema, as pessoas pagam pela experiência de ver o filme em uma tela grande, com um ótimo som, comendo pipoca e tomando coca-cola acompanhados pelos amigos. Se quisessem "apenas" ver o filme, poderiam gastar R$ 5 no camelô da esquina e levarem o mesmo pra assistir em casa. Ninguém vai ser preso por fazer isso em nenhuma parte do globo terrestre. Se a indústria cinematográfica está preocupada com a pirataria ela devia se esforçar em fazer a experiência de ir ao cinema (ou ter um DVD original) cada vez mais divertida e prazerosa ao invés de buscar doutrinar e ameaçar seus consumidores por causa da pirataria.

Da mesma forma, se a indústria fonográfica tivesse apostado suas fichas no formato mp3 (ou na música digital) mais cedo e implantado lojas virtuais, ou mesmo maquininhas de vender música em shopping centers, seria muito melhor pra todo mundo. Claro, imaginando que seria vendido mais barato, já que ninguém ia ter que gastar milhares em estoque e distribuição de CDs.

Como nada disso foi feito a pirataria está aí, forte como nunca. Além dos produtos serem mais baratos que os originais, ou mesmo gratuitos, ela se utiliza de meios de distribuição e reprodução que permitem ampliar o público de um determinada mídia de maneira exponencial. As cópias piratas, apesar de tudo, suprem uma demanda reprimida e chegam onde o mercado legal ainda não conseguiu atingir.

O Brasil tem um caso interessante nesse aspecto: muitas bandas de forró e brega conseguiram distribuir seus CDs prensando cópias baratas e vendendo para os camelôs. Enquanto poderiam gastar milhares de reais em CDs caros, e que seriam vendidos só em lojas especializadas, eles souberam aproveitar de uma estrutura criada pela pirataria de música pra conseguir chegar ao público.

A maioria das empresas procura vender seus produtos com pesadas restrições ao consumidor porque entendem que qualquer um deles pode colocar o produto de graça na internet. Todos nós somos, na cabeça deles, criminosos em potencial. Não chega a ser mentira, mas... está funcionando? Não temos praticamente todos os produtos digitais que se encontram à venda também disponíveis em versões “gratuitas”?

Outro ponto a se pensar é a real dimensão do dano que a pirataria causa. Tropa de Elite caiu nos camelôs antes de pintar no cinema e o diretor já correu pra dizer que o filme seria um fracasso por causa disso. Nada mais inocente do que essa declaração, já que durante os meses subseqüentes não se falou em outra coisa que não no filme. Obviamente Tropa foi um recorde de bilheteria, porque muitos queriam a experiência de vê-lo no cinema.

Apesar disso, as grandes empresas alegam milhões de reais em prejuízo todo ano, usando a lógica absurda de que uma cópia pirateada é uma cópia legal que deixou de ser vendida. Esse raciocínio parece razoável mas é fantasioso, já que não se pode assegurar que todos os que adquirem produtos piratas são consumidores em potencial de originais. Grande parte do consumo de pirataria se dá pela conveniência e pela onipresença. Camelôs vendendo CDs e DVDs piratas estão em cada esquina, e têm capacidade de atingir muito mais pessoas que quaisquer lojas. Assim o dinheiro “perdido em pirataria” é mais o resultado de cópias baratas e abundantes do que de uma procura do público em consumir essas cópias.

Outro grande vilão seria a “pirataria doméstica”, os downloads ilegais de séries, filmes, livros e revistas. E esse é um caso ainda é mais complexo de se calcular os supostos prejuízos. Não é uma pirataria feita para gerar lucro, mas um livre compartilhamento de conteúdo entre aficionados de um determinado assunto ou mídia.

A título de exemplo, grande parte de quem baixa quadrinhos, também compra quadrinhos. Na verdade a possibilidade de pegá-los da internet representa uma chance de ampliar a variedade de títulos lidos. Mas da mesma maneira que o freqüentador de cinema não vai lá só para assistir o filme, o consumidor de quadrinhos também não paga simplesmente para ler a história. Ele quer ter o material, a edição de luxo, poder guardar na estante, ler antes de dormir, carregar pra outros lugares. As vantagens de se ter um produto material são imensas.

Da mesma maneira o formato mp3 ampliou a quantidade de música consumida no mundo, ainda que ilegalmente, e ajudou muitos artistas a ganhar público. Fora os multimilionários do Mettallica, nenhum artista reclama do fato de suas músicas estarem disponíveis de graça. O que se vê hoje em dia é um movimento das grandes gravadoras para reprimir os downloads ilegais (inclusive com processos doentios) mas nenhum movimento organizado de artistas – que sempre ganharam dinheiro com shows.

A questão, que vem sendo repetida exaustivametne ao longo do texto, é que existem pessoas em todo mundo dispostas a gastar dinheiro com produtos que já se encontram pirateados, que querem a experiência do original. E isso não é ideologia, é escolha. Encostar num cantinho e fazer beiço, ou berrar que tudo está errado não vai resolver problemas de mercado. Se isso é tudo o que a indústria do entretenimento pode fazer, então é melhor admitir que foram derrotados pela máfia chinesa, nerds sedentários, webdesigners suecos e camelôs.

A obsolência do mercado de entretenimento frente às novas técnicas de produção e distribuição são as principais do avanço vertiginoso da pirataria nessa última década. E todas as subseqüentes tentativas de doutrinação e repressão aos consumidores não vão reverter esse quadro. Mais que isso é preciso pensar em novas formas para o mercado do entretenimento frente às mudanças socioculturais e tecnológicas. Ampliar as possibilidades do consumidor e conseguir concorrrer com os piratas não é simples, não é fácil, mas é a única solução.

---

A verdadeira revolução no consumo de livros, música e filmes não é causada pela pirataria. Os piratas só reproduzem o que está por aí, mas as tecnologias e know-how apropriados por eles também podem ser usadas por pessoas e grupos que produzem.

À medida que avançam os processos de publicar, gravar e filmar, torna-se muito mais fácil para os criadores controlarem os meios de produção. No passado, custava uma fortuna gravar um disco de qualidade. Hoje qualquer estúdio medianamente competente consegue fazer isso a um preço camarada. Antes era necessário gastar dinheiro pra fazer seus textos, músicas e filmes chegarem até um público, coisa que a internet a um custo próximo de zero.

Em um mundo onde qualquer um pode produzir e ter audiência, muitos vão fazer isso e alguns vão fazer com qualidade. E, seguindo na contramão, alguns artistas consagrados vão ver a oportunidade de se tornarem independentes, como aconteceu com o Radiohead - cujo álbum colocado "de graça" na internet parece ter rendido a eles cerca de US$ 6 a 10 milhões nos primeiros dias.

Para ir além

http://arstechnica.com/

http://www.informationarchitects.jp/

http://gardenal.org/trabalhosujo

http://wumingfoundation.org

sábado, 3 de novembro de 2007

momento recife



passo mal. devendra é muito recife mas eu vou mesmo assim. e a performance do hippie dançandinho/comendo pêra/sendo hippie no meio do palco é melhor que a britney no vma.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

something's gone awry

i am going to write a play about the breakup of a marriage, and at the end of the play i am going to have a character say what people should say to each other in real life at the end of a marriage 'i'm sorry. you, being human, need a hundred affectionate and like-minded companions. i'm only one person. i've tried, but i could never be a hundred people to you. you've tried, but you could never be a hundred people to me. too bad. good-bye.'

vonnegut né minha gente.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Forum das Letras de Ouro Preto

Antes de mais nada, não chamem de FLOP. O pessoal da assessoria de impressa fica puto.

Parece que essa é a terceira edição, e vem algumas coisas bem atraentes. Acho uma boa opção pro feriado, primeiro por ser em Ouro Preto, uma cidade bonitinha e fria com muitas pousadas, hoteis e restaurantes legais, além de festinhas divertidas e pessoas interessantes; Segundo por que a programação desse ano de fato oferece algumas mesas interessantes. Até agora o que mais me chamou atenção foi um forum chamado: "O ensaio com recursos ficcionais: como tornar literário um personagem real?" A moça que o apresenta se chama Laure Adler, e acabou de lançar um livro sobre a vida da Hannah Arendt. Ta certo que deviam ter convidado o Newton Bignotto pra debater com ela, ou então essa moça que também vai estar no forum, chamada Hebe Rola (nunca tinha ouvido falar, mas achei o nome engraçadíssimo).

Eu vou deixar pra criticar depois do evento. Positiva ou negativamente. No o momento eu só queria mesmo fazer propaganda e convidar os leitores e autores do Blog pra um rolé legal.

Forum das Letras


Assessoria de Imprensa:
ETC Comunicação Empresarial - Jihan Kazzaz
(31) 3372-5257 / (31) 9194-5966 - etc@etccomunicacao.com.br

terça-feira, 23 de outubro de 2007

mais incrível que porcos que brilham



eu acho pelo menos.

então.

eu tinha escrito um post ENORME falando de como eu fiquei feliz de ter achado essas músicas e como eu sou devota do jeff buckley e como existem músicas que mudam a vida da gente e blablabla. mas eu apaguei o post enorme, desnecessário. quem quiser, baixe, quem não quiser, não o faça. ah, isso é uma demo tape que um cara achou no lixo. fim

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

este texto não e sobre tropa de elite.

Desde o começo do semestre eu fiquei ouvindo falar sobre "Tropa de Elite". A princípio eu não queria ver, pensava: "mais um 'Cidade de Deus', ou pior, 'Carandiru', eca, to fora!". Mas as conversas sobre o filme foram se tornando mais e mais freqüentes, e-mails circulando, matérias nas TVs e nos jornais, posts em blogs (shshsh), manifestações contra e a favor, não consegui ficar de fora. Vi o maldito filme.

A última vez que vi tamanha comoção foi quando estreou "Paixão de Cristo". Ora, lembro até do nosso Leão de Judá paranaense, Inri Cristo, indo até o programa do Ratinho pra avisar ao Brasil que o filme era meio exagerado, que Ele não havia sofrido tanto. Ah, e aproveitou pra dizer que sinuca é um ótimo esporte, exercita o corpo e a mente.

Pois bem, assim como na época do filme do Gibson, eu pensava em ver película e depois comentar num blog, deixando meus dois centavos sobre o assunto. Só que na época o blog era o Pedante, e hoje é o Corona... O tempo muda as coisas, sim...

Pois bem, assim como na época do Pedante, mudei de idéia e resolvi não dizer nada. Já existem muitos textos por aí, na net e fora dela, sobre o assunto. Tem o do Barbi aí em baixo que tá bem legal, acho que o mundo não precisa de mais tinta sobre esse filme que nem é tão violento, nem tão revoltante, nem tão ruim, nem tão bom assim.

Preferia pensar sobre como surgem fenômenos como esses filmes, como a ovelha Dolly, como os Jogos Pan-Americanos no Rio, como a Katilce... Como é que certas coisas de uma hora pra outra viram conversa obrigatória em tudo quanto é canto, ao passo que outras coisas muito similares passam completamente despercebidas: filmes possivelmente mais polêmicos, descobertas científicas espantosas (como os porcos que brilham, ou bactérias marcianas), Copa América, ou outras cobaias mais engraçadas da internet.

Não adianta vir falar que é a Rede Globo e blábláblá, Tropa de Elite e Katilce, p. ex., tiveram pouco ou nada a ver com a grande mídia. São fenômenos comunicativos muito mais complexos, ao meu ver bem distantes do modelo audiência-inocente-é-manipulada-pelo-capitalismo-todo-poderoso. São modos de expansão das palavras e das idéias pela imitação e diferenciação no tète-à-tète, boca-a-boca ou peer-to-peer que parecem escapar de qualquer forma de explicação lógica. A não ser via teoria do caos. Tipo metereologia: se um bater de asas de borboleta no Sudão provoca uma tempestade na China, talvez uma conversa num boteco da Afonso Pena possa ocasionar uma avalanche de scraps num myspace gringo que nenhum brasileiro jamais visitou.

Bueno, não vou conseguir desenvolver mais o assunto. Só sei que ultimamente ando com mais vontade de escrever sobre assuntos potencialmente polêmicos que não estão sendo discutidos por aí do que sobre assuntos em ebulição. Deve ser medo/preguiça de entrar em qualquer tipo de discussão séria.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

you know there's dog people and cat people

- eu acho que eu não consegui me concentrar realmente em alguma coisa desde então percebi isso hoje
- e você acha isso muito ruim?
- um pouco. acho ruim ficar desmotivada sabe quando é pra fazer as coisas que eu gosto, que eu acho importante sei lá. acho que eu não sei mais olhar pras coisas direito
- mas é preguiça ou medo, algum tipo de medo sei lá
- preguiça&medo
- eu sempre falo as coisas mais erradas sempre o tempo todo
- acho que você ta sendo injusta. possivelmente você fala as coisas certas... só que pras pessoas erradas.
- sei lá se existe alguma justificativa pra essa incompetência eu que devia saber dela
- se te conforta um pouco, eu faço a mesma coisa. tipo, todo dia. com alguém.
- eu sei
- eu
- eu gostei desse ‘eu’. pareceu uma pausa. algo que eu por acaso eu faço muito bem.
- sim, você faz.
- eu faço umas coisas... onde eu penso que eu sei exatamente o que você está falando mas na verdade eu não sei, eu só suspeito. e eu não pergunto pra você, sobrariam palavras né? seria muito.
- eu sei que você faz e eu não explico pela mesma razão.
- isso é estranho. a gente é estranho.
- eu não devia me esforçar tanto e querer tanto entender as pessoas. ISSO é muito assustador. me deixa enjoada às vezes
- quer saber de uma coisa? eu tenho meio medo de toque. sabe, contato físico e tal. de certa forma.
- eu sei
- é?
- aquele dia em que a gente tava voltando. eu estava tão cansada e você estava dormindo encostado na janela e eu queria muito deitar no seu colo e dormir mas eu não deitei por isso
- você poderia ter deitado.
- sim, eu poderia
- vou deixar mais claro. eu me assusto com pessoas que eu não conheço encostando em mim.
- eu gosto do toque
- ou pessoas que eu conheço e não gosto muito.
- eu adoro eu gosto até quando eu entrego dinheiro à alguém sei lá pagando qualquer coisa e sem querer as mãos se encostam. nem me importa quem é
- eu detesto encostar em alguém que eu desprezo.
- sim
- sabe quando você vai entregar o copo à alguém e a pessoa pega o copo e te toca?
- hum?
- os dedos da pessoa vão se sobrepor aos seus e você tem que tomar cuidado e ter certeza que a pessoa está segurando firme antes de soltar senão o copo vai cair?
- você é engraçado
- isso acontece comigo mais do que deveria. e também não gosto quando a minha mãe vai me passar o telefone e acontece isso.
- agora tá pesado
- nem é porque eu não gosto dela.
- a minha mãe estraga as coisas um pouco pra mim também
- eu tenho medo de acabar igual a ela.
- eu tenho medo da diferença.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Por que as coisas são o que são

É bizarro. Existe toda uma pressão social clamando por mudanças. Tudo precisa mudar: o governo, a moral, a sociedade e até mesmo os porcos, e as vezes a gente sente que não está fazendo a nossa parte. Eu não faço grandes revoluções, eu não falo mais sobre grandes revoluções e as vezes eu nem sei se eu quero mesmo que aconteça uma grande revolução.
As vezes eu tenho a nítida impressão que quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam exatamente iguais eram antes. Acho que o mundo sempre foi cheio de jovens cabeludos e barulhentos e de velhos gordos e resignados. É claro que também existem velhos cabeludos e barulhentos, assim como jovens gordos e resignados, mas em geral é ao contrário.


[des]caminhos para todos os lados. não adianta olhar pra trás. lagrimas são sempre transparentes, sangue é sempre vermelho e os tons são sempre pasteis. é de bom hábito não fumar, e de mau hábito não escovar os dentes. you´re not free to decide my dear, thats just the way que as coisas são. a dor que doi, o frio que esfria, o calor que queima, a fome que mata, a pressa que corre e a pele que sente.


Acho que eu cansei de fazer barulho. Quero, no máximo, um porco que brilha no escuro.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Tropa de Elite Facts

“Ó o presunto!”

Eu tava errado. No Tropa de Elite não tem Rambo, mas sobra Jack Bauer. A ONG, os universitários, a aula de sociologia, tudo muito caricato, 0 ou 1, mas é a visão dos PMs sobre a realidade. É legal humanizar os caras, sentar o dedo na ferida de todo maconheiro e ainda pagar lição de moral pra sociedade em geral. Mas fala aí, é isso? Quem aplaudiu as atitudes dos policiais tem problema - na cabeça ou no cólon. Porque tudo isso aí em cima tá bem pequeno em relação ao que o filme esfrega na cara de todo mundo: pro cara virar PM de verdade tem que meter tapa e saco plástico na mulher do traficante, querer enfiar cabo de vassoura no c* de vapor ou executar nego com um tiro de dozão na cara.

É, os caras fazem isso pra eu e você dormirmos em paz.

Será? Um dia, o fogo cruzado vai chegar até aí na sua porta. Se é que já não tá.

Eu fui no lançamento do Elite da Tropa aqui em Belo Horizonte. Os caras falaram por alguns minutos de como foi escrever o livro e da experiência de servir no BOPE. Um deles, por sinal o que saiu, não acredita mais na PM do Rio e acha que ela tem que ser extinta.

“Essa é da boa. Safra Roche® legítima de 1998.”

Usuário financia o tráfico, é fato. Então galera eu tenho a solução perfeita pra consciência de vocês e é mais tranquila do que legalizar, como sugere o Bressane: financiem a indústria farmacêutica. Ao invés de irem ao morro buscar um pó ou um brau, corram na farmácia e peçam uma tarja vermelha ou preta. Vai de ritalina? Vai de diazepam? Codeína? Benflogin? Se você for da paz tem um prozac esperto também. E se quiser efedrina é só dar um pulinho na loja de suplemento pra maromba. Qualquer uma te vende um potão por cinquentinha.

As drogas estão por aí desde os primórdios, e não vão sumir nem quando matarem todos os traficantes. O ser humano precisa delas. Lícitas ou ilícitas. Medicinais ou recreativas. A proibição é cultural, é política, é uma desculpa pra cambada ganhar votos prometendo o que não pode cumprir e ignorar o problema monumental de saúde causado pela dependência química - sejam da farmácia ou do morro. Em tempo: o Brasil já lidera o ranking no consumo de anfetaminas. Antes isso, ao menos todo mundo vai ficar magrinho.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

sem adjetivos.

[...]
- E você cara, o que você anda ouvindo?
- Olha, essa semana eu redescobri aquela banda, The Replacements. Tenho ouvido bastante a coletânea deles. Sabe qual é?
- Não, nunca ouvi falar neles não. Como é?
- Sei lá, é rock.
- Mas que tipo de rock?
- Acho que é só rock mesmo, normal.
- Só rock?
- É. Nada muito além disso, nada muito inovador...
- Como assim?
- Rock and Roll, oras.
- Ah, tipo rock and roll antigo, assim, anos 50?
- Não, não. É dos anos 80 a banda.
- Ah, tá, então é rock anos 80.
- Depende do que você estiver chamando de rock anos 80...
- É, rock anos 80 é bem amplo, tem new wave, pós-punk, hardcore oldschool, no-wave...
- Com certeza Replacements não é nada disso aí. É só rock mesmo.
- Então é tipo Pixies, Sonic Youth, Jesus and Mary Chain, tipo primórdios do indie.
- Também não sei se eu chamaria de indie não, viu...
- Não é indie, não é nada? Que tipo de rock que é afinal, pô? Punk Rock? Hard Rock? Rock experimental? Rock de garagem? Rock-a-Billy?
- Cara, eu realmente não conseguiria enquadrar em nenhum subtipo do rock. Pra mim é só rock
- Só rock?
- É, só rock. Sem adjetivos.
- Sem adjetivos? Deve ser uma bosta.

Acho que as pessoas se esqueceram de como se faz rock and roll

Pigs Butterflies

Pensando bem, é melhor dizer "cerveja, acabou o amor" do que "amor, acabou a vodka".

O amor não acaba. Ele só muda de endereço.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Frito

Do pináculo da mais alta complexidade do universo tudo pode ser visto com clareza. Uma clareza que revelava um futuro permeado por um mau agouro. O bater das asas de uma borboleta não vai causar um furacão, mas até o mais insignificante dos seres vivos consegue desencadear uma tragédia nesse mundo de infinitos blocos em cima de blocos. É o topo, ao menos dessa montanha. Não existe para onde ela possa crescer sem que tudo a sua volta precise desmoronar, pedaço a pedaço.

Eu estava assistindo a mim mesmo, enquanto pensava nisso. Eu pensava, acho. Talvez estivesse recebendo alguma mensagem de uma entidade superior. Ou de Deus. Talvez de ambos, já que Deus é uma entidade superior. Ou deveria ser. Mas alguma coisa que me diz que ele é pior do que eu toda vez que leio a Bíblia. Claro, se existe algo maior que nós, ele provavelmente não pensa como um bando de profetas do deserto em abstinência sexual.

Renata olhou pra mim. O nome dela era uma representação ou um significado? Um signo. Perdida, acho que eu conseguia ouvir o que ela pensava naquele instante. Algo sobre o meu rosto estar derretendo. Parecia tensa. Sorri e tentei dizer algo pra acalmá-la. Mas ela entendeu antes que qualquer coisa saísse da minha boca.

Tudo nunca havia parecido ser tão insignificante. O mundo cabia na minha mão. Mas eu não era maior que nada, eu só compreendia. Tudo? Talvez nada, mas sempre simultaneamente, como se as conexões mais improváveis fizessem sentido. Em ordem alfabética. Um deleite absorto tomava conta.

Naquela hora eu reinventei a mim mesmo. Como uma palavra troca de grafia e significado através do tempo. Havia chegado a minha vez, como se tudo esperasse por aquele momento. Nenhum sábio, filósofo ou cientista sabia o que se passava ali. Minha própria iluminação. Nada mais precisava ser dito. Paz. Nada mais precisava ser feito. Dentro do casulo que havia se formado, os pensamentos só abriam caminhos circulares. Um loop infinito.

Mas Renata não entendeu. Me olhou com preocupação, equivocada sobre a mim. Disse coisas que eu não ouvi, e nem queria. Apontei pra uma pedra. Queria que ela se sentasse. Coisas aconteceram, nenhuma mereceu minha atenção. Nada importava como nada importa.

O Nirvana tem paredes brancas.

sábado, 29 de setembro de 2007

- Mas você tem certeza disso?
- Tenho. Não agüento mais.
- Mas espera, pensa um pouco no assunto!
- Cansei de esperar. Passei a vida inteira esperando. É como se a minha vida fosse um ônibus e eu estivesse no ponto esperando ela chegar. Só que já está tarde e eu quero ir pra casa. Eu vou pegar um taxi.
- Eu não sei se é uma boa idéia.
- Eu estou com o saco cheio das suas malditas boas idéias. Tudo que você faz é planejar, estudar, analisar. Olha pra sua bunda. Ela é mole e grande, porque você nunca sai do lugar, está sempre em alguma cadeira: no escritório, na escola, no carro, no bar. Você fica me prendendo aqui com suas idéias.
- Não precisa falar assim.
- Não. Desculpa. Não preciso mesmo. Eu não preciso de nada. Eu só preciso sair daqui. Eu preciso sair daqui.
- Me manda um scrap?
- Vai tomar no cu.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Recortes no papel furado

dormente. e mente muito.

falando em mentiras, são falsos os hai kais abaixo.

fuga
um momento certo
um amor que da pavor
vou chegar mais perto

morte
um homem azul
um rosto no corpo morto
(o que diabos rima com azul?)

livro
uma folha aberta
assassinato no segundo ato
acaba minha festa

não é preciso que se entenda. poemas não são precisos. não se entende o poema, só se entende o poeta, e eu não sou poeta. sou sujo, escuro, frio e cheio de segredos que me sangram a pele. sou poema.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

e toda vez que eu acendo o cigarro meu ônibus passa

e aí eu disse pra ele 'meu bem, você está bem melhor que eu pensa só eu que ando pegando sempre os ônibus errados e ônibus errados levam a paradas erradas e paradas erradas levam a pessoas erradas e pessoas erradas... você sabe. pessoas erradas não te levam rápido a lugar nenhum.'

então ele diz pra mim. ele disse: 'você nunca está indo rápido a lugar algum.' e eu acho que ele só falou isso porque queria ter a última palavra e sabe, eu não achei que isso foi muito educado.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O Rei dos Quadrinhos

Sendo assim, vou publicar um de minha própria autoria. É só clicar na imagem para baixar o PDF.


quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ok, minha vez:

turminha do bukowski

já que a moda é, por preguiça, postar tirinhas dos outros...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Sobre a polêmica da idade


Tem que clicar, né? Na imagem? Dã.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Antes Gandhi que Datena

para ser lido em voz alta com sua imitação de carioca mais caprichada.

Traficante Carioca Malzão 1 - Aê maluco, tô querendo tocar o terror nesse feriado aê, vai tar chegando uma caralhada de gringo aê cheão da grana e vou robar geral. Vai ser seqüestro relâmpago, assalto a mão armada e furto de bolsa de geral.

Traficante Carioca Malzão 2 - Podes crê cumpadi, o bicho vai pegar mermo por aê, se alguém reagir vai ser pipoco no meio da testa e não vai sobrar testemunha pra contar a história. Eu mato mermo é de geral, sô sinistro! Quem sabe até a gente revive a moda do arrastão?

TCM1 - É isso aí. Vou vender muito tóchico também, maconha e brizola pra acabar com a família brasileira e pra todo mundo ficar doidão mermo. Aloprar geral.

TCM2 - Porra maluco isso é claro né caralho. É a venda do tóchico que nos dá mais grana pra gente comprar arma, dominar os morrão tudo e fazer poder paralelo. Aí quando sobe a pulícia a gente tem mais arsenal que eles, AR15, granada, bazuca e o teba. É guerra civil comendo solto na favela. Nem caverão me segura, maluco!

Traficante Carioca Malzão 3 - [deitado] Caraca eu to meio com mor preguição aí de tocar o terror nesse fim de semana hein? Tô achando que eu vou só fica em casa dando um dois e aplicando uns golpe aí, falso seqüestro, essas porra tudo aí, pra extorquir dinheiro da burguesia apavorada com a situação tensa que a gente criou.

TCM2 - Mas tu é vagabundo mermo hein cumpadi? Nem pra roubar de verdade tu rouba, aí. Tem que ter violência de verdade mermo, ficar nervosão e tocar o terror de geral. Num tem esse negócio de pegar leve não, porra. Tu nem aproveita que é menor e que não vai em cana pô! Num aproveita que nossas leis brasileiras permitem que criminosos perigosos escapem impunes simplesmente por serem menores de idade!

Traficante Carioca Malzão 4 - [entrando no barraco, com uma edição de O Globo nas mãos] Caraca maluco, tô bolado! Boladão mermo aê, olha aê que parada sinistra!

TCM1 - Porra, deixa eu ver essa parada aí, porra! [pega o jornal]

TCM3 - Lê aí pra mim que eu sou analfabeto, na verdade a falta de escolaridade me ajudou a ficar assim revoltado como eu sou.

TCM2 - É, eu também sou analfa.

TCM1 - [após ler demoradamente e balbuciando baixinho a reportagem] Porra maluco, que parada sistra, fiquei boladão também aíó!

TCM2&3 - [em coro] Conta aí porra!

TCM4 - É que tão organizando uma manifestação aí em Botafogo pela paz, contra a violência no Rio de Janeiro. Tão dizendo aí que o caos urbano no Rio atingiu níveis insuportáveis, que é hora de dar um basta nesta onda de violência e abraçar a causa da paz.

TCM1 - Porra é mermo, tão falando que vai dar quase umas 300 pessoas lá da zona sul pedindo paz na nossa cidade.

TCM2 - Porra maluco, tô bolado.

TCM1 - Caraca, tô achando que não vou mais tocar o terror nesse feriado não aí.

TCM2 - Pois é né? O pessoal do Leblon tá pedindo paz né? Estão cansados de tanta violência.

TCM4 - Coé, foi isso que eu vim mostar pra tu aí. O povo tá pedindo paz!

TCM2 - Sinistro mermo, o bicho tá pegando, tá todo mundo pedindo paz.

TCM3 - E será que a galera vai parar de comprar pó aqui na boca?

TCM4 - Porra, com certeza, eles estão querendo paz de verdade aí galera.

TCM1 - Pô, vou ficar na encolha então, sem violência nesse feriado.

TCM2 - É, eu também.

TCM3 - Sinistro aê, nem falso seqüestro vai rolar.

TCM4 - Tô ligado, agora é paz!

todos [em coro] - Agora é paz!

Queimado

"Sinto informar, mas o exame confirmou que o senhor tem um câncer de pulmão."

Tudo devia ter parado na hora em que o doutor Menezes me disse isso, mas não parou. Eu já sabia de tudo. Tinha uns meses que eu já tava fraco, sem conseguir comer direito. Até respirar era difícil. A velha me olhava de longe, brincava que a idade tinha chegado, me falava pra ir na farmácia comprar viagra. Mas acho que até ela sabia. Quando um homem vai morrer ele vê o fim toda hora em que olha pra um espelho. Quando pode olhar nos próprios olhos. E no espelho eu encontrava minha cara magra com os olhos já saltando um pouco pra fora. Tudo acaba, não é?

"Eu sei doutor. Quanto tempo de vida eu ainda tenho?"

Ele me olha ressabiado. Acho que é o primeiro paciente que não fica chocado quando recebe uma notícia tão ruim como essa. Vai ver que até os que chegam aqui já tão doentes como eu ainda tenham um cadinho de esperança.

"Com quimioterapia e radioterapia nós podemos..."

"Mas eu não vou ficar curado, né? Quer dizer, vou viver ligado em um monte de máquina de hospital."

Ele sabe disso. Os médicos tinham que aprender que não existe vida dentro de hospital. É que nem cemitério, só que com a gente preso no leito, vendo tudo. Cemitério é lugar de tristeza, hospital é lugar de medo. E morrer com medo é muito ruim.

"Sim, mas o senhor tem que considerar..."

Ele fala um monte de coisa, mas nem escuto. Fico pensando em assuntos mais importantes: minha velha, meus filhos, os netinhos pequenos. Em como nunca mais vou pescar, dançar, nem beber com os amigos. É ruim, mas acho que vivi bem, não preciso me arrepender de nada.

"Doutor, eu não vou querer tratamento. O que é que o senhor pode me dar pra eu tomar em casa? É lá, do lado da minha família que eu quero morrer."

Saio de lá com uma receita nas mãos. É difícil respirar, mas é como se eu tivesse uns instantes a mais cada vez que o meio peito fica cheio. Na farmácia, compro tudinho que me foi prescrito. Me olham com cara de pena. A medicação vai me tirar o sono ou o apetite? Talvez, se eu não sentir dor já está ótimo.

Ando mais um pouco e sento na praça. O mesmo banco de todo dia à tarde, pra discutir futebol e política. Mas não tem ninguém lá ainda, é menos de meio-dia e fico acompanhado dos ônibus, azuis e vermelhos, que passam pra lá e pra cá. Dos moleques de rua correndo, com a mãozinha fechada pra cheirar cola. Da polícia achando que manda em tudo. Dos ambulantes que ganham a vida pra gritar.

Fica mais fácil respirar e eu abro o maço e puxo um cigarro. Nada combina mais com esse mundo.